O que sabemos sobre viagem no tempo
A viagem no tempo é um dos maiores sonhos da humanidade há séculos. É um assunto bastante popular e presente em muitos filmes e obras de ficção, inspirando de tudo desde Um Conto de Natal, de Charles Dickens,passando por A Máquina do Tempo, de H.G. Wells, até O Planeta dos Macacos. Com a estreia de Interestellar hoje, estamos prestes a fantasiar ainda mais com isso.
E sabe o que é mais fantástico? A viagem no tempo provavelmente é possível.
O que é quase impossível
Vamos começar com as notícias ruins. Provavelmente não podemos viajar de volta no tempo e assistir aos egípcios construindo as pirâmides. No século passado, cientistas criaram diversas teorias que sugeriam que de fato é plausível dar um passo em direção ao futuro; voltar no tempo, infelizmente, é muito mais complicado. Mas não é necessariamente impossível.
Albert Einstein lançou as bases para a maior parte da ciência teórica que rege as pesquisas de viagens no tempo da atualidade. Claro, cientistas que vieram antes dele, como Galileu e Poincaré, ajudaram, mas as teorias de Einstein sobre relatividade restrita e relatividade geral mudaram drasticamente nosso entendimento do espaço e do tempo. E é por causa dessas teorias que acreditamos que a viagem no tempo é possível.
Uma das opções seria através de um buraco de minhoca, também conhecido como ponte de Einstein-Rosen. Junto com o físico Nathan Rosen, Einstein sugeriu a existência de buracos de minhoca em 1935, e apesar de ainda não termos descoberto nenhum, muitos cientistas contribuíram com teorias próprias sobre como eles devem funcionar. Stephen Hawking e Kip Thorne são provavelmente os mais conhecidos. Thorne, um físico teórico da CalTech, até ajudou Cristopher Nolan com a ciência por trás de Interestellar.
Então vamos considerar que os buracos de minhoca de fato existem. No fim dos anos 1980, Thorne disse que um wormhole poderia ser usado para criar uma máquina do tempo. De acordo com a teoria da relatividade geral de Einstein, um buraco de minhoca pode agir como um ponte através do espaço-tempo ao conectar dois pontos distantes com um atalho. Certos tipos de buracos, diz a teoria, poderiam permitir viagem no tempo em qualquer direção, se pudermos acelerar uma das pontas do buraco a uma velocidade próxima à da luz, e então reverter para a sua posição inicial. Enquanto isso, a outra ponta permaneceria estacionária. O resultado seria algo como a ponta em movimento envelhecendo mais lentamente do que a estacionária, graças ao efeito da dilatação do tempo – falaremos mais sobre isso em seguida.
Mas existem muitas ressalvas em relação a viajar de volta no tempo com esse método. A principal delas é o fato de que precisamos de um método para criar buracos de minhoca, e, assim que isso for feito, ele só nos permite viajar de volta até o momento em que foi criado. Então definitivamente jamais seremos espectadores da construção das Grandes Pirâmides do Egito.
A outra ressalva bem séria é que precisamos de alguma maneira de mover uma das pontas do buraco de minhoca a uma velocidade próxima à da luz. Em seu artigo científico de 1988 sobre wormholes, Thorne e seus colegas assumiram que “seres avançados produziriam esse movimento ao puxar a ponta direita gravitacionalmente ou eletronicamente.” Nós não conseguimos fazer isso agora, no entanto.
Nós podemos viajar para o futuro – mas só um pouco.
O que é quase possível
Nos últimos anos, vimos alguns aspectos da teoria de Einstein se provarem verdadeiros. O mais recente, e talvez mais empolgante, é a teoria já mencionada chamada dilatação do tempo. Apesar de basearmos tecnologia nessa teoria há décadas, um experimento só conseguiu provar neste ano que a dilatação do tempo é um fenômeno absolutamente real. É também um fenômeno que poderia nos permitir viajar para o futuro.
A dilatação do tempo basicamente se refere à ideia de que o tempo passa mais lentamente para um relógio em movimento do que para um relógio estacionário. A força da gravidade também afeta a diferença no tempo decorrido. Quanto maior a gravidade e maior a velocidade, maior a diferença no tempo. Buracos negros, como aquele mostrado em Interestellar, por exemplo, produziriam uma enorme quantidade de dilatação de tempo, devido à sua força gravitacional extrema.
Graças ao programa espacial, conseguimos lidar com esse efeito há tempos. É por isso que os relógios da Estação Espacial Internacional são um pouco mais lentos do que os relógios da Terra. Como a estação espacial está se movendo rapidamente e é afetada por menos gravidade, o tempo passa mais rapidamente. É por isso também que nenhum relógio na Terra é perfeitamente preciso, já que o efeito da dilatação do tempo significa que o tempo passa mais lentamente próximo à superfície da Terra. Ok, talvez um relógio seja quase perfeito.
Um exemplo melhor de dilatação do tempo em ação envolve satélites GPS. O chip GPS do seu smartphone funciona porque existem 24 satélites circulando o globo em todos os momentos para triangular a sua posição com base em quanto tempo demora para a informação com data e hora viajar de e para o dispositivo.
No entanto, cientistas descobriram, quando desenvolveram o sistema, que relógios atômicos em satélites GPS de fato rodam um pouco mais rápido, já que se movem a 15.000 km/h em órbita. Para ser mais específico, eles perdem 8 microssegundos por dia. É pouco perceptível, mas o bastante para prejudicar os dados de localização. E assim a tecnologia GPS fez ajustes nos relógios a bordo para considerar os efeitos relativistas. A equação usada é um tanto complicada.
As implicações para tudo isso são enormes. E se você levar isso ao extremo? Se você entrar em uma nave espacial que voa super rápido, o tempo passaria mais rapidamente para as pessoas que estão na Terra do que pra você. Você poderia dar uma volta na galáxia e voltar na Terra no futuro. Isso é basicamente o que acontece em Planeta dos Macacos. O personagem de Charlton Heston é um viajante do tempo.
O que definitivamente é possível (mas meio besta)
A dúvida é: podemos levar isso ao extremo? E é possível voltar através do tempo?
Não sabemos. As teorias de Einstein tendem a desconsiderar a volta no tempo, mas elas são apenas teorias. É possível que alguma descoberta futura prove que elas estão erradas. E em relação à abordagem do buraco de minhoca, não sabemos exatamente como isso funcionará até que consigamos testar, e, neste momento, não temos um método possível para construir um buraco de minhoca no espaço.
Um jeito fácil de descobrir se tudo isso é possível é ao caçar viajantes do tempo que estão entre nós. Não é necessário nenhum laboratório para isso. E é isso o que muitos cientistas estão fazendo (e nenhum descobriu nada até agora).
Se você realmente se empolga com viagem no tempo, vá assistir Insterstellar. A ciência por trás dele pode parecer um pouco fantástica demais em alguns momentos. Mas o filme em si é fantástico.
Imagem de topo: foto promocional de Interestellar