Africano viraliza com esculturas sobre a Covid e vai à Bienal de Pequim

Com a pandemia, o escultor David Ngwerume, do Zimbábue, começou uma coleção inusitada de peças em pedras inspiradas na Covid
David Ngwerume
Imagem: Reprodução Facebook/David Ngwerume

Da África para a China! Quando a pandemia atingiu o mundo, o escultor David Ngwerume, do país africano Zimbábue, pegou seu martelo e o cinzel e assim começou a trabalhar na primeira de uma coleção de peças em pedra inspiradas na Covid. 

O escultor zimbabuense, de 40 anos ,está fazendo o que chama de “Galeria Covid-19”. Agora, quase dois anos e 14 esculturas depois, uma das peças de Ngwerume chegou à China após ser selecionada para uma das maiores bienais do mundo, a 9ª Bienal Internacional de Arte de Pequim, uma exposição que mostra trabalhos de milhares de artistas de mais de 100 países.

A variante Ômicron impediu Ngwerume, que também tem um escritório de advocacia, de acompanhar sua escultura à China, mas em sua casa em Harare, capital do Zimbábue, ele segue determinado a aumentar a coleção de Covid. Sua meta é produzir e expor 25 a 30 esculturas.

Sobre suas peças, uma delas pede que as pessoas se vacinem. Intitulada de “Unto The Third Wave” (“Até a Terceira Onda” em português) , ela mostra uma mulher recebendo uma vacina para Covid-19 de um par de mãos suspensas.

Ngwerume a criou em junho do ano passado, pouco antes de uma terceira onda da pandemia atingir o seu país, e acabou viralizando via imprensa internacional.

“Quando ouvi que uma terceira onda estava chegando, chamei-a de ‘Unto The Third Wave’. Eu estava incentivando as pessoas –vamos nos vacinar, vamos nos preparar para tudo o que está por vir e para as variantes”, explicou ele em entrevista ao jornal inglês The Guardian

Outra peça alerta as pessoas a tomarem medidas de saúde, enquanto ele martela uma mensagem para conter a propagação do vírus. Outra obra, chamada “Estamos rasgados”, incentiva as pessoas a espirrar nos cotovelos. E além dessas, uma mais recente de Ngwerume é a “Michael Jackson”, em homenagem ao falecido ícone pop americano que era conhecido por usar máscaras e luvas. 

Ngwerume começou a esculpir ainda na escola em Musana, nordeste de Harare, sob a tutela do escultor Cosmos Muchenje. Ele adorou a ideia de esculturas serem amplamente visíveis e acha que elas podem retratar melhor uma mensagem do que uma pintura que precisa permanecer dentro de casa. A escultura em pedra tem uma longa tradição no Zimbábue. O material usado por Ngwerume vem de coletas de pedreiras e minas de todo o país.

Foi seu pai que o inspirou a praticar a advocacia e fazer arte ao mesmo tempo. Ngwerume era academicamente talentoso e sempre foi sua ambição seguir uma profissão. “Meu pai costumava me incentivar a fazer as duas coisas”, explicou. “Ele me disse: ‘Você não pode ser um bom artista sem qualificação acadêmica, você vai acabar não entendendo como o mundo está se movendo’.” Agora, Ngwerume faz esculturas em seu estúdio caseiro.

A ideia da coleção sobre Covid nasceu nos estágios iniciais da pandemia, quando o artista se viu pensando no que as pessoas estavam vivenciando e como refletir isso através de sua arte.

“A Covid-19 estava atingindo pessoas em todas as partes do mundo. É uma catástrofe humanitária e não seletiva entre ricos e pobres, negros e brancos, muçulmanos e cristãos… estava cortando tudo o que divide a humanidade”, contou. 

“Eu me senti inspirado [e pensei] sobre qual papel eu deveria desempenhar para conscientizar, para inspirar o mundo. Como podemos lutar juntos contra essa pandemia e como podemos nos enfrentar?”

E para que todos conheçam o seu trabalho, Ngwerume postou as peças online para impedir que a maioria das pessoas venha ao seu estúdio e potencialmente espalhe o coronavírus que causa a doença COVID-19.

Confira algumas delas: 

Seu trabalho atraiu a atenção internacional, além da Bienal de Pequim, e foi destaque em vários meios de comunicação. O maior sonho de Ngwerume é ver seu trabalho exposto em todo o mundo, inclusive na sede da Organização Mundial da Saúde em Genebra. 

“Vindo de um pequeno país da África , sou despercebido e não reconhecido e me pergunto se isso vai acontecer”, diz ele. “Talvez seja apenas um desejo. Não vou parar o que estou fazendo mesmo que acabe expondo em minha casa e mesmo que as galerias não olhem para mim.”

Rayane Moura

Rayane Moura

Rayane Moura, 26 anos, jornalista que escreve sobre cultura e temas relacionados. Fã da Marvel, já passou pela KondZilla, além de ter textos publicados em vários veículos, como Folha de São Paulo, UOL, Revista AzMina, Ponte Jornalismo, entre outros. Gosta também de falar sobre questões sociais, e dar voz para aqueles que não tem

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