Turismo espacial é seguro? Implosão do OceanGate levanta dúvidas

Tragédia do submarino Titan pode servir de alerta para empresas "ultra inovadoras" que operam sem peritos
Turismo espacial é seguro? Implosão do OceanGate levanta dúvidas
Imagem: Virgin Galactic/Twitter/Reprodução

As empresas de turismo espacial podem aprender uma lição com a tragédia do submarino Titan, que provocou a morte de cinco pessoas após uma implosão na semana passada.

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É o que pensa Tommaso Sgobba, diretor executivo da Associação Internacional para o Avanço da Segurança Espacial (IAASS). Para o engenheiro italiano, o desastre pode servir como um estímulo ao debate sobre a segurança de expedições espaciais comerciais.

“De fato, temos aqui uma espécie de analogia”, disse o executivo ao site Space.com. “Temos uma tecnologia que vai para um ambiente extremo com o objetivo de proporcionar prazer e que não dá muitas alternativas às pessoas para sobreviverem se algo der errado”.

Antigo diretor de segurança espacial da ESA (Agência Espacial Europeia), há anos Sgobba trava uma guerra silenciosa contra a falta de supervisão da segurança garantida às empresas que desenvolvem tecnologias de turismo espacial.

A Blue Origin faz esse trabalho com seu foguete New Shepard, bem como o avião espacial SpaceShipTwo, da Virgin Galactic.

Tal como esses veículos, o submersível do Titanic não necessitava de certificação independente para transportar clientes pagantes para as profundezas do oceano. O submarino foi certificado somente por Stockton Rush, CEO da OceanGate, que morreu junto com as outras quatro vítimas.

Enquanto as equipes de resgate ainda buscavam pelo paradeiro do submarino, jornais relataram que o executivo bilionário havia sido avisado de que estava submetendo os clientes a potenciais riscos caso a segurança do Titan não fosse avaliada por uma agência independente.

Isso não aconteceu e, de fato, a expedição terminou em tragédia. As demais vítimas foram o explorador francês de águas profundas Paul-Henri Nargeolet, o empresário paquistanês Shahzada Dawood e seu filho, Suleman, e o bilionário britânico Hamish Harding.

Análise dos riscos com antecedência é fundamental

Diante das críticas, Rush acusou os especialistas de tentar “sufocar a inovação”. O executivo também destacou a singularidade da tecnologia da OceanGate, que desafiava as normas, defendendo a necessidade de aceitar correr o risco por uma experiência única de vida.

Segundo Sgobba, a comunidade do turismo espacial tem reproduzido argumentos assim há anos e isso dá margem para problemas. “A certificação é essencialmente uma revisão por pares do seu projeto por um perito”, disse o profissional em entrevista ao site.

“Em vez de esperar por um acidente, faz-se a análise de risco com antecedência. A solução para a sua análise de risco está inteiramente no seu projeto e recebe a contribuição de outras pessoas que entendem do assunto e que podem ajudá-lo a tornar o seu produto o mais seguro possível”, destacou Sgobba.

Bem como a OceanGate, as companhias de turismo espacial têm respaldo no consentimento dos clientes. Ou seja, os participantes da expedição são informados sobre os riscos da missão, incluindo o fato de estarem prestes a fazer uma viagem potencialmente fatal em um veículo não certificado por agências independentes.

Assim, as pessoas da tripulação podem ou não dar sua permissão e aceitarem participar. Mas há anos, Sgobba defende a criação de um instituto de segurança espacial independente, uma organização não governamental de especialistas do setor.

O objetivo seria supervisionar as normas da indústria, garantindo que acidentes como o do Titan não aconteçam.

Desafios do turismo espacial

Até o momento, as operações de voos espaciais comerciais não provocaram mortes. Sgobba mencionou a SpaceX como exemplo de uma operação privada de turismo espacial bem-sucedida, que passou pela devida avaliação.

A empresa de Elon Musk desenvolveu a sua espaçonave Crew Dragon como parte do Programa de Tripulação Comercial da NASA, que exigiu que a empresa passasse pelas rigorosas análises de segurança da agência espacial.

A Blue Origin conduziu com êxito seis voos tripulados com o seu veículo New Shepard. Uma dessas missões contou com Hamish Harding entre os tripulantes, que foi uma das vítimas no OceanGate, e também com o engenheiro Victor Hespanha, o segundo brasileiro a viajar ao espaço.

Contudo, uma missão sem tripulação usando o mesmo foguete da empresa de Jeff Bezos falhou em setembro de 2022. O problema foi causado pelo mau funcionamento de uma peça. A companhia anunciou que espera retomar as expedições nas próximas semanas.

Virgin Galactic anuncia detalhes sobre expedição

A Virgin Galactic, rival da Blue Origin, antecipou o cronograma anterior e planeja realizar a sua primeira missão comercial na quinta-feira (29). A empresa cobra 450 mil dólares por voos suborbitais que oferecem cerca de cinco minutos de ausência de peso.

A tripulação inclui dois membros da Força Aérea Italiana, um integrante do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália e um instrutor de voo da Virgin Galactic.

A companhia faz parte do grupo Virgin, do bilionário Richard Branson. O lançamento será do Spaceport America, no Novo México (EUA), onde há um centro comercial da Virgin Galactic.

Veja quem embarca na expedição:

  • Coronel Walter Villadei: faz parte Força Aérea Italiana e é comandante da missão “Virtude 1”
  • Tenente Coronel Angelo Landolfi: médico e membro da Força Aérea Italiana
  • Colin Bennett: instrutor de astronautas na Virgin Galactic, responsável por treinar e preparar a força aérea italiana;
  • Pantaleone Carlucci: engenheiro que faz parte do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália (CNR), onde foi piloto por mais de 8 anos.

Acidentes da Virgin Galactic

Em 2014, um voo de teste da companhia provocou um acidente fatal, que matou um dos dois pilotos a bordo e causou ferimentos no outro. A causa do desastre foi o acionamento antecipado do sistema de travagem do avião, provocado por um erro humano.

A primeira missão tripulada da Virgin Galactic, em 2022, desviou-se do seu envelope de voo aprovado devido ao fato de a empresa não ter levado em conta os fortes ventos de alta altitude. O incidente deu origem a uma investigação da Administração Federal de Aviação.

No dia 25 de maio, a Virgin Galactic lançou uma tripulação de seis pessoas, dois pilotos e quatro passageiros, no seu último voo de teste suborbital antes de iniciar as operações comerciais. Essa missão marcou o quinto voo espacial da empresa com o seu avião espacial SpaceShipTwo Unity.

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