Agência dos EUA para de usar cloroquina para tratar casos de emergência de COVID-19
A Food and Drug Administration (FDA, órgão equivalente à Anvisa) anunciou nesta segunda-feira que retirou a aprovação para o uso da hidroxicloroquina e cloroquina em casos de emergência de COVID-19. A agência disse que é “improvável que [a droga] produza efeitos antivirais” e destacou “sérios efeitos colaterais”.
A decisão veio após um pedido de Gary Disbrow, diretor da Autoridade Biomédica de Pesquisa e Desenvolvimento Avançado (BARDA), uma pasta do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA.
“O pedido de hoje para revogação é baseada em novas informações, incluindo resultados de dados de testes clínicos, que levou a BARDA a concluir que essa droga pode não ser efetiva para tratar [o COVID-19] e que os potenciais benefícios da droga para tal uso não prevalece sobre os riscos conhecidos e potenciais”, escreveu Denise Hinton, cientista chefe da FDA.
A hidroxicloroquina e cloroquina continuam aprovadas para outros usos nos EUA – como o tratamento de lúpus, malária e artrite. Justamente por isso, médicos ainda podem tratar pacientes infectados pelo novo coronavírus no chamado uso “off label”. Além disso, testes clínicos também podem continuar.
A BARDA está sob novo comando há menos de dois meses, após o então diretor, Rick Bright, ter sido retirado do cargo depois de pedir mais provas científicas sobre hidroxicloroquina. Bright alegou que ele foi removido de seu posto na BARDA depois de se recusar a dedicar consideráveis recursos financeiros de emergência ao estudo com hidroxicloroquina em vez de terapias comprovadas.
De acordo com o site Politico, empresas farmacêuticas doaram milhões de comprimidos de hidroxicloroquina depois que Bright wrote escreveu à FDA um pedido de uso emergencial. Ele afirma, no entanto, que foi pressionado a tomar essa medida.
Pelo menos dois estudos divulgados neste mês com ensaios controlados com grupos randomizados, considerado o padrão mais alto na ciência, apontaram que a droga não tinha benefícios para pacientes hospitalizados e nem prevenia a infecção ao coronavírus com uso profilático.
Um outro grande ensaio também apontou riscos associados à droga, mas foi retirado após a comunidade científica apontar que os dados não eram confiáveis.
A saga da hidroxicloroquina
O tratamento com hidroxicloroquina e azitromicina ficou em evidência depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmar que o país começaria a testar a droga para tratar pacientes com o novo coronavírus e ao longo dos meses repetiu que o medicamento poderia ser um “divisor de águas”. As afirmações de Trump vieram na esteira da divulgação de um estudo francês que mostravam resultados promissores no uso desse coquetel, que posteriormente foi duramente criticado pela comunidade científica. O autor do estudo já havia se envolvido em diversas polêmicas no passado.
Em abril, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) alteraram o texto em seu website removendo a orientações para o possível uso de hidroxicloroquina e cloroquina pelos médicos.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro também apostou na cloroquina – e continua fazendo menções frequentes ao medicamento, que ainda não possui evidências o suficiente para sustentar seu uso amplo. Os dois ex-ministros da saúde do País alertavam sobre os riscos do uso da cloroquina.
Em maio, o Ministério da Saúde divulgou um documento que orienta o uso da hidroxicloroquina em pacientes com COVID-19. O texto do ministério mantém a necessidade de o paciente autorizar o uso da medicação e de o médico decidir sobre a aplicar ou não o remédio.
O Brasil também anunciou em mais de uma ocasião que estava costurando acordos para trazer hidroxicloroquina ao país. O presidente falou no final de maio, por exemplo, que Trump mandaria 2 milhões de comprimidos para o país.
Ensaios amplos com a hidroxicloroquina e cloroquina ainda estão sendo realizados, inclusive pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda há a possibilidade de os cientistas encontrarem evidências de que o medicamento pode ser eficaz contra o coronavírus, porém as evidências científicas continuando diminuindo as esperanças.