Testes da vacina de Oxford contra COVID-19 são suspensos, mas não há com o que se preocupar

Um voluntário apresentou reação adversa e os testes foram interrompidos. A vacina de Oxford é testada em 5 mil pessoas no Brasil.
Um técnico de laboratório seleciona amostras de sangue para um estudo de vacina para COVID-19 nos Centros de Pesquisa da América em Hollywood, Flórida, em 13 de agosto de 2020
Imagem: Chandan Khanna (Getty Images)

Uma das vacinas mais promissoras contra a COVID-19 teve seus testes paralisados nesta terça-feira (8). Estamos falando da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e pela farmacêutica AstraZeneca, que está na terceira e última fase antes de ser aprovada por órgãos regulatórios de saúde. A testagem foi interrompida temporariamente porque um dos voluntários apresentou efeitos colaterais graves que podem estar relacionados ao medicamento.

“Esta é uma ação rotineira que deve acontecer sempre que for identificada uma potencial reação adversa inesperada em um dos ensaios clínicos, enquanto ela é investigada, garantindo a manutenção da integridade dos estudos”, justificou a AstraZeneca em comunicado. A companhia também afirmou que está comprometida com a segurança dos participantes da pesquisa e que é normal que aconteçam efeitos adversos em testagem em massa – efeitos estes que serão revistos para verificar cada caso individualmente.

A suspensão dos testes também vale para o Brasil, onde cinco mil pessoas foram vacinadas. De acordo com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Fundação Oswaldo Cruz, que estão conduzindo a testagem no País, nenhum dos voluntários apresentou efeitos colaterais graves de saúde. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que autoriza os testes no Brasil, disse ter sido avisada da suspensão e que “aguarda o envio de mais informações sobre os motivos da suspensão para analisar os dados e se pronunciar oficialmente”.

Segundo a BBC, esta é a segunda vez que testes com a vacina de Oxford são suspensos, mas acredita-se que os experimentos devem retomar nos próximos dias. Um porta-voz contou ao site StatNews que os pesquisadores estão trabalhando para agilizar a revisão do paciente afetado, e que não são esperados impactos significativos que interfiram no cronograma dos testes.

Paciente pode ter tido mielite transversa

E o que teve exatamente o voluntário britânico que ocasionou a pausa na testagem? Isso a AstraZeneca não revelou, nem o estado de saúde do voluntário. Apenas destacou que espera uma recuperação do indivíduo.

Contudo, o The New York Times diz que o paciente teve uma síndrome inflamatória chamada mielite transversa, que afeta a medula espinhal e pode ser desencadeada por diferentes motivos, entre eles infecções virais. O jornal afirma ter obtido essa informação após ter conversado com uma pessoa próxima do caso que não quis se identificar. Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz, confirmou à GloboNews que conversou com os cientistas britânicos e recebeu a mesma informação.

Na maioria dos casos de mielite transversa, a causa surge de maneira desconhecida. Os sintomas influem febre, fraqueza muscular, perda de sensibilidade e disfunção autonómica. Dependendo da gravidade, o paciente pode precisar de fisioterapia e outros tratamentos para ajudar na reabilitação. “É uma manifestação clínica – muitas vezes autoimune – atribuível a várias doenças. É uma manifestação neurológica que pode evoluir com perda temporária, parcial ou grande, afetando a medula humana e que isso pode estar ou não relacionado a vacina”, explicou Margaret.

Um estudo das fases 1 e 2 da vacina, publicado em julho, relatou que cerca de 60% das mil pessoas que receberam a vacina apresentaram efeitos colaterais considerados leves ou moderados, o que inclui febre, dores de cabeça, dores musculares e reações no local em que a injeção foi aplicada. Todos os efeitos desapareceram gradualmente nos dias seguintes.

Além do Reino Unido e Brasil, a vacina de Oxford contra o coronavírus está sendo testada na África do Sul e Estados Unidos, com um total de 30 mil participantes. Por aqui, um acordo do Ministério da Saúde com a Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca prevê a distribuição em massa da vacina a partir de janeiro de 2021.

[StatNews, The New York Times, BBC, G1]

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