Apple supostamente aconselhou produtores de filmes e séries do Apple TV+ a não desagradarem a China

Segundo relatos, no início de 2018, os criadores responsáveis por conteúdos para a Apple TV+ foram instruídos a evitar representar a China de forma negativa.
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Na semana passada, Tim Cook, CEO da Apple, decidiu dar uma explicação nada convincente do porquê a empresa havia removido o aplicativo HKmap.live, utilizado por manifestantes de Hong Kong. Apesar de afirmar que o app estava sendo utilizado para “atacar policiais individualmente”, o que violaria as diretrizes da App Store, o argumento foi visto com ceticismo.

Na sexta-feira (11), o BuzzFeed News apresentou novos fatos envolvendo a Apple e o governo chinês que, para a surpresa de ninguém, reforçam a ideia de que as decisões da empresa foram motivadas por questões financeiras.

O site de notícias relata que, no início de 2018, época em que a empresa de Tim Cook estava desenvolvendo conteúdos exclusivos para a Apple TV+, os criadores responsáveis foram instruídos a evitar representar a China de forma negativa. As fontes afirmam que os comunicados vieram de Eddy Cue, vice-presidente sênior de software de internet e serviços da Apple, e Morgan Wandell, diretor de desenvolvimento de conteúdo internacional.

Em 2016, a iBooks Store e o iTunes Movies estrearam na China. Porém, apenas seis meses depois, Pequim retirou os dois serviços. Desde então, a Apple tem sido muito cuidadosa para manter um bom relacionamento com o governo local.

Conforme observa o BuzzFeed, a gigante de tecnologia fatura dezenas de bilhões em vendas na China e depende do país para a produção de centenas de milhões de iPhones que são vendidos em todo o mundo anualmente. Portanto, por mais que Tim Cook não concorde com as práticas locais, os negócios falam mais alto.

O HKmap.live, por exemplo, não foi o único app a ser removido da App Store. Na segunda metade de 2018, a Apple questionou ou rejeitou apenas duas das 56 solicitações da China, resultando na remoção de 517 aplicativos a pedido do governo, segundo o próprio relatório de transparência da empresa. A companhia afirma que a maioria deles era de pornografia e jogos de aposta, mas o número também inclui ferramentas de VPN e de notícias (como o New York Times).

Outro número ainda mais grave: a Apple forneceu dados de usuários ao governo chinês 96% das vezes em que foi feita uma solicitação sobre um dispositivo, e 98% das vezes em que foi questionada sobre uma conta. Em comparação, nos EUA esses números giraram em torno de 80% e o governo norte-americano não fez nenhuma solicitação para remover aplicativos, relata o BuzzFeed.

Em 2018, o armazenamento do iCloud e chaves de criptografia dos usuários chineses da Apple também foram transferidos para a China. Com isso, o governo passou a ter um acesso mais fácil aos dados.

Outra acusação ocorreu em setembro, quando a empresa pareceu ignorar a seriedade de um ataque exploratório direcionado aos uigures, uma minoria étnica na China. A resposta da Apple, na época, foi que “o ataque sofisticado foi estritamente focado, não uma exploração ampla de iPhones em massa”, acrescentando que “o ataque afetou menos de uma dúzia de sites que focam em conteúdos relacionados à comunidade uigure”.

Todos esses relatos indicam que a Apple, de fato, tem cedido frequentemente às imposições do governo chinês. Ainda assim, o BuzzFeed nota que a empresa não é a única. O Google já removeu da Play Store um jogo que permitia que o usuário se passasse por um manifestante em Hong Kong. Já a Blizzard enfrentou boicote após suspender um jogador que apoiava os protestos em Hong Kong.

[BuzzFeed News]

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