Quem lacra lucra sim: e a Marvel provou isso mais uma vez com Shang-Chi
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis estreou neste mês e se tornou um sucesso de bilheteria, o primeiro longa do Universo Cinematográfico Marvel (MCU) que volta exclusivamente aos cinemas após Viúva Negra ter sido lançado tanto nas telonas quanto pelo Premier Access do Disney+. Logo no primeiro final de semana, o filme arrecadou US$ 94 milhões nos Estados Unidos e R$ 9,5 milhões no Brasil.
Com o resultado melhor que o esperado, a Marvel mostrou como as pessoas vão aos cinemas para assistir a colossal franquia de super-heróis mesmo com a pandemia não dando trégua com variante Delta. Mas, mostrou, principalmente, que o público quer ver mais diversidade em produções dessa temática. E felizmente a Marvel está aprendendo com isso.
Diversidade como super poder
O lançamento é o primeiro filme da Marvel a ter um super-herói e elenco asiático, carregado com a mitologia chinesa e a influência dos longas de artes marciais, subgênero que fez sucesso entre os anos 70 e 80 protagonizados por Bruce Lee e Jack Chan – tanto que Shang-Chi tem a atriz Michelle Yeoh, de O Tigre e o Dragão.
Simu Liu, intérprete do herói-título, publicou no Instagram ressaltando a importância da representatividade no longa. “O sol nasceu hoje para um mundo onde super-heróis asiáticos existem como protagonistas de suas histórias”.
Esse não é o primeiro filme em que a Marvel está investindo em personagens não-brancos. A partir da terceira fase do MCU, em 2018, fomos apresentados a Pantera Negra com a brilhante atuação do falecido Chadwick Boseman como T’Challa, os conflitos heroicos com a cultura africana rendendo recordes de bilheteria e sendo indicado na categoria Melhor Filme no Oscar.
A Marvel percebeu ali como era lucrativo trazer populações minorizadas como protagonistas em produções que as mostram como pessoas poderosas. E isso une o útil ao agradável: tanto Pantera Negra, Capitã Marvel (o primeiro filme de uma protagonista mulher na produtora) e as produções da DC como Mulher-Maravilha têm conquistado altas receitas, críticas positivas e novos públicos sendo atiçados por esses conteúdos.
E se as bilheterias já dizem, os estudos confirmam. Um relatório do Center for Scholars & Storytellers da UCLA analisou cem filmes lançados entre 2016 e 2019 e concluiu que, os estúdios podem perder até US$ 130 milhões por filme que pecarem em diversidade no elenco. Ou seja, apresentar diversidade vai além de enriquecer as narrativas, mas de lucrar e ter rendimento nas produções.
Luta fora das telas
Engana-se quem acredita que essa nova leva de protagonistas diversificados vieram da boa vontade dos que estão no topo da liderança das empresas do entretenimento. A arte dialoga com a vida e, na última década, o ocidente foi protagonista de fortes episódios que marcaram a sociedade com debates sociais denunciando preconceitos contra raça e gênero.
No cinema, houveram os casos que marcaram a indústria como o Movimento #MeToo que levou às acusações de abuso sexual contra o produtor Harvey Weinstein, que ainda hoje ecoam nos noticiários.
Além disso, a imprensa e famosos apontavam a falta de representatividade de negros indicados ao Oscar nos últimos anos levantando a #OscarsSoWhite. Em 2020, Parasita (longa sul-coreano que ganhou como Melhor Filme) levantou o questionamento de até quando filmes estrangeiros terão o reconhecimento que merecem.
Como forma de aumentar a diversidade, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood tem anunciado novos nomes para participar da votação do Oscar.
O futuro das produções (e os passo que faltam dar)
Entretanto, há ainda um longo caminho para percorrer. Estamos no começo dessa revolução do entretenimento com a representatividade. Por mais que estejamos vendo uma faísca de heróis e vilões femininas e/ou não-brancos, a comunidade LGBTQIA+ ainda carece de um herói/heroína para chamar de seu.
Mesmo com Loki assumindo timidamente sua bissexualidade e ser gênero fluído, muitos fãs criticam a Disney e a Marvel por não apresentar, de forma categórica, um herói ou protagonista da comunidade.
Apesar da gigante já ter anunciado que teriam representações em filmes como Vingadores e Star Wars, todos os papéis LGBTQIA+ até agora foram resumidos a cenas curtas em papéis de figurantes, sendo até taxado de queerbating.
No MCU, a nova fase está chegando com maior inclusão como Os Eternos (com grande elenco diversificado dirigido por Chloe Zhao, primeira mulher não-branca a vencer como Melhor Filme no Oscar de 2021), Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (que trará enfoque nas mulheres de Wakanda).
The Marvels apresentará Capitã Marvel protagonizando ao lado de Kamala Khan e Monica Rambeau e será dirigido pela Nia DaCosta – não só a primeira diretora negra a dirigir um filme da Marvel, como recentemente foi também a primeira a ter um filme liderando nas bilheterias com A Lenda de Candyman.
Mesmo com outros títulos já conhecidos também recebendo uma continuação, temos diferenças grandes em Thor: Love and Thunder , que contará com Natalie Portman como uma possível nova heroína. E Homem-Formiga, que divide o título com Vespa em Quantumania.
A passos tímidos, talvez a Marvel e a Disney ainda nos surpreenderá mais com as novas produções que estão vindo por aí.