Reator de fusão nuclear bate recorde mundial de geração de energia
Um reator de fusão nuclear de 40 anos bateu o recorde de geração de energia, pouco antes de ser desativado no Reino Unido. Com isso, é possível dizer que a humanidade está um passo mais perto de desenvolver energia limpa, baseada nas reações químicas que acontecem nas estrelas.
Os pesquisadores do Joint European Torus (JET) — laboratório de pesquisa nuclear do Culham Centre for Fusion Energy, em Oxfordshire, no Reino Unido — geraram 69 megajoules de energia durante cinco segundos. No processo, eles utilizaram somente 0,2 miligramas de combustível, marcando o novo recorde.
Essa energia equivale a 12,5 megawatts — potência suficiente para abastecer 12 mil casas. A informação foi compartilhada por Mikhail Maslov, da Agência de Energia Atômica do Reino Unido (UKAEA), em uma coletiva de imprensa, na última quinta-feira (8).
O recorde anterior de geração de energia aconteceu em 2021, no mesmo reator de fusão do Reino Unido. Na época, os pesquisadores do JET produziram 59 megajoules de energia nuclear durante cinco segundos.
Como funciona a fusão nuclear
As usinas nucleares de hoje em dia costumam gerar energia por meio de fissões nucleares, as quais destroem átomos para liberar energia, gerando resíduos radioativos. A fusão nuclear, no entanto, comprime partículas menores de elementos diferentes para gerar átomos novos e maiores.
A fusão pode criar mais energia que a fissão, sem gerar resíduos indesejados. Porém, o procedimento é complexo e muito caro para acontecer em larga escala nas usinas.
No experimento, o JET fundiu, em plasma, átomos de deutério e trítio — dois isótopos estáveis do hidrogênio. Assim, foi possível criar átomos de hélio e liberar uma grande quantidade de energia, ao mesmo tempo. Essa reação, aliás, acontece no Sol e gera o calor que aquece a Terra.
A geração de energia aconteceu em um dos maiores reatores do JET, conhecido como “tokamak”. Ele armazena plasma e gases ionizados em estruturas redondas e vazadas no centro — como rosquinhas — por meio de anéis eletromagnéticos, segundo a revista NewScientist.
Para realizar a fusão nuclear, o reator aquece o material interno a 150 milhões de graus celcius — temperatura cerca de 10 vezes mais quente que o núcleo do Sol. As estrelas realizam a mesma reação, mas não precisam de temperaturas tão altas, já que a gravidade é forte o bastante para fundir os átomos.
Energia verde e sustentável pode estar próxima
Se os cientistas provarem ser viável produzir energia de fusão nuclear em grande escala, os futuros experimentos podem resultar no desenvolvimento de energia limpa e sustentável.
Vale mencionar que um quilograma de combustível de fusão gera cerca de 10 milhões de vezes mais energia que a mesma quantidade de carvão, petróleo ou gás. Além disso, as reações de fusão não liberam os gases que causam o efeito estufa.
Apesar do marco histórico, as instalações do JET fecharam em dezembro do ano passado, poucos dias depois do reator bater o recorde. A partir de agora, o laboratório vai passar por um processo de desativação de 17 anos, no qual investigadores irão documentar os detalhes de montagem e desmontagem dos reatores de fusão.
Ao todo, mais de 300 cientistas e engenheiros contribuíram em experimentos no JET, desde a fundação em 1983, de acordo com informações do The Guardian.