Cientistas russos alegam ter ressuscitado vermes de 40 mil anos de idade que estavam escondidos no gelo

Uma equipe de cientistas russos anunciou, no início deste mês, no periódico Doklady Biological Sciences, que, aparentemente, havia descoberto antigos vermes nemátodos que foram capazes de se ressuscitar depois de passar pelo menos 32 mil anos escondidos em permafrost. A descoberta, se legítima, representaria o retorno de um congelamento com o maior tempo de intervalo já visto […]

Uma equipe de cientistas russos anunciou, no início deste mês, no periódico Doklady Biological Sciences, que, aparentemente, havia descoberto antigos vermes nemátodos que foram capazes de se ressuscitar depois de passar pelo menos 32 mil anos escondidos em permafrost. A descoberta, se legítima, representaria o retorno de um congelamento com o maior tempo de intervalo já visto em um organismo complexo multicelular, superando até mesmo os tardígrados.

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Os vermes foram encontrados entre mais de 300 amostras de solo congelado tiradas das planícies do Rio Kolimá, na Sibéria, pelos pesquisadores. Duas das amostras continham os vermes, com uma delas vindo de uma toca de esquilo escondida datando de 32 mil anos e outra de uma geleira datando de 40 mil anos.

Depois de isolar nemátodos intactos, os cientistas mantiveram as amostras a 20ºC e as deixaram cercadas por comida em uma placa de Petri, só para ver o que aconteceria. Nas semanas seguintes, eles gradativamente observaram lampejos de vida, à medida que os vermes comiam a comida e até clonavam novos membros da família. Esses vermes clonados foram então cultivados separadamente — e também prosperaram.

Definitivamente, não está descartado que esses vermes possam ter revivido depois de tanto tempo, segundo Robin M. Giblin-Davis, nematologista e diretor do Fort Lauderdale Research and Education Center, da Universidade da Flórida.

“Teoricamente, é possível que, se os organismos forem protegidos de danos físicos que comprometeriam sua integridade estrutural durante seu tempo congelados, eles possam ser capazes de reviver após o descongelamento/a reidratação por longos períodos de tempo”, afirmou Giblin-Davis ao Gizmodo, por e-mail.

Ao mesmo tempo, as descobertas da equipe ainda podem ser um fracasso. “O maior problema é o potencial para a contaminação de ‘amostras antigas’ com organismos ‘contemporâneos'”, disse.

Embora os pesquisadores admitam, sim, a possibilidade de contaminação em seu artigo, eles dizem que ela é improvável. Eles citaram procedimentos rigorosos para garantir a esterilidade completa. E, considerando que as amostras de gelo estavam escondidas a 30,4 e 4,5 metros de profundidade, respectivamente, eles argumentam que é implausível que nemátodos modernos possam ter penetrado tão profundamente.

Os pesquisadores identificaram alguns dos vermes na amostra de 32 mil anos de idade como pertencentes ao gênero Panagrolaimus, e alguns dos vermes na de 40 mil anos como parte do gênero Plectus. Byron J. Adams, nematologista da Universidade da Flórida que estudou espécies nemátodas capazes de sobreviver a condições extremas, disse que as alegações dos pesquisadores parecem verossímeis, com base no que sabemos sobre a biologia de alguns dos nemátodos modernos.

“Eu amaria que fosse verdade”, disse Adams ao Gizmodo. “Vemos o que achamos ser uma estase prolongada nos Plectus e Panagrolaimus na Antártida, mas temos dificuldade de datá-los por radiocarbono.”

A descoberta de tais criaturas de vida tão longa seria uma quebra de recorde surpreendente. Bactérias antigas escondidas em cristais de sal há mais de 250 milhões de anos supostamente teriam sido trazidas de volta à vida, mas os animais descongelados mais antigos datam apenas de décadas no máximo, como, por exemplo, um grupo de tardígrados que foi ressuscitado depois de 30 anos no gelo.

A natureza mais complexa desses nemátodos supostamente antigos poderia revelar mais informações sobre a viabilidade da criopreservação ou como sobreviver em condições extrema como as do espaço, especularam os pesquisadores. E, no mínimo, eles poderiam fornecer indícios de como esses vermos evoluíram ao longo do tempo.

“Depois de 40 mil anos, deveríamos esperar detectar diferenças significativas na divergência evolucionária entre populações antigas e contemporâneas”, disse Adams.

O nematologista foi cuidadoso e apontou que, por sabermos tão pouco sobre a genética desses vermes gelados modernos, mesmo uma comparação genética que encontrasse diferenças substanciais entre os vermes descongelados e outras populações atuais não necessariamente confirmaria sua longevidade. Ele acredita que serão necessários testes muito sofisticados, semelhantes àqueles que confirmaram a existência de espécies nemátodas capazes de sobreviver fundo, na crosta terrestre, para saber se esses vermos são mesmo antigos.

Não existe indicação alguma de que esses vermes representariam algum tipo de perigo para as pessoas (embora algumas espécies de nemátodos possam nos fazer adoecer). Ainda assim, se você está estudando criaturas congeladas em um tempo longínquo no Ártico, provavelmente vale a pena estocar um ou dois lança-chamas.

[Doklady Biological Sciences via Science Alert]

Imagem do topop: Shatilovich, et al. (Doklady Biological Sciences)

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