Adolescente suspeita de aborto é presa por mensagem vazada no Facebook
Uma suposta falha na criptografia do Facebook fez com que uma adolescente de 17 anos e sua mãe fossem presas em Nebraska, nos EUA, por suspeita de aborto. Segundo informações do site Wired, a polícia chegou na adolescente através de mensagens privadas na rede social.
A polícia norte-americana obteve um mandado em junho para acessar as conversas da adolescente. As informações possibilitaram que fizessem um mandado de busca e apreensão na casa da família. Lá, levaram todos os dispositivos eletrônicos como “provas do crime”.
Segundo a polícia, as mensagens trocadas entre a jovem e seu namorado indicavam o uso de comprimidos abortivos na 23ª semana de gestação. O estado de Nebraska proíbe o aborto após as 20 semanas. A adolescente diz que sofreu um aborto espontâneo e enterrou o feto no pátio de sua casa.
Apesar da polêmica do aborto nos EUA – permitido até junho, quando a Suprema Corte derrubou a proteção federal para o acesso ao direito no país –, o caso chama a atenção para a fragilidade da criptografia do Facebook, em especial do Messenger.
As mensagens da plataforma são visíveis para a Meta, empresa-mãe da rede, e podem ser acessadas por autoridades através de mandados oficiais. Mas se engana quem pensa que a criptografia de ponta a ponta do WhatsApp está disponível em todas as redes da big tech.
Em 30 de junho, Mark Zuckerberg disse que “há um esforço contínuo” da companhia para criptografar seus serviços. “Sempre foi uma coisa com a qual nos preocupamos”, disse ao site Cyberscoop.
Onde temos criptografia?
Criptografia de ponta a ponta é uma espécie de muro entre as suas mensagens e o mundo lá fora. Trata-se de um recurso de segurança para proteger seus dados de chat: quem acessa as informações trocadas ali são só o remetente e o destinatário.
Segundo Zuckerberg, o Facebook oferece a capacidade de ativar a criptografia de ponta a ponta em chats e chamadas em grupo no Messenger. Isso significa que você precisa iniciar um diálogo com cada um de seus contatos e clicar em “Ir a uma conversa secreta”. Isso abrirá uma nova janela para uma conversa criptografada – mas tudo dito antes não passou por essa barreira de segurança.
Mesmo no WhatsApp, que garante ter criptografia de ponta a ponta em toda e qualquer conversa, é possível acessar esses dados. A Meta não consegue acessá-los diretamente, mas pode contornar a proteção ao monitorar cópias de mensagens descriptografadas e sinalizadas pelos usuários, como mostrou essa reportagem do Gizmodo nos EUA.
Em comunicado, o porta-voz do Facebook, Thomas Richards, disse que a empresa quer tornar a criptografia de ponta a ponta padrão em todos os seus produtos em 2023. Até lá, não saberemos se é possível, ou não, confiar na privacidade nas redes – mesmo nas conversas privadas.