Vacina contra gripe pode fornecer alguma proteção contra COVID-19, sugere estudo preliminar

Uma pesquisa preliminar liberada neste mês pode fornecer um pouco mais incentivo para que as pessoas se vacinem contra a gripe.
Vacinas contra gripe. Crédito: Damian Dovarganes/AP
Crédito: Damian Dovarganes/AP

Uma pesquisa preliminar liberada neste mês pode dar um incentivo maior para que as pessoas se vacinem contra a gripe. No caso, um estudo encontrou evidências de que a vacinação contra a gripe reduziu o risco de contrair COVID-19 entre os profissionais de saúde da Holanda. Embora não seja um estudo definitivo, é o primeiro a sugerir que certas vacinas podem fornecer proteção menor e inespecífica contra outras doenças infecciosas, possivelmente incluindo COVID-19.

O artigo da pesquisa foi liberado no site de pré-impressão medRxiv em meados de outubro por cientistas da Holanda e Alemanha. Nele, os pesquisadores detalham duas investigações separadas da teoria de que a vacina contra a gripe usada na Holanda no inverno passado — uma vacina inativa destinada a proteger contra as quatro principais cepas do vírus da gripe em circulação — poderia reduzir o risco de COVID-19. Em muitos países, incluindo o Brasil, este é o principal tipo de vacina contra gripe usado anualmente.

A ideia básica é que algumas vacinas podem não apenas treinar as partes do sistema imunológico destinadas a reconhecer um germe específico, conhecido como sistema imunológico adaptativo, mas também aumentar temporariamente a eficácia do nosso sistema imunológico inato.

O sistema imunológico inato usa uma grande variedade de armas para repelir todos os tipos de germes invasores, tornando-se uma das primeiras linhas de defesa do corpo contra ameaças microbianas desconhecidas. Uma vacina, acredita-se, pode manter brevemente o sistema imunológico inato mais alerta e pronto para parar o próximo germe que cruzar seu caminho. Os cientistas chamam essa melhoria teórica de “imunidade treinada”.

No laboratório, os pesquisadores descobriram que as células imunológicas humanas expostas pela primeira vez à vacina contra a gripe pareciam formar uma resposta imunológica treinada ao coronavírus por trás do COVID-19, em comparação com um grupo de células de controle. Em hospitais holandeses, eles descobriram que os funcionários do hospital que foram vacinados com a vacina contra gripe no inverno passado tinham um risco menor de serem diagnosticados com COVID-19 do que os funcionários que não foram vacinados.

“Uma vacina quadrivalente inativada contra influenza pode induzir respostas de imunidade treinada contra SARS-CoV-2, o que pode resultar em proteção relativa contra COVID-19”, escreveram os autores.

Os resultados ainda não passaram pelo processo de revisão por pares, o que significa que devem ser vistos com algum cuidado extra. E embora os autores deste estudo forneçam duas linhas de evidências para suas conclusões, nenhuma é uma prova clara de que uma vacina contra gripe irá protegê-lo contra COVID-19.

Existem outras explicações possíveis para o motivo pelo qual os funcionários do hospital holandês que tomaram a vacina contra gripe podem ter menos probabilidade de contrair o COVID-19. Por exemplo, pode ser que esses trabalhadores sejam extremamente cautelosos ao contrair qualquer doença contagiosa — um traço de personalidade que os levaria a se vacinar contra a gripe e evitar situações em que o COVID-19 é mais provável de se espalhar.

Este não é o primeiro estudo a encontrar evidências de que as vacinas existentes podem proteger significativamente as pessoas contra COVID-19. Mas nem todos os dados têm sido encorajadores e alguns especialistas continuam céticos em relação à teoria.

Um estudo publicado no JAMA em maio deste ano, por exemplo, não encontrou evidências de que as pessoas em Israel que tomaram a vacina BCG na infância, usada para prevenir tuberculose, eram menos propensas a contrair COVID-19 quando adultos na casa dos 30 e 40 anos. É possível que um efeito de imunidade treinado criado pela vacina BCG ainda possa existir, mas não por tanto tempo.

De qualquer forma, essas descobertas devem ser um lembrete de que essa teoria não é certa. Mesmo se a imunidade treinada for real, quase certamente não fornecerá proteção completa contra a pandemia.

Existem ensaios clínicos em andamento testando se a vacina BCG e outras podem fornecer alguma proteção de curto prazo contra COVID-19 — ensaios que nos darão uma resposta clara se sim ou se não. Nesse ínterim, porém, ser vacinado contra a gripe é uma das coisas mais úteis que você pode fazer por si mesmo. Se descobrirem que também diminui o risco de COVID-19, melhor.

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