Você deve conhecer a Xiaomi pelos celulares que ela fabrica. No entanto, a empresa tem uma série de outros produtos e serviços — na loja dela aqui em São Paulo, tem até lâmpada e patinete. Na Índia, o portfólio deve ficar ainda mais abrangente, pois a empresa quer começar a oferecer empréstimos. A medida, porém, deve causar polêmica pela forma como a empresa define o perfil de risco de cada cliente. Ela monitora o uso do celular para isso.
Segundo a Reuters, a empresa já conta com o app Mi Pay na Índia. E, nas próximas semanas, o Mi Credit deve estrear. O serviço oferecerá empréstimos de até 100 mil rúpias (um pouco menos de R$ 5.800 ou US$ 1.400, na cotação atual) com juros de 1,8% (a publicação não esclarece se a taxa é ao mês ou ao ano).
Não é a primeira investida da Xiaomi nesse mercado, porém. Ela oferece empréstimos na China, com uma carteira de crédito totalizando US$ 8 bilhões. A agência de notícias também lembra que a empresa chinesa oferecia serviços financeiros na Indonésia. A divisão, porém, foi fechada após desentendimentos entre a companhia e os reguladores locais.
Coleta de dados pessoais
O que promete causar polêmica, no entanto, é a forma de avaliar o risco de crédito de cada cliente. Segundo documentos a que a Reuters teve acesso, a empresa coleta “dados da atividade no smartphone para criar perfis de crédito com base na ‘identidade, estágio da vida, estilo de vida, relacionamentos sociais e lealdade à marca'”. Não se sabe, porém, se isso ocorre em todo aparelho da marca ou só naqueles que usam os apps de serviços financeiros da empresa.
Isso, segundo a agência de notícias, já teria assustado um banco que estava em negociações para ser parceiro da companhia chinesa na Indonésia.
Os consumidores que solicitam os serviços na Índia assinam acordos amplos, concordando em compartilhar seus dados pessoais com a Xiaomi, incluindo tudo de “antecedentes profissionais e educacionais” até “histórico de mensagens temporárias” e informações relacionadas ao “uso de certos aplicativos e sites”.
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O banqueiro na Indonésia disse à Reuters que uma apresentação que ele viu mostrava que a empresa verifica os dados privados dos proprietários de telefones em busca de menções a mudanças no estilo de vida, como um divórcio ou uma promoção, como parte de sua abordagem à pontuação de crédito.
Apesar das preocupações que essa prática causa em empresários do setor financeiro e ativistas pela privacidade, os consumidores indianos, mesmo, não parecem estar ligando. Um deles, ouvido pela agência de notícias, disse que, se a Xiaomi não pedir muitos documentos, como é prática corrente dos bancos do país, e oferecer empréstimos com rapidez, ele não se importa em compartilhar seus dados. Além disso, ele disse que 100 mil rúpias é uma quantia decente, pois dá para comprar uma moto.
À Reuters, um porta-voz da Xiaomi disse que a privacidade dos usuários e a proteção dos dados é de extrema importância para a empresa, e que a companhia fechou acordos de forte proteção de dados com parceiros financeiros locais na Índia.