Vício em games entra para lista internacional de doenças da OMS; o que isso significa?

Inclusão do vício em games na lista de doenças da Organização Mundial da Saúde deve aumentar consideravelmente o debate sobre o tema.
Garoto jogando Street Fighter em uma tela gigante
Guilherme Tagiaroli

Em uma reunião realizada no fim de semana, a OMS (Organização Mundial da Saúde) adicionou vício em games em sua lista de doenças reconhecidas pela entidade durante a 72ª Assembleia Mundial da Saúde. Na prática, a condição só começará a ter efeito a partir de 1º de janeiro de 2020. No entanto, isso deve ser o suficiente para aumentar a discussão sobre o assunto.

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O vício em games faz parte da 11ª revisão do ICD (International Statistical Classification of Diseases Related to Health Problems). Essa classificação é um sistema internacional para propósitos de pesquisa, tratamento clínico e critério para direcionamento de gastos públicos — a título de curiosidade, juntamente com o vício em games, a síndrome de burnout também aparece nesta nova versão da lista de doenças. Voltando aos games, a condição é descrita como “um padrão persistente de comportamento relacionado a jogos, que pode ser online ou offline” e que se manifesta por meio de três aspectos:

  1. Falta de controle sobre o jogo (por exemplo, frequência, intensidade, duração, término, contexto);
  2. Maior prioridade dada aos jogos, na medida que o jogo tem precedência sobre outros interesses da vida e atividades diárias; e
  3. Continuação ou escalada de jogos, apesar da ocorrência de consequências negativas. O padrão de comportamento tem gravidade o suficiente para resultar em prejuízo significativo em áreas pessoais, familiares, sociais, educacionais, ocupacionais ou outras áreas de importante operação.

Após a divulgação do documento pela OMS, representantes da indústria de games solicitaram que a entidade reexamine a decisão de incluir o vício em games na lista de doenças.

“A OMS é uma organização estimada e sua orientação precisa ser baseada em revisões regulares, inclusivas e transparentes apoiadas por especialistas”, diz um comunicado da ESA (Entertainment Software Association), que inclui membros de diversos países, inclusive o Brasil. “O vício em games não é baseado em evidências suficientemente robustas para justificar a inclusão em uma das ferramentas de definição mais importantes da OMS”.

Como nota o Polygon, a lista da OMS não tem peso de lei, mas ela é muito influente para profissionais e na forma como legisladores estudam e propõem tratamento ou intervenção em assuntos de saúde pública. Em países como China e Coreia do Sul, os governos têm tomado medidas drásticas para reduzir o vício em jogos, como estabelecer um limite de tempo de jogo.

Uma das questões por parte da indústria é que ainda não se tem muito claro os critérios de diagnóstico e de sintomas apropriados de vício em games. Já a OMS argumenta que tomou a decisão de incluir a condição após ouvir especialistas de todo o mundo.

De qualquer jeito, o vício em games deve ser cada vez mais debatido e lançar mais luz sobre o assunto. Com a penetração de internet crescendo cada vez mais no Brasil além do desenvolvimento de jogos cada vez mais diversos (há boas opções tanto em smartphones como em consoles e PCs), talvez seja algo para se ter em mente, mesmo que não estejamos no nível de países asiáticos.

A única coisa triste da notícia é que, provavelmente, pais ou responsáveis vão acompanhar o noticiário na TV ou na internet para dar uma leve ameaçada nos filhos, do tipo “tá vendo, moleque, agora jogar videogame é uma doença e coisa de viciado”.

[Polygon, Kotaku e OMS]

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