Bill Gates e 40 anos de Microsoft: “o que mais importa é o que faremos no futuro”
Em 4 de abril de 1975, Bill Gates e Paul Allen fundaram a Micro-Soft, combinação das palavras “microprocessador” e “software”. Alguns anos depois, a empresa se tornou conhecida mundialmente com o MS-DOS e o Windows. Para celebrar os 40 anos de história, Gates escreveu um e-mail para todos os funcionários da empresa.
No e-mail, Gates lembra seu ambicioso objetivo: “um computador em cada mesa, em cada lar, rodando software da Microsoft”. Você lembra como isso se tornou realidade?
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A história da empresa começou de verdade nos anos 80. Em 1981, a IBM recorreu à Microsoft para encontrar um sistema operacional 16-bit. A empresa então comprou uma licença não-exclusiva do QDOS, criado pela Seattle Computer Products, por US$ 25.000. Meses depois, a Microsoft pagou mais US$ 50.000 pelos direitos autorais do código. Foi o melhor dinheiro que Gates já gastou.
O sistema foi renomeado como MS-DOS e, no mesmo ano, passou a aparecer em computadores da IBM. Ele rapidamente se tornou o sistema operacional mais usado.
O sucesso continuou com o Windows, mas não imediatamente. A versão 1.0 foi lançada em 1985 após alguns atrasos, e não repetiu o sucesso do MS-DOS. Foi só na versão 3.0, lançada em 1990 junto ao Office, que a Microsoft teve um grande sucesso em sistemas operacionais.
Desde então, o Windows se transformou em uma peça tão crucial que se tornou nocivo para a cultura interna da empresa. Da Economist:
No final dos anos 90, quando Bill Gates ainda era chefe da Microsoft, qualquer funcionário que tivesse a ousadia de sugerir algo que pudesse enfraquecer o sistema operacional da empresa por certo ganharia a sua ira. Mesmo depois de Steve Ballmer assumir o posto de Bill Gates em 2000, essa permaneceu a lei incontestável na sede da empresa, em Redmond, no estado de Washington. Tudo que a Microsoft fizesse tinha que reforçar o Windows, para torná-lo cada vez mais esmagadoramente dominante. Muitas das melhores inovações da empresa foram mortas por causa deste “imposto de estratégia”, como era conhecido internamente.
Desse jeito, a Microsoft não iria para lugar nenhum. Ela perdeu a revolução dos smartphones, capitaneada por Apple e Google; e também dormiu no ponto com os tablets – estes são alguns dos maiores erros de Ballmer, que ele mesmo admitiu publicamente.
Agora temos Satya Nadella, que colocou a Microsoft em um rumo diferente do passado, sem se preocupar em reforçar o Windows em cada decisão. O Office agora roda no iOS e no Android; seus apps oferecem integração com a nuvem da Box e Dropbox; e até a Cortana pode ir para as plataformas da concorrência.
Como resume a Economist, “a fórmula de Nadella para revigorar a Microsoft é mover-se rapidamente e se distanciar de uma visão focada no Windows, tornando-se uma rede global de data centers gigantes que fornecem uma ampla gama de serviços online para empresas e pessoas”.
A cultura da Microsoft também está mudando para tornar a empresa mais ágil e dinâmica. Como notamos antes, Nadella é um engenheiro calmo, conhecido por ser uma presença agradável e estável. É o oposto de Ballmer, um homem tempestuoso que gritou o clássico DEVELOPERS DEVELOPERS DEVELOPERS.
Em sua carta aos funcionários, Gates cita a Cortana, o Skype Translator e o HoloLens, dizendo que “essas são apenas algumas das muitas inovações que estão a caminho”. Se um vídeo-conceito estiver certo, espere por tablets dobráveis, pulseiras inteligentes e hologramas da Microsoft.
O texto segue na íntegra abaixo.
O dia 4 é um dia especial: o 40º aniversário da Microsoft.
Logo no início, Paul Allen e eu definimos a meta de um computador em cada mesa e em cada casa. Era uma ideia ousada, e muita gente pensou que estávamos loucos por imaginar que isso era possível. É incrível pensar como a computação foi longe desde então, e todos nós podemos estar orgulhosos do papel desempenhado pela Microsoft nessa revolução.
Hoje, porém, estou pensando muito mais no futuro da Microsoft do que em seu passado. Acredito que a computação vai evoluir mais rapidamente do que nunca nos próximos 10 anos. Nós já vivemos em um mundo multiplataforma, e a computação se tornará ainda mais difundida. Estamos nos aproximando do ponto em que computadores e robôs serão capazes de ver, mover e interagir naturalmente, permitindo muitas novas aplicações e capacitando as pessoas ainda mais.
Sob a liderança de Satya, a Microsoft está mais bem posicionada do que nunca para liderar esses avanços. Nós temos os recursos para resolver e lidar com problemas difíceis. Estamos envolvidos em todas as facetas da computação moderna, e temos o maior compromisso na indústria em pesquisa e desenvolvimento. Em meu papel como assessor técnico de Satya, eu faço avaliações de produtos e estou impressionado com a visão e talento que eu vejo. O resultado é evidente em produtos como a Cortana, o Skype Translator e o HoloLens – e essas são apenas algumas das muitas inovações que estão a caminho.
Nos próximos anos, a Microsoft tem a oportunidade de alcançar ainda mais pessoas e organizações em todo o mundo. A tecnologia ainda está fora do alcance de muitas pessoas, por ser complexa ou cara, ou simplesmente por não existir acesso a ela. Então eu espero que você pense sobre o que você pode fazer para tornar o poder da tecnologia acessível a todos, para conectar as pessoas entre si, e tornar a computação pessoal disponível em todos os lugares, mesmo quando a própria noção do que é um PC se espalhe por todos os dispositivos.
Nós realizamos muitas coisas juntos durante os nossos primeiros 40 anos, e capacitamos inúmeras empresas e pessoas a realizar seu pleno potencial. Mas o que mais importa agora é o que faremos no futuro. Obrigado por ajudar a tornar Microsoft uma fantástica empresa agora e nas próximas décadas.
Foto por Sean Davis/Flickr