Casos de câncer em jovens aumentam e a vilã pode ser alimentação
Começou com uma nova percepção do cotidiano. Dois médicos — Cathy Eng, nos EUA, e George Barreto, na Austrália — perceberam que cada vez mais recebiam pacientes jovens com diagnóstico de câncer. Eles passaram a investigar o problema e, reunindo dados, constataram que as taxas de mais de 12 tipos de cânceres estão aumentando entre adultos com menos de 50 anos – algo chamado de câncer precoce.
Em geral, o aumento da incidência varia de país para país e também de câncer para câncer. Contudo, modelos baseados em dados globais preveem que a tendência é que o número de casos da condição precoce aumente cerca de 30% entre 2019 e 2030.
Frequentemente, esses casos afetam o sistema digestivo, com alguns dos maiores aumentos nas taxas de câncer colorretal, pancreático e gástrico.
A relação com a alimentação
Dessa forma, especialistas acreditam que determinantes sociais e de saúde tenham alguma influência sobre o cenário. Por exemplo, o acesso a alimentos saudáveis e o estilo de vida provavelmente têm algum papel no aumento desses tipos de câncer precoce.
Cientistas também apontam para a coincidência do período crescente de casos oncológicos gastrointestinais e precoces com mudanças na dieta em muitos países. Atualmente, as taxas de obesidade aumentam a nível global e, cada vez mais, novos estudos evidenciam os riscos das dietas ricas em alimentos ultraprocessados.
Além disso, pesquisadores buscam também uma possível relação com alterações na microbiota intestinal. Estudos anteriores já encontraram associações entre mudanças na composição do microbioma, inflamação e aumento do risco de várias doenças, inclusive o câncer.
Contudo, a lista de itens que impactam a microbiota intestinal é extensa e, por isso, esse é um trabalho árduo de pesquisa. Para cientistas, é preciso analisar o cenário de maneira mais profunda.
Múltiplos fatores
Mas pesquisadores que já estão envolvidos com o tema afirmaram à revista Nature que, quanto mais tempo passam investigando, mais claro fica que não há apenas uma coisa em particular.
Além das suspeitas relacionadas à alimentação e estilo de vida, cientistas também investigam pistas genéticas. Um estudo conseguiu identificar características de tumores agressivos em câncer precoce. Por exemplo, que eles são capazes de suprimir respostas imunológicas à doença.
Agora, outras pesquisas analisam também a relação entre a vida no estágio pré-natal e a tendência a desenvolver câncer precoce.
“Se fosse uma única bala de prata, nossos estudos teriam pelo menos apontado para um fator. Mas não parece ser assim — parece ser uma combinação de muitos fatores diferentes”, concluiu Sonia Kupfer, gastroenterologista da Universidade de Chicago em Illinois, à revista Nature.