Qual é o animal mais imundo?
Desde o século 19, quando as doenças foram ligadas pela primeira vez à água contaminada por esgoto, os humanos se esforçaram muito em se afastar da imundice. Enquanto isso, os animais continuam chafurdando nas fezes – comendo ela, estrategicamente a deixando por aí, a arremessando só pra passar o tempo, etc. O mesmo acontece com lama, urina, vômito, sangue e carcaças em putrefação de todos os tipos. A maioria das criaturas simplesmente não tem a nossa educação.
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Mesmo assim, existem graus. Um cachorro pulguento, fedendo a fezes, pode ficar enojado com alguns dos comportamentos mais grotescos do reino animal. Para esse Giz Pergunta, nós procuramos os piores – criaturas que, da nossa perspectiva fresca e melindrosa, são absolutamente as mais imundas.
Os especialistas em animais com quem falamos providenciaram uma diversidade de competidores. O mais citado foi o besouro de esterco, porém houve grande divergência. De qualquer jeito, eles são nojentos o suficiente para levar o título.
Dave Gammon
Professor associado de biologia, Elon University
Todo mundo sabe que os abutres são carniceiros, que eles se alimentam de carcaças. O que é incrível, no entanto, são algumas das adaptações que eles desenvolveram para esse fim.
As carcaças podem ficar largadas por muito tempo antes que os abutres cheguem até elas – e uma carcaça em decomposição atrairá muitas toxinas. Mas os abutres têm maneiras de combater tudo isso: seu ácido no estômago é tão corrosivo que eles podem digerir coisas que fariam os outros carniceiros morrerem. Por exemplo, abutres podem facilmente consumir uma carcaça que tenha antrax ou cólera.
Quando eles chegam à carcaça, eles comem tanto que o seu papo incha com a carne podre que estão comendo. E se eles se assustam com um predador enquanto estão cheios, eles precisam vomitar uma parte dos alimentos para poderem voar.
Se isso não for suficiente, eles urinam neles mesmos. E isso também acaba sendo uma função adaptativa – nós, seres humanos, não seríamos capazes de nos identificar com isso, mas se você andasse no meio de um monte de carcaças, suas pernas estariam cobertas de bactérias, o tipo de micróbio que decompõe a carcaça. Urinando nas pernas, eles estão ajudando a matar as bactérias que os atingem –é um mecanismo de defesa para eles.
Pensamos em aves como criaturas com penas, mas os abutres não têm penas na cabeça e no pescoço. E se você não tiver plumas na cabeça, isso permite que você enfie a cabeça na carcaça e seja menos provável que tenha todos os pedaços de sangue e gosma grudados em você e fique andando com eles por aí o dia inteiro. Então talvez eles se importem um pouco com a limpeza.
Dr. Jason Bruck
Professor Assistente de biologia integrativa, Oklahoma State University
Como cientista, acho errado supor que qualquer animal seja imundo, pois é inadequado atribuir nossos próprios valores a não-humanos.
Dito isto, as girafas são um bando de animais nojentos e imundos. Para avaliar onde a fêmea está em seu ciclo reprodutivo, uma girafa macho se curva, coloca a cabeça entre as pernas traseiras de uma fêmea e suga enquanto ela urina em seu rosto.
Depois de coletar uma quantidade razoável, o macho enrola o lábio superior, expõe seus dentes da frente e inspira profundamente para permitir que esses odores de fertilidade estimulem uma estrutura sensorial especializada chamada órgão de Jacobson (ou órgão vomeronasal). Isto é conhecido como reflexo Flehmen, e a maioria dos animais com cascos executam alguma variação disso junto com os porcos-espinhos, pandas e grandes felinos como leões e tigres (embora nem todos façam isso com urina).
Você pode até observar o seu gato levantar os lábios de maneira estranha quando parece estar cheirando algo intensamente. Anne Innis Dagg e J. Bristol Foster checaram essa informação em um dossiê intitulado A Girafa: Biologia, Comportamento e Ecologia de 1976. Desde então, vários relatos dessa conduta nojenta em girafas foram verificados por milhares de visitantes de zoológicos anualmente.
Lixing Sun
Professor de biologia Central Washington University
Depende do que entendemos por “mais imundo”. Em termos de, por exemplo, transmissão de doenças, seriam os mosquitos. Várias espécies de mosquitos transmitem a malária, que mata mais de um milhão de pessoas por ano. As moscas tsé-tsé, na África, causam a doença do sono. As tênias podem viver no intestino delgado dos seres humanos e podem atingir até um metro e meio. Às vezes, essas tênias se enraízam embaixo da pele das pessoas. Uma pessoa infectada pode ver a sua tênia se contorcendo lá embaixo.
Em termos de hábito temos os besouros-do-esterco. Cães selvagens podem ser muito sujos. Algumas espécies de peixes são viscosas, como os mixiny e as lampreias. E como as preguiças são tão lentas, parasitas – e até mesmo mariposas – crescem em seus pelos.
