A NASA acaba de pagar US$ 90 milhões à agência espacial russa pelo lançamento da astronauta Kate Rubins com destino à Estação Espacial Internacional. Supondo que seus parceiros comerciais sejam capazes de fazer isso, essa pode ter sido a última vez que a NASA compra um assento em uma espaçonave Soyuz.
Às 2h45 desta quarta-feira (horário de Brasília), um foguete Soyuz-2.1a decolou do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. Além de Rubins, estavam na espaçonave Soyuz MS-17 os cosmonautas Sergey Ryzhikov e Sergey Kud-Sverchkov. Estes são os três primeiros membros da tripulação da Expedição 64, composta por sete pessoas, que trabalhará a bordo da Estação Espacial Internacional até abril de 2021.
O trio atracou na ISS cerca de três horas depois, chegando às 5h48 da manhã. Se você achou muito rápido, não está errado. Para entregar a tripulação em tempo hábil, a agência espacial russa Roscosmos empregou uma abordagem super-rápida em duas órbitas.
Antigamente, essas viagens para a ISS demoravam mais de 50 horas. A partir de 2013, a Rússia reduziu para seis horas com uma abordagem de quatro órbitas e, em 2018, a viagem foi reduzida para quatro horas com uma abordagem de duas órbitas.
Os russos conseguiram reduzir este tempo ainda mais. A jornada de hoje de três horas e três minutos é um novo recorde — o anterior era de três horas e 18 minutos, estabelecido pela nave de carga Progress MS-17 em 23 de julho de 2020. A Roscosmos faz isso lançando seu foguete Soyuz pouco antes de a ISS passar diretamente por cima do local de decolagem.
Rubins, Ryzhikov e Kud-Sverchkov se juntaram ao astronauta da NASA Chris Cassidy e aos cosmonautas Anatoly Ivanishin e Ivan Vagner, que estão na ISS desde abril. A Expedição 64 terá início oficialmente com a partida da tripulação da Expedição 63, prevista para 20 de outubro.
Esta é a segunda passagem de Rubins pelo espaço — ela já trabalhou a bordo da ISS em 2016. Pesquisadora médica, Rubins é a primeira cientista a sequenciar o DNA no espaço, segundo a NASA.
E a SpaceX?
Em algum momento de novembro, os outros quatro membros da Expedição 64 — os astronautas da NASA Michael Hopkins, Shannon Walker e Victor Glover, juntamente com Soichi Noguchi da Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA) — serão lançados a bordo de uma nave espacial SpaceX Crew Dragon.
A NASA diz que esta será a “primeira missão comercial operacional à estação espacial”: pela primeira vez desde a aposentadoria do programa Space Shuttle, em 2011, os EUA terão a capacidade de lançar regularmente missões tripuladas de seu território. O lançamento deveria acontecer em 31 de outubro, mas a SpaceX está atualmente analisando um problema com o motor de seu foguete Falcon 9.
Dado o recente sucesso da missão Crew-1, da NASA e da SpaceX, na qual os astronautas Robert Behnken e Douglas Hurley foram entregues com sucesso à ISS a bordo de um SpaceX Crew Dragon, é razoável perguntar por que a NASA acabou de pagar US$ 90,25 milhões para a Roscosmos por um lugar para Rubins a bordo de uma espaçonave Soyuz.
A NASA disse que fez isso para “garantir que a agência mantenha seu compromisso com as operações seguras por meio de uma presença contínua dos EUA a bordo da Estação Espacial Internacional até que as capacidades de missões tripuladas comerciais estejam rotineiramente disponíveis”.
Na verdade, a NASA e a SpaceX ainda estão trabalhando em alguns detalhes finais para obter a certificação do Crew Dragon, incluindo análises das capacidades de lançamento, encaixe e retorno da espaçonave. O próximo lançamento da cápsula SpaceX marcará um grande passo para fazer tudo isso parecer rotineiro.
Durante briefings realizados no final do mês passado, Jim Bridenstine, chefe da NASA, disse que o lançamento representa “um marco crítico no desenvolvimento de nossa capacidade de lançar astronautas americanos em foguetes americanos de solo americano — agora de forma sustentável”.
Futuro
Então, o lançamento de um foguete Soyuz hoje significa que será a última vez que a NASA pagará à Rússia por seus serviços de viagem de astronautas?
Em uma declaração enviada por e-mail à Forbes, a NASA colocou da seguinte maneira: “À medida que a capacidade de missões tripuladas comerciais dos EUA se torna operacional, os astronautas e cosmonautas devem voltar a voar juntos em suas respectivas espaçonaves, como se fazia anteriormente.” E, como Jeff Foust relata na SpaceNews, “a NASA não expressou nenhum interesse público em comprar futuros assentos [nas naves] Soyuz”.
Claro, tudo isso pode mudar se o Crew Dragon não for certificado ou se o problema acima mencionado com o foguete Falcon 9 persistir. Ou se — Deus me livre — algo consideravelmente mais sério ocorrer.
Quanto ao outro parceiro da tripulação comercial da NASA, a Boeing, ela ainda está trabalhando para remediar uma série de problemas revelados durante o desapontante lançamento de seu CST-100 Starliner no ano passado.
Um teste tripulado da espaçonave Boeing poderia acontecer em junho de 2021, mas isso pressupõe o sucesso de testes não-tripulados nos próximos meses. Resumindo, não devemos nos precipitar devido a algumas incertezas com a SpaceX e a Boeing.
E, embora a NASA não vá pagar por assentos no Soyuz no futuro próximo, isso não significa necessariamente que os astronautas da NASA nunca mais vão pegar uma carona a bordo desses foguetes. De acordo com a SpaceNews, a NASA tem falado em “tripulações mistas”, em que os astronautas da NASA continuarão a voar em foguetes Soyuz e os cosmonautas da Roscosmos em veículos comerciais tripulados.
No entanto, a Rússia não concordou muito com o conceito, então pode não acontecer, apesar de ser uma ideia muito boa. O tempo dirá, especialmente se os lançamentos tripulados de naves Crew Dragon e CST-100 Starliner se tornarem rotina.