Um estudo da Universidade Harvard, nos EUA, mostra que a polinização inadequada de animais silvestres prejudicou de 3% a 5% a produção de frutas, vegetais e castanhas. Os resultados da pesquisa foram publicados na quarta-feira (14) na revista Environmental Health Perspectives.
Como consequência da queda na polinização, o consumo humano de alimentos saudáveis retrocedeu, o que impulsionou doenças como cardiopatias, derrames, diabetes e câncer. Juntas, essas patologias causam a morte de 427 mil pessoas no mundo todos os anos.
“A pesquisa estabelece que a perda de polinizadores já afeta a saúde em escala com outros fatores de risco globais, como câncer de próstata e transtornos por uso de substâncias”, disse Samuel Myers, o principal autor do estudo.
Este é o primeiro estudo a quantificar os efeitos da falta de polinizadores selvagens na saúde humana. Essas espécies são cruciais para aumentar a produção de três quartos das culturas essenciais para o cultivo de alimentos saudáveis no mundo, como frutas e vegetais.
Mas especialistas alertam para o declínio de até 2% da população desses insetos todos os anos. O motivo: uso de pesticidas, avanço das mudanças climáticas e modificações no uso da terra.
Na pesquisa, a equipe incluiu evidências empíricas em fazendas experimentais da Ásia, África, Europa e América Latina. Ali foi possível verificar a lacuna deixada nas culturas que dependem desses insetos por causa da polinização insuficiente.
A partir disso, os pesquisadores usaram um modelo global de risco/doença para estimar os impactos na saúde nos locais mais afetados. Essa régua analisava os riscos alimentares e a mortalidade por país.
Diferenças geográficas
Os resultados mostraram que a maior concentração de perda de alimentos por causa da baixa polinização está nos países de baixa renda. Essas nações perderam de 10% a 30% da renda agrícola total devido a polinização insuficiente.
Enquanto isso, países de renda média e de populações maiores, como China, Índia, Indonésia e Rússia, sentiram o maior impacto nos sistemas de saúde.
A distribuição geográfica surpreendeu os especialistas. A hipótese inicial era que os efeitos da mudança ambiental global se concentravam nas populações mais pobres do sul da Ásia e África Subsaariana.
“Os resultados podem parecer surpreendentes, mas refletem a complexa dinâmica dos fatores por trás dos sistemas alimentares e das populações humanas em todo o mundo”, disse Timothy Sulser, consultor do International Food Policy Research Institute e coautor do estudo.
A pesquisa enfatiza a urgência em desenvolver estratégias para proteger polinizadores silvestres – não apenas para o bem do meio-ambiente, mas também para a saúde e economia dos países.
“Fazer muito pouco para ajudar os polinizadores não prejudica apenas a natureza, mas também a saúde humana”, pontuou Matthew Smith, cientista pesquisador do Departamento de Saúde Ambiental.