O novo produto de luxo da Apple é a privacidade
A Apple quer te vender todos os tipos de novos serviços: música, revistas, séries de TV, entre outros. Mas com o anúncio do iOS 13, parece que a companhia está transformando uma de suas funcionalidades clássicas em um serviço em si. Ter um alto nível de privacidade será uma das maiores vantagens ao ter um produto da empresa.
O novo serviço Login com a Apple (Sign in with Apple) deve mudar a maneira com que usuários do iOS acessam aplicativos. Em vez de entregar o seu endereço de e-mail para um desenvolvedor ou usar uma conta de rede social como o Facebook ou Google, você poderá logar nos aplicativos usando o seu Apple ID.
Como funciona o Login com a Apple
Ao tocar no botão Login com a Apple você irá se autenticar com o Face ID ou Touch ID e essa opção criará um ID aleatório único para irá evitar que desenvolvedores acessem seus dados pessoais.
Se um desenvolvedor pedir por um endereço de e-mail, a função te perguntará se você quer gerar um e-mail aleatório único que manterá o seu verdadeiro endereço privado. Qualquer mensagem que o aplicativo decida mandar para você será encaminhado a partir desse endereço aleatório para a sua caixa de entrada.
Quanto isso custa e o que está em jogo
O novo serviço será liberado com o lançamento do iOS 13, o que significa que ele é quase gratuito. Você só precisará de um dispositivo iOS que rode a nova versão do sistema – compatível a partir do iPhone 6s.
Na prática, isso significa que se você quiser entrar para o clube da superprivacidade da Apple, será preciso ter um dispositivo que custa pelo menos uns R$ 1.800. Fica um pouco mais em conta se você comprar um dispositivo usado, muito embora seja meio bobo se referir a qualquer coisa que a Apple vende como “barato”.
É claro que alguém pode dizer que você pode ignorar a Apple e gastar sua grana em um smartphone Android com especificações superiores e que custa menos. Mas optar por um celular com sistema operacional do Google tem um custo diferente.
O que torna o Login com a Apple uma alternativa tão atrativa para os outros tipos de login é que ele previne que empresas como o Google e Facebook rastreie seus acessos. Ambas as empresas oferecem esses serviços de login para obter acesso a valiosos dados de usuários. Em outras palavras, os usuários têm a facilidade de acessar app com um toque, mas sacrificam sua privacidade.
Existe uma grande chance de que desenvolvedores odeiem o Login com a Apple. Para iniciantes, a Apple diz em uma atualização às suas diretrizes de revisão para submissões na App Store que a opção de Login com a Apple “será exigido como uma opção para os usuários de aplicativos que suportem logins com serviços de terceiros quando a opção estiver comercialmente disponível até o final deste ano”.
Em outras palavras, se um desenvolvedor quiser oferecer as opções de login do Facebook ou do Google, eles precisarão incluir a opção da Apple também. Isso pode ser ruim para desenvolvedores, mas é inegavelmente bom para os usuários do iOS, que até agora não tinham uma maneira totalmente privada e segura de fazer login nos aplicativos.
Privacidade como produto
Ainda assim, alguns céticos estão se perguntando se a Apple está apenas reforçando suas ofertas de privacidade em uma tentativa de convencer mais pessoas a comprar iPhones. É claro que é!
A Apple sempre se posicionou como uma empresa de tecnologia que se importa com a privacidade dos usuários, e esse mote de vendas se tornou mais convincente a medida que os vazamentos de dados se tornaram piores e as empresas famintas por dados como o Google começaram a coletar mais e mais informações pessoais.
Anúncios direcionados, como resultado, estão ficando cada vez mais esquisitos – assustadores a ponto das pessoas pensarem que o Facebook grava as nossas conversas no mundo real para oferecer personalizações melhores.
Essa teoria da conspiração provavelmente não é verdadeira, mas é assustador o quanto empresas como o Facebook e o Google sabem sobre nós, em parte pela suas opções de login. Portanto, não é absurdo pensar que algumas pessoas estariam dispostas a pagar um pouco mais por um iPhone para evitar a vigilância do Big Brother Google.
Algumas dúvidas e mais privacidade como produto
O Login com a Apple só vai ser lançado no último trimestre do ano e ainda há muitas dúvidas sobre o serviço. Por exemplo, não está claro se existirá uma versão do Login com a Apple para pessoas que possuem um Apple ID mas não estão acessando a conta via um dispositivo iOS. Baseado no fato de a função estar listada como uma função do iOS, parece improvável a disponibilidade dos itens mencionados a curto prazo.
Crédito: Captura de tela
O que sabemos é que a Apple está indo além em sua cruzada pela privacidade enquanto um novo serviço chega apenas para determinados produtos. Além do Login com a Apple, a companhia revelou um par de novas soluções do HomeKit que permite que fabricantes de câmeras de segurança e roteadores utilizem funcionalidades de privacidade.
O HomeKit Secure Video irá funcionar com novas câmeras da Arlo, Logitech e outras, permitindo que as transmissões sejam criptografadas pela Apple e enviadas diretamente para o iCloud.
E pode apostar que a Apple irá cobrar os usuários dessas câmeras pelo armazenamento do iCloud, embora a companhia não tenha revelado detalhes sobre esses planos. Sabemos menos ainda sobre os roteadores com HomeKit, mas a Apple disse que roteadores de companhias como a Eero e Linksys serão mais privados e seguros.
A privacidade como um serviço pode parecer uma boa ideia. Está bem claro que empresas com negócios baseados em dados ou uma iniciativa que coleta a maior quantidade de informações pessoais possíveis tem pouco interesse em proteções fortes à privacidade.
Basta olhar para a Amazon e o pesadelo sem fim de privacidade que é a Alexa para provar esse ponto. Como Tim Cook ama dizer, a Apple não tem interesse em vender os dados de usuários, então está dobrando suas apostas no comprometimento com a privacidade. A empresa também vai dobrar suas apostas em seu comprometimento com a venda de iPhones e, sim, com a venda de serviços. A Apple não se tornou uma empresa trilionária dando as coisas de graça.