Embora o Tratado do Espaço Sideral proíba o uso de armas no espaço, isso não impediu que a então União Soviética fizesse o primeiro disparo — e único que se tem notícia, até hoje — de um canhão em órbita.
Como destaca o britânico Express, a arma foi instalada na estação espacial Salyut-3 e testada com sucesso no dia 24 de janeiro de 1975. Porém, o uso desse canhão espacial ficou em segredo por mais de 40 anos.
A arma soviética foi uma resposta a um projeto da Força Aérea dos Estados Unidos, da década de 1960, que pretendia lançar o “Laboratório Orbital Tripulado” (MOL, na sigla em inglês). A ideia era utilizar uma estação espacial para realizar vigilância orbital, além de cumprir operações militares. O projeto americano foi cancelado em 1969, mas isso não fez os soviéticos desistirem da ideia de colocar em órbita estações militares com armas defensivas.
Ao todo, a União Soviética lançou ao espaço sete estações espaciais dentro do programa Salyut, ao longo da década de 1970. Mas acredita-se que pelo menos três delas tinham intenções militares.
No caso da Salyut-3 – lançada em junho de 1974 –, a estação recebeu secretamente o nome “Almaz” (“Diamante” em russo) e foi equipada com uma versão modificada do Rikhter R-23. A arma era parecida com um revólver e foi desenvolvida no final da década de 1950, sendo usada como um canhão automático para aeronaves.
No total, a estação espacial passou sete meses em órbita, chegando a receber a tripulação da Soyuz-14, durante 15 dias. Já a nave Soyuz-15 enfrentou problemas ao tentar se acoplar à estação, incluindo uma quase colisão, algo que foi negado pelas autoridades soviéticas na época. Diante da falha do sistema de acoplagem, os soviéticos decidiram trazer a nave tripulada de volta à Terra e destruir a Salyut-3, fazendo-a cair e queimar na atmosfera.
O teste do canhão no espaço
A arma — batizada de R-23M Kartech — tinha capacidade de fazer disparos rápidos de projéteis de 14,5 milímetros que poderiam atingir alvos a até 3,2 km de distância. De acordo com o site Interesting Engineering, estima-se que o canhão poderia disparar de 950 a 5.000 tiros por minuto, lançando projéteis de 200 gramas a uma velocidade de 690 metros por segundo.
Apesar de conseguir bons resultados em solo, disparar uma arma no espaço envolve uma série de variáveis e problemas em potencial. A primeira delas é que o canhão tinha um campo de tiro limitado, o que significava que a estação espacial inteira precisaria manobrar para mirar em um determinado alvo. Além disso, a estação precisaria ativar os propulsores simultaneamente com o canhão, para evitar o recuo da arma.
Diante das incertezas sobre o que a arma poderia provocar na Salyut-3, o teste do canhão foi conduzido apenas quando a estação espacial estava desabitada. Além disso, o disparo acontece horas antes da destruição da estação, para camuflar o teste militar. Segundo fontes, o canhão disparou de uma a três rajadas de 20 projéteis no total, com todos eles queimando na atmosfera da Terra.
Acredita-se que os serviços de inteligência dos Estados Unidos da época tinham conhecimento sobre as estações espaciais militares soviéticas.
Meses após o teste do canhão espacial, os Estados Unidos e a União Soviética declararam o fim oficial da corrida espacial. Apesar de estarem no auge da Guerra Fria, norte-americanos e soviéticos fizeram uma missão espacial simbólica de cooperação, quando as espaçonaves Apollo 18 e Soyuz 19 acoplaram no espaço, no dia 17 de julho de 1975.