Principais causas de acidentes com patinetes elétricos são dirigir bêbado e sem capacete
A moda dos patinetes elétricos tem sido conveniente para alguns, irritante para outros e dolorosa ou até mortal para algumas vítimas desafortunadas. Um novo estudo publicado na quinta-feira (29) parece destacar alguns dos fatores (talvez óbvios) comuns por trás dos acidentes envolvendo esse meio de transporte: estar bêbado ou sob a influência de alguma droga e não usar um maldito capacete.
Pesquisadores na Califórnia – o estado em que a moda das empresas oferecendo patinetes elétricos como parte de um programa de compartilhamento de viagens começou em 2017 – analisaram os registros hospitalares de pessoas que visitaram um dos três centros de trauma na área de San Diego com lesões relacionadas a um patinete elétrico.
Entre 1º de setembro de 2017 e 31 de outubro de 2018, eles descobriram que pelo menos 103 pacientes nesses centros foram feridos por esses veículos de micromobilidade. A maioria dessas lesões envolvia fraturas de membros ou no rosto, mas quase 20% apresentavam sangramento interno no crânio, enquanto uma porcentagem um pouco menor apresentava concussões sem sangramento. Felizmente, a maioria das lesões foi tratada com facilidade e quase 90% dos pacientes foram liberados no mesmo dia.
Quando os autores analisaram mais profundamente as pessoas que se machucaram, eles também encontraram alguns padrões claros. A maioria (65%) era do sexo masculino; quase todos (98%) não usavam capacete; e eram usuários frequentes de drogas. Dos 80% dos pacientes que fizeram o teste de álcool, pouco menos da metade tinha uma concentração de álcool no sangue acima do limite legal para dirigir (0,08%). Apenas 62 pacientes tiveram sua urina examinada quanto a drogas além do álcool, mas metade desse grupo teve resultado positivo para alguma substância que altera a mente – principalmente THC, mas também estimulantes como metanfetamina e cocaína.
As descobertas da equipe foram publicadas na quinta-feira na revista Trauma Surgery and Acute Care Open.
Embora o estudo seja um dos primeiros a fornecer uma visão detalhada de quem corre maior risco de se machucar ao usar os patinetes elétricos, ele apresenta algumas limitações. Por um lado, os autores estudaram apenas um pequeno grupo de pessoas que a equipe médica considerou feridas o suficiente para exigir atendimento em um centro de trauma. Mas há muitas pessoas que foram feriadas por uma e-scooter e só receberam atendimento médico em um pronto-socorro ou sala de emergência. Essas pessoas podem ser mais propensas ou não a usar um capacete ou beber antes de dirigir, mas não podemos dizer com certeza até que ponto.
Não existem muitos dados indicando que o uso de capacete ou a ausência de drogas no organismo ao andar de patinete elétrico pode evitar ferimentos, mas não é exatamente um desafio pensar que sim.
“Devido aos efeitos anteriores de proteção dos capacetes com outros tipos de veículos com e sem motor, o uso do capacete provavelmente também terá um efeito benéfico nessa população”, escreveram os autores.
No entanto, certificar-se de que os usuários de patinetes elétricos usem capacetes não é algo tão simples assim. Alguns desses serviços de micromobilidade começaram a fornecer capacetes gratuitos ou com desconto a pedido do usuário, observaram os autores. Mas os estados onde esses serviços são legais muitas vezes se abstêm de torná-los obrigatórios. A Califórnia até promulgou uma nova lei este ano para alterar uma disposição que exigia o uso de capacete por adultos andando de e-scooter em ciclovias e ruas (menores ainda são obrigados a fazê-lo). A lei foi aprovada, pelo menos em parte, porque as empresas reclamaram que exigir que os usuários usassem capacete acabaria desencorajando novos clientes.
Aqui no Brasil, cidades como São Paulo ainda estão tentando regulamentar esse novo meio de transporte. No início de agosto, a Prefeitura de São Paulo publicou novas regras sobre limites de velocidade, áreas de estacionamento. A questão da obrigatoriedade do uso de capacete ficou indefinida e deverá ser discutido novamente dentre de 60 dias (da data de publicação) no Comitê Municipal de Uso Viário (CMUV).
E enquanto algumas cidades e países se opuseram e até baniram esses serviços – como foi o caso de Nashville este ano, após uma morte relacionada a scooters – outros os estão adotando, e a indústria como um todo parece estar bem disposta a expandir e prosperar nos próximos anos. Como alertam os autores, quanto mais populares esses dispositivos se tornarem, mais as pessoas poderão, sem dúvida, se machucar. E, portanto, precisaremos encontrar maneiras de manter as pessoas seguras.
“As pesquisas iniciais sobre os padrões de segurança e lesões de patinetes elétricos são vitais para orientar o público e os legisladores sobre estratégias de prevenção de lesões para esse meio de transporte em evolução”, escreveram os autores.