Os hipopótamos também podem ser muito sujos -os hipopótamos vivem nos rios durante a estação seca na África. Os rios secam, então eles ficam no meio da lama. A pele dos hipopótamos é porosa – o que significa que eles precisam de água para manter a pele úmida- então eles vivem praticamente afundandos na lama o dia todo. Eles também têm o hábito de destroçar as suas fezes – enquanto defecam, usam suas caudas para espalhar as fezes para marcar seu território.
Matt Jones
Doutorando, entomologia (especialidade da biologia que estuda insetos), Washington State University
Certamente os animais mais imundos devem ser besouros-do-esterco. Eles passam a vida adulta em busca de fezes frescas. Quando a encontram, absorvem o efluente líquido, que contém microrganismos nutritivos que os besouros conseguem digerir. Depois de conseguir um estoque de esterco, os besouros acasalam e as fêmeas põem ovos nas fezes. O ciclo continua com as larvas da próxima geração se desenvolvendo dentro das fezes.
Besouro de esterco. Crédito: Pixabay
A evolução e ecologia desses organismos são fenomenais; alguns se especializam em encontrar e consumir fezes incrivelmente específicas (como de uma espécie específica de tartaruga), enquanto outros são menos seletivos e se alimentam de uma variedade de alimentos desagradáveis semelhantes a fezes, como carne putrefata e matéria vegetal. Besouros-do-esterco vivem em todo o mundo, em todos os continentes, exceto na Antártida.
Por mais nojento que possam parecer para algumas pessoas, é importante reconhecer que os escaravelhos são super importantes para muitos ecossistemas saudáveis.
É amplamente entendido que os besouros-do-esterco desempenham papéis importantes no funcionamento saudável dos ecossistemas, fornecendo serviços como a reciclagem de nutrientes de volta ao solo, melhorando a estrutura do solo, reduzindo os gases de efeito estufa e limitando as populações de moscas que se reproduzem no estrume ao competir por seu uso.
Além disso, acabamos de lançar um artigo mostrando que os besouros-do-esterco são críticos na supressão natural de patógenos humanos que vêm dos alimentos. Nossa pesquisa sugere que a agricultura orgânica ajuda a facilitar a população de besouros o que pode reduzir os níveis de E. coli patogênica em fazendas de vegetais. Estamos empolgados em ter descoberto outra ferramenta para ajudar os agricultores a reduzir esse risco persistente de segurança alimentar.
Resumindo, besouros são os melhores em fazer um trabalho ridiculamente sujo que muitas vezes ignoramos. Ao passar suas vidas processando fezes, elas contribuem em muito para ecossistemas mais saudáveis.
Karin S. Pfennig
Professor associado de biologia, University of North Carolina
Eu acho que depende do que você quer dizer por imundo – muitos animais são imundos no sentido simplesmente “sujo” da palavra. Para mim, o animal que se encaixa no sentido “nojento” do significado da palavra são as vespas parasitas.
As vespas parasitas colocam seus ovos em outros insetos hospedeiros. Cada espécie é tipicamente especializada em uma espécie hospedeira, e frequentemente depositam seus ovos no estágio larval do hospedeiro.
A cria da vespa se desenvolve dentro do hospedeiro e come o hospedeiro vivo. Se o hospedeiro deles for uma lagarta, eles podem até mesmo impedir que ela se desenvolva até a forma adulta, para mantê-la como uma fonte de alimento. Depois de devorar o hospedeiro, elas acabam matando o anfitrião o explodindo de dentro para fora como um filme de alienígenas. Bem nojento.
Ruth M. Colwill
Professor de ciências cognitivas, linguísticas e psicológicas na Brown University
Os humanos! Nós poluímos os céus noturnos com luz que desorienta as tartarugas marinhas e as aves migratórias, envia milhares de mariposas em uma espiral que termina na morte por exaustão e altera os ciclos de nascimento dos Macropus eugenii (espécie de marsupial australiano).
Nós poluímos nossas cidades e oceanos com o barulho que altera a comunicação dos pássaros e interrompe a navegação dos cetáceos, e nossos campos com ruídos recreativos e atividades que estressam a vida selvagem local. Os poluentes mais conhecidos, talvez, são os produtos químicos endócrino desreguladores que fabricamos, que são onipresentes no meio ambiente e suspeitos de causar anomalias comportamentais em anfíbios, aves, peixes e mamíferos, além do afinamento da casca de aves e emasculação de jacarés e gaivotas.
E em apenas algumas décadas, poluímos nossos oceanos com lixo plástico proveniente principalmente pela indústria de bebidas e supermercados. Este plástico não é biodegradável; em vez disso, fragmenta-se em pequenos pedaços que absorvem toxinas da água.
Esses microplásticos contaminados entram na cadeia alimentar através das bocas do minúsculo zooplâncton. O problema é tão ruim que os frutos do mar do oceano não podem mais ser rotulados como orgânicos. De um terço a metade das espécies de aves marinhas consomem plástico ou os dão de alimento para os jovens em crescimento, enchendo seus estômagos com alimentos indigestos que acabam os matando de fome.
A terrível imagem de um pássaro com o estômago cheio de plástico, 175 pedaços para ser exato, aponta que o animal mais imundo do reino animal é o maior poluidor do planeta.