Novo app de pintura da Adobe mostra um pouco do potencial que o futuro do iPad reserva
Anunciado em outubro do ano passado, o Adobe Fresco é o primeiro aplicativo de ilustração e pintura de uma nova geração da empresa, feita pensando nos tablets. Ele utiliza inteligência artificial para permitir que artistas trabalhem com ferramentas digitais que se comportam e se parecem com pincéis e tintas tradicionais. Testamos antecipadamente o aplicativo antes de seu lançamento, que está marcado para o final deste ano. Apesar de estarem faltando alguns recursos importantes, ainda é interessante ver a próxima grande evolução para dispositivos móveis como o iPad.
No começo, o iPad parecia não ser nada mais do que um celular grandão. A Apple posicionou o produto como um dispositivo de consumo de mídia, mais adequado para ler e assistir filmes. Mas, ao longo dos anos, o iPad cresceu para ser algo mais.
Quando aplicativos de produtividade como processadores de texto e planilhas chegaram, o tablet logo se tornou uma alternativa viável para um laptop. Quando o Apple Pencil foi lançado, profissionais de criação finalmente adotaram o iPad como uma ferramenta legítima para suas tarefas, e muitos se perguntaram se seus dias presos a uma mesa e a um desktop estavam contados.
Com o Adobe Fresco e o lançamento de uma versão completa do Adobe Photoshop para o iPad, isso parece inevitável — mas haverá algumas dificuldades de transição.
Eu uso softwares da Adobe, como o Photoshop e o Illustrator, há mais de 20 anos. Quando você abre o Adobe Fresco, a primeira coisa que se destaca é que sua interface é muito familiar, especialmente quando comparada aos aplicativos móveis existentes da Adobe, que são versões mais leves das ferramentas de criação da empresa para desktops, reduzidas e otimizadas para telas pequenas e sensíveis ao toque.
A interface do Fresco não é uma cópia direta do que você encontra nos aplicativos de desktop da Adobe, mas ainda é muito reconhecível e consegue equilibrar as duas abordagens muito bem. A barra de ferramentas vertical está na parte esquerda da tela, enquanto uma versão simplificada da pilha de camadas do Photoshop e do Illustrator está à direita.
O Adobe Fresco não foi projetado para substituir o Photoshop ou o Illustrator, mas complementá-los como uma ferramenta melhor para pintar ou ilustrar. Para acomodar os fluxos de trabalho das ferramentas da área de trabalho da Adobe, o Fresco permite que os usuários trabalhem com pincéis vetoriais compatíveis com o Illustrator e pincéis de pixel compatíveis com o Photoshop no mesmo documento.
A versão de pré-lançamento do Fresco que eu testei não suportava totalmente os serviços Creative Cloud, então eu não consegui passar facilmente projetos entre ele e o Photoshop ou o Illustrator. A Adobe promete que entrar no Fresco para editar ou adicionar elementos ser um processo sem interrupções nem atritos.
Os Live Brushes do Adobe Fresco se comportam como pincéis e tintas reais,. As cores se misturam e alteram o que já estava no quadro. GIF: Andrew Liszewski/Gizmodo
O Fresco, no entanto, é mais do que apenas uma ferramenta complementar para fluxos de trabalho existentes com os programas da Adobe. É também um excelente aplicativo independente para quem gosta de pintar ou quer tentar pintar e ilustrar sem gastar muito em materiais de arte.
A Adobe aproveitou os recursos de inteligência artificial de sua plataforma Sensei para criar uma nova ferramenta chamada Live Brushes. Ela simula a experiência da pintura com tintas a óleo de aquarelas. As pinturas se misturam e sangram umas nas outras na tela enquanto você trabalha, e até afetam a cor e a forma das pinceladas anteriores. O recurso Live Brush é realmente divertido para brincar, mas também permite que artistas tradicionais transponham para o mundo digital seus fluxos de trabalho, como a mistura manual de tintas na tela para criar novos tons.
Tocar no Apple Pencil duas vezes dá acesso rápido ao seletor de cores do Adobe Fresco. (Pink Donut pela artista Adriana Villagran.) GIF: Andrew Liszewski/Gizmodo
O que é ainda mais interessante sobre o Adobe Fresco é que ele nos dá um primeiro vislumbre das iniciativas da empresa para não apenas replicar sua interface familiar em tablets, mas também avançá-la, aproveitando os recursos exclusivos de um dispositivo touchscreen. Você pode rapidamente desfazer sua última edição simplesmente tocando duas vezes a tela com dois dedos, e tocar duas vezes no Apple Pencil mostra o seletor de cores.
A Adobe também adicionou um botão de atalho extra. Ele fica na tela e pode ser reprogramado e reposicionado, fornecendo acesso rápido a uma função específica. No Fresco, ele se limitava a alternar entre o pincel atual e a ferramenta borracha, mas a companhia promete mais personalização no futuro.
Uma coisa que faltou na versão do Adobe Fresco que testei, no entanto, foram os atalhos de teclado. No Photoshop, eu uso o teclado como um pianista em um concerto. Para mim, tudo virou uma questão de memória muscular, e eu não percebi o quão dependente eu estava dos atalhos até o momento que eles não estavam mais lá.
Isso não quer dizer que eles não serão incluídos assim que o Fresco finalmente estiver disponível, mas este é um dos maiores desafios que a Adobe está enfrentando quando se trata de fazer a transição do software de um PC sobre uma mesa para um tablet sobre o colo: entender e adaptar o que seus usuários já fazem e como eles fazem.
Para que um aplicativo robusto como o Fresco funcione no espaço limitado da tela de um tablet de tela como o iPad, a Adobe precisou evoluir suas abordagens para a interface do usuário — os intermináveis menus suspensos na parte superior da tela foram removidos.
Mesmo assim, achei que havia uma curva de aprendizado íngreme quando comecei a me aprofundar no conjunto de ferramentas e trabalhar com recursos mais avançados do software, como seleções e máscaras. Isso não é uma coisa ruim, no entanto.
Não tenho dúvidas de que, quando o Photoshop finalmente chegar ao iPad, haverá muitos usuários reclamando das mudanças que a Adobe fez em sua interface e como suas ferramentas são usadas em uma tela sensível ao toque. No entanto, depois de testar o Fresco por pouco mais de uma semana, percebi que estou ansioso para aceitar essas mudanças e me adaptar a elas.
Vai ser uma transição complicada, mas a liberdade oferecida por ter essas ferramentas poderosas em um dispositivo tão portátil quanto o iPad valerá a pena. A decisão da Adobe de finalmente fazer a migração das versões completas de seu software para os aparelhos móveis me deixou animado.
Além disso, poder exercitar a criatividade usando uma das mais avançadas ferramentas de pintura digital disponíveis enquanto estou sentado em uma doca ao lado de um lago azul calmo foi o que me encantou no Fresco. O iPad prometeu nos libertar, e, com o Fresco, a Adobe mostrou que é uma promessa que não precisa necessariamente vir com grandes perdas.