Até hoje, a seleção brasileira foi a única a participar de todas as Copas do Mundo – inclusive as que ficaram marcadas pelas polêmicas. O torneio de futebol da Fifa, que começou no Uruguai em 1930, acompanha a história moderna em episódios que vão desde um regime fascista até boicotes por violações aos direitos humanos, na Copa do Catar.
Em 1934, a equipe brasileira, ainda com seu uniforme branco, disputou o Mundial na Itália, país que estava sob o regime fascista do ditador Benito Mussolini.
Foi a campanha mais rápida do Brasil em uma Copa – na verdade, os jogadores ficaram mais tempo no navio indo e voltando da Europa que disputando o campeonato de fato. A viagem de 30 dias (15 dias para ir e outros 15 para voltar) foi só para jogar 90 minutos contra a Espanha.
Com um time que mesclava profissionais e amadores, o escrete brasileiro perdeu de 3 a 0 para os espanhóis e voltou logo para casa. Mas não sem antes participar do mata-mata que rendeu à Itália seu primeiro título no Mundial – e alavancou a propaganda fascista de Mussolini pelo mundo.
Furou boicote dos vizinhos
Em 1938, o Brasil furou o boicote dos países latinos, que decidiram não participar do Mundial. A Argentina começou o movimento, que defendia um rodízio entre os continentes e queria sediar a competição.
Os hermanos conseguiram o apoio do Uruguai, que guardava rancor da baixa presença dos europeus em 1930, e de todos os países latinos – com exceção de Brasil e Cuba. Por causa disso, as duas seleções ganharam passe direto da Fifa para a Copa na França.
Depois de 1938, a Segunda Guerra Mundial impediu a realização das Copas de 1942 e 1946, e o campeonato só voltou em 1950.
Sede da Copa pela primeira vez, o Brasil chegou na final, mas sofreu a dolorosa derrota para o Uruguai no episódio conhecido como Maracanazzo, quando cantou vitória antes da hora e perdeu em frente ao Maracanã lotado.
E é a partir deste trauma – mas não por causa dele, é claro – que começa o período turbulento da Guerra Fria. Desde 1958, quando a União Soviética participou da Copa pela primeira vez, as disputas de futebol foram apimentadas com as rusgas políticas que cresciam fora do campo.
Anos de Guerra Fria
O único boicote propriamente relacionado à Guerra Fria aconteceu em 1973, nas eliminatórias para o Mundial do ano seguinte, na Alemanha.
A União Soviética se recusou a jogar no mesmo estádio que vinha sendo usado pelos militares golpistas do Chile como um centro de detenção e tortura de presos políticos.
O jogo aconteceu mesmo sem a seleção soviética em campo. Sim, os jogadores chilenos entraram no gramado, trocaram alguns passes e fizeram um gol sozinhos. Assim, o “não-jogo” garantiu ao Chile uma vaga na Alemanha.
Sempre presente
O Brasil também estava na Copa de 1974, quando a Alemanha Oriental disputou contra a Alemanha Ocidental – uma divisão da Guerra Fria que representava os modelos socialista e capitalista –, outro momento icônico na história das Copas.
Em 1978, a seleção canarinho foi à Argentina com expectativas lá no alto. O time contava com craques como Zico, Reinaldo e Roberto Dinamite, que levaram o grupo para a semifinal. Mesmo assim, o Brasil não se classificou e voltou para casa.
Mas o que chama a atenção nessa Copa é que um boicote pode ter levado à vitória da seleção argentina. O jogador holandês Johan Cruyff, uma lenda no futebol, decidiu não participar do Mundial de 78.
Um motivo provável para a decisão, mas que nunca ficou claro, é que Cruyff seria contrário à ditadura de Jorge Videla, que liderou a Argentina entre 1976 e 1981 e foi condenado por desaparecimentos de opositores e outros crimes contra a humanidade. Na final, a Argentina ganhou da Holanda por 3 a 1 e a seleção holandesa amargou a ausência de Cruyff.
O Brasil não só esteve em todas as Copas, como também nunca faltou a amistosos relacionados ao Mundial. Em 2004, a seleção foi ao Haiti para o Jogo da Paz.
Com intermédio da missão da ONU (Organização das Nações Unidas), a bola do pé foi decisiva para selar a estabilidade no Haiti depois de um conflito armado que matou milhares e destruiu parte do país caribenho.
Como esperado, a seleção brasileira volta ao campo do Mundial no Catar, em 2022, apesar dos protestos e movimentos de boicotes sobre o torneio no país árabe.