A Uber, a gigante das caronas pagas, continuou sangrando dinheiro no terceiro trimestre de 2019. A empresa diz que as notícias são positivas, pois partes de seus negócios seriam tecnicamente lucrativas — bastaria ignorar todas as maneiras pelas quais a companhia está perdendo dinheiro.
Nos resultados trimestrais divulgados na segunda-feira (4), a Uber registrou uma perda líquida de cerca de US$ 1,2 bilhão. O Wall Street Journal reportou que este valor superou as expectativas de muitos analistas. Mesmo assim, é a terceira maior perda desde que ela começou a divulgar dados financeiros, em 2017.
Isso é significantemente melhor que o último trimestre, no qual a empresa perdeu US$ 5,2 bilhões, embora não seja uma grande melhoria quando se considera que, naquele semestre, houve o pagamento único de US$ 3,9 bilhões em compensação de ações.
A Uber informou que seu principal negócio, o compartilhamento de viagens, apresentou lucro de US$ 631 milhões, com receita de US$ 2,9 bilhões, mas apenas ao excluir grandes categorias de despesas não operacionais, como juros, depreciação e remuneração baseada em ações. Esse número de US$ 631 milhões, que novamente existe apenas em teoria, é superior ao total de US$ 416 milhões no terceiro trimestre de 2018.
Como notou o Ars Technica, esses são custos reais que não podem ser descontados e continuarão afetando os negócios da Uber. A empresa também está sendo prejudicada por grandes perdas nos negócios do serviço Uber Eats, que apresentou prejuízo de US$ 316 milhões, alimentados em grande parte pelos custos de expansão.
Excluindo juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA), diz o WSJ, a perda total da Uber foi de US$ 585 milhões. Isso é pior que o mesmo trimestre do ano passado, quando perdeu US$ 458 milhões.
A Uber agora projeta que todo o seu negócio será rentável em 2021 com base no EBITDA, embora todas as suas unidades estejam enfrentando uma concorrência feroz. Além disso, a AP informa que o CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, “forneceu poucos detalhes sobre como as diferentes unidades da Uber mudariam para que a empresa atingisse as novas metas de rentabilidade”.
A empresa fez sua abertura de capital (ou IPO, em inglês) em maio de 2019, oferecendo cada ação por US$ 45, antes de imediatamente sofrer perdas pesadas. Investidores não parecem particularmente tranquilizados pela última divulgação de resultados financeiros, com as ações caindo novamente — depois do fechamento do mercado na segunda (4), elas estavam sendo negociadas por cerca de US$ 29,37.
Segundo o Wall Street Journal, a Uber também está à beira do período de “bloqueio após o IPO”, que expira nesta quarta-feira (6). Depois disso, grandes acionistas, como executivos de empresas e grandes investidores, estarão livres para começar a vender suas ações. A Reuters informou que mais de 80% das ações em circulação da empresa se qualificam para entrar no mercado. Isso poderia significar más notícias para a Uber, mesmo que apenas um número relativamente pequeno de ações em circulação seja negociado.
“Para uma empresa cujos investidores já são céticos, eles precisavam apresentar um trimestre A+, mas, em vez disso, apresentaram um trimestre B-“, disse Dan Ives, analista da Wedbush Securities, ao Washington Post. “Tudo isso pouco antes do fim do perído de bloqueio — existe muita agitação entre os investidores, e este trimestre não acalmou esses medos.”
A reação regulatória também atingiu certamente a Uber: seu estado natal, a Califórnia, recentemente aprovou a lei AB5. A legislação visa forçar a empresa a classificar seus motoristas como funcionários, e não como autônomos, o que devastaria a Uber e outras empresas que dependem da “economia de bico”. A Uber alegou que está isenta do projeto de lei, argumentando que é uma “plataforma” e não uma empresa de transporte, e que planeja lutar no tribunal pelos seus direitos.