Ciência

Até as ostras podem ter insônia, segundo estudo francês

Pesquisa expôs ostras à luz artificial durante a noite e concluiu que poluição luminosa pode alterar comportamento e genes do molusco
Imagem: Charlotte Coneybeer/ Unsplash/ Reprodução

As ostras não têm olhos — pelo menos não no sentido convencional –, mas a luz interfere em seu ciclo circadiano. Esta descoberta é resultado de um estudo publicado na revista Marine Pollution Bulletin.

O experimento buscou entender como a poluição luminosa dos grandes centros urbanos costeiros pode afetar a saúde destes moluscos. Assim, pesquisadores descobriram que a luz artificial à noite pode alterar o comportamento das ostras, além de mudar a atividade de genes importantes.

Entenda a pesquisa

Uma equipe de cientistas do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França colocou quatro tanques com ostras em salas diferentes. Então, cada um deles foi exposto a uma intensidade de luz artificial à noite e apenas um ficou sob total escuridão. 

Como o movimento das conchas é o único comportamento destes moluscos que pode ser observado, a equipe também colocou eletrodos em cada unidade de ostra. Por fim, os pesquisadores compararam o comportamento delas.

Todas as manhãs, as luzes artificiais se acendiam lentamente, imitando o nascer do sol. À noite, as salas nunca ficam completamente escuras, exceto em um tanque. 

Com a iluminação artificial em diferentes intensidades, os pesquisadores buscaram simular o brilho fraco da poluição luminosa que atinge muitas espécies marinhas em seus habitats naturais.

No tanque de que não recebeu iluminação artificial durante a noite, as ostras ficavam mais ativas no meio do dia e começavam a fechar suas conchas quando as luzes se apagavam.

Já entre aqueles tanques sob exposição à luz artificial à noite, elas permaneceram abertas em horários diversos. Inclusive, muitas apresentaram o pico de atividade no início da noite.

Segundo os pesquisadores, as ostras têm certos genes que ficam ativos durante o dia, enquanto outros se ligam à noite. Em geral, a exposição à luz noturna eliminou essa diferença. 

Eles perceberam isso por meio de um gene que equivale a àquele que produz melatonina em mamíferos. Nas ostras, esse gene é expresso mais à noite. Contudo, a iluminação alterou tanto o ciclo circadiano natural dos moluscos que o gene passou a ser altamente ativo durante o dia também.

O surpreendente foi que até mesmo o nível mais baixo de luz noturna que a equipe testou, em um nível considerado “abaixo da intensidade da lua cheia”, foi suficiente para interferir no ciclo circadiano das ostras.

O impacto da luz imprópria nas ostras

Em termos humanos, isso é chamado de insônia. Nas ostras, assim como nos humanos, isso afeta negativamente a saúde. 

Na prática, isso causaria um desequilíbrio ambiental. Isso porque estes moluscos filtram a água e protegem as costas de tempestades. Como espécie cultivada comercialmente, ainda fornecem alimentos e empregos para as comunidades.

De modo geral, pesquisadores suspeitam que a poluição luminosa possa tornar as ostras mais vulneráveis ​​a doenças a longo prazo. No entanto, muitas das consequências específicas ainda precisam ser estudadas.

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Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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