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Salário baixo oferece risco cardíaco, revela estudo canadense; Giz Brasil repercutiu

Estresse relacionado à falta de recompensas no trabalho dobrou risco de homens desenvolverem doenças cardíacas. O Giz Brasil repercutiu com um especialista do HCor

Salário baixo oferece risco cardíaco, revela estudo canadense

Imagem: Tim Gouw/ Unsplash/ Reprodução

Pressão para cumprir prazos, responsabilidades que preocupam e insatisfação com a recompensa. A rotina de trabalho pode ser estressante e, agora, um novo estudo publicado na revista Circulation: Cardiovascular Quality and Outcomes comprovou que isso afeta o coração.

Segundo a pesquisa, homens que não se sentem satisfeitos no trabalho e, consequentemente, vivem em constante estresse têm até duas vezes mais risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Já entre as mulheres, os dados não foram conclusivos.

O Giz Brasil dissecou a pesquisa canadense e repercutiu com o cardiologista Leonardo Piegas, do HCor. Confira abaixo:

Entenda a pesquisa

O estudo utilizou bancos de dados públicos do Canadá para acompanhar informações sobre a saúde de 6.500 homens durante 18 anos. Os participantes da pesquisa tinham em média 45 anos no início do acompanhamento e não possuíam doenças cardiovasculares.

Todos eles trabalhavam em empregos categorizados pelos canadenses como white-collar jobs. Isso significa que não realizavam trabalho manual, tinham cargos em escritórios e funções altamente qualificadas.

Para mensurar o estresse causado pelo trabalho, os pesquisadores estabeleceram dois indicadores. O primeiro era a pressão para executar tarefas, enquanto o segundo era o desequilíbrio entre o esforço exigido e a recompensa recebida.

De modo geral, a recompensa poderia ser reconhecimento da empresa, satisfação pessoal com sua função, promoção de cargo e também o salário recebido. Então, os cientistas aplicaram questionários para compreender a percepção dos participantes frente ao estilo de trabalho que viviam.

Como resultado, o estudo identificou que aqueles homens que relataram qualquer tipo de estresse profissional tinham cerca de 50% a mais de probabilidade de desenvolver doença coronariana que aqueles que estavam mais satisfeitos.

O impacto do estresse no coração

Em geral, o estresse é uma resposta natural do organismo para protegê-lo, uma vez que deixa a pessoa em estado de alerta. Neste processo, o estresse libera hormônios como adrenalina e noradrenalina, que são substâncias vasoconstritoras. 

Dessa forma, pode desencadear o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial. O problema acontece quando o estímulo estressante é permanente, como aponta a pesquisa que avalia o trabalho.

Contudo, para o cardiologista do HCor, Leonardo Piegas, o estresse é considerado um gatilho para fatores de risco de doenças coronárias, que são aquelas que afetam os principais vasos sanguíneos do coração.

Geralmente, elas são causadas pelo acúmulo de placas nestes vasos. Até agora, não há evidências de que o estresse, com a liberação de hormônios que causa, faça isso.

“Se você pegar um indivíduo que tem pressão normal, não é diabético, tem colesterol normal, não fuma, não é obeso e é apenas estressado, é mais difícil ele vir a desenvolver doença nas artérias coronárias”, explica o médico.

Ainda assim, há indicativos de que o estresse desempenha um papel no desenvolvimento destas condições. 

Isso porque ele também pode prejudicar o coração de maneiras menos diretas, interferindo na capacidade de comer bem, fazer exercícios regularmente e encontrar tempo para relaxar. Todos estes aspectos têm relação com fatores de risco para as doenças coronárias. 

Confira um exemplo

Por exemplo, o estresse pode provocar o ganho de peso através do aumento da liberação de cortisol. Este hormônio tende a aumentar o apetite de uma pessoa, o que pode levar ao sobrepeso e à obesidade, importantes fatores de risco para doenças do coração.

O estresse também está relacionado a distúrbios do sono, como a insônia. Juntos, os dois fatores podem afetar o sistema nervoso, levando a picos de pressão arterial e frequência cardíaca que, a longo prazo, estão associados a doenças cardiovasculares.

Além do aspecto fisiológico, há também o comportamental. Dessa forma, o estresse constante pode levar as pessoas a fumar, ingerir bebidas alcóolicas, não conseguir relaxar ou ter outros hábitos prejudiciais.

E as mulheres?

De acordo com o novo estudo, o risco aumentado foi perceptível apenas entre os homens que participaram da pesquisa. Entre as mulheres, os resultados foram inconclusivos.

Em geral, isso acontece porque as mulheres antes da menopausa têm menos risco de desenvolver doenças coronárias. Isso se deve a uma proteção hormonal do coração.

“A mulher, quando tem a produção normal de estrógeno e progesterona, ela tem uma proteção contra a formação de placas de gordura dentro das artérias”, explica o dr. Piegas. Após a menopausa, o ovário não produz mais estes hormônios e ela fica mais suscetível às doenças coronárias. 

Por fim, segundo os autores do estudo canadense, isso poderia tornar mais difícil identificar uma conexão clara entre o estresse no trabalho e problemas cardíacos em mulheres.

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