Por que as baterias descarregam sozinhas? Professor descobre por acaso
Mais uma da série “é raro, mas acontece com frequência”: você deixa seu notebook completamente carregado em stand-by e, quando volta, vê que ele perdeu parte da bateria. Por que isso acontece? Um professor do Canadá diz ter descoberto as causas da autodescarga das baterias de íon de lítio – e, o melhor, por acaso.
A resposta para essa questão era uma curiosidade antiga do professor Michael Metzger, do Departamento de Física e Ciências Atmosféricas da Universidade Dalhousie, no Canadá.
A primeira ideia era abrir várias baterias e colocá-las sob temperaturas diferentes. Ele acreditava que o calor externo poderia interferir na durabilidade das cargas. Mas, nesse processo, percebeu algo inesperado: viu que, no lado interno, todas as baterias guardam uma solução eletrolítica na cor vermelha.
Essa solução é o “meio de transporte” dos íons que circulam pela bateria – na prática, é ela que possibilita a condução de corrente elétrica. Como o mais comum é que a solução seja incolor, os cientistas começaram a explorar os motivos para o surgimento do tom vermelho.
O grupo decidiu colocar as baterias com solução eletrolítica nos fornos a temperaturas diferentes. Quando a 25ºC, o líquido continuou transparente. A 55ºC, ficou marrom claro. Na temperatura mais alta, a 70ºC, virou vermelho sangue.
Nas análises químicas do eletrólito, Metzger descobriu que o responsável pela coloração são as fitas de PET (tereftalato de polietileno) – sim, o plástico usado nas garrafas de refrigerante. Em uma bateria, o elemento fica nas fitas adesivas responsáveis por manter os eletrodos unidos.
É esse elemento que se decompõe na fita da solução química e, assim, cria uma molécula que faz com que as baterias descarreguem “sozinhas”.
A molécula de PET resulta do processo redox: ela viaja do lado positivo para o negativo do eletrodo sem parar, o que faz com que as baterias “continuem funcionando” mesmo quando não há atividade.
“É algo que nunca esperávamos, porque ninguém olha para esses componentes inativos, essas fitas e folhas de plástico na célula da bateria”, disse Metzger, em comunciado. “Mas realmente precisam ser considerados se você quiser limitar as reações colaterais na carga”.
Além de curiosa, essa descoberta também é comercialmente relevante: uma correção poderia criar baterias que não se descarregam sozinhas e, por isso, se tornassem mais duráveis.
“É uma coisa muito simples, está em cada garrafa de plástico e ninguém teria pensado que isso teria um impacto tão grande as células de íons de lítio se degradam”, pontuou o professor.