Ciência

Comer ultraprocessados em excesso aumenta risco de depressão e ansiedade

Estudos comprovam associação entre os alimentos ultraprocessados - ricos em aditivos, açúcar e gordura - e problemas de saúde mental
Imagem: Nico Smit/ Unsplash/ Reprodução

Não é novidade que o consumo de alimentos ultraprocessados tem relação com o desenvolvimento de algumas doenças crônicas e com um aumento no risco de morte por elas. Agora, mais um estudo foi publicado confirmando essa associação.

De acordo com a pesquisa, há conexões diretas entre o consumo elevado desses alimentos e um maior risco de mortes relacionadas a doenças cardíacas, diabetes tipo 2, obesidade, chiado no peito. 

Mas não só: há também uma relação com condições de saúde mental, como ansiedade, depressão e problemas de sono. 

“Embora a relação exata de causa e efeito ainda seja desconhecida, a evidência observacional mais forte de estudos prospectivos sugere a ideia de que comer grandes quantidades de alimentos ultraprocessados aumenta o risco de depressão no futuro”, disse à National Geographic Melissa Lane, autora do estudo.

Ultraprocessados e saúde mental

A nova pesquisa mostra que, embora sejam saborosos e práticos para muitas pessoas, alimentos como refrigerantes, barras de cereal e pizzas congeladas, por exemplo, são prejudiciais à cognição. 

E estudos anteriores confirmam essa associação entre o consumo excessivo de ultraprocessados e os danos à saúde mental. Veja o que a ciência já reuniu de dados.

Os efeitos no cérebro

Embora os cientistas não possam bater o martelo em como essa relação se dá no organismo, eles têm algumas hipóteses. E elas são bastante similares às razões pelas quais os ultraprocessados estão associados às doenças crônicas.

Da mesma maneira que ingerir muito sal, açúcar e gordura saturada se relaciona com a inflamação crônica, pressão alta, açúcar alto no sangue, doenças cardíacas e diabetes tipo 2, essas condições também afetam o funcionamento do cérebro. 

Em geral, elas podem aumentar o risco de demência vascular, que é quando o fluxo sanguíneo que chega ao cérebro diminui. 

Além disso, esses alimentos possuem alta quantidade de aditivos. Alguns deles, como o glutamato monossódico, podem interferir na produção e liberação de substâncias químicas cerebrais. 

Quando isso acontece com a dopamina e a serotonina, por exemplo, afeta negativamente o bem-estar de uma pessoa.

O excesso de calorias contidas nos ultraprocessados também podem ter seu papel nessa relação. Em geral, por terem sabores acentuados, agradam ao paladar das pessoas. Ao mesmo tempo, não trazem saciedade e são feitos para serem consumidos constantemente, o que leva ao ganho de peso e acúmulo de gordura – não à toa eles estão relacionados à obesidade.

Nesses casos, as células de gordura se tornam disfuncionais e liberam moléculas inflamatórias, que são gatilhos para depressão, ansiedade e demência.

Por fim, cientistas também apontam que consumir alimentos ultraprocessados faz com que as pessoas negligenciem frutas, vegetais e grãos, que são repletos de nutrientes que fazem bem ao cérebro.

Por exemplo, existem cerca de oito mil variedades de polifenóis com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Em geral, uma alimentação com baixa quantidade dessas substâncias também estão ligadas à depressão.

Um vício que é preciso abandonar

“Você não encontra alimentos naturais ricos em açúcar e gordura. Isso é uma característica dos alimentos ultraprocessados. Adicione sal, aromatizantes artificiais e cores brilhantes, e nosso cérebro simplesmente perde o controle sobre esses alimentos”, afirmou à National Geographic a professora de psicologia Ashley Gearhardt.

Dessa forma, esses produtos têm mais em comum com um cigarro do que com alimentos naturais, segundo a pesquisadora.

Para Gearhardt, o primeiro passo para mudar a alimentação e sair do ciclo vicioso é “tratar-se com compaixão. Não é culpa sua, você está em um ambiente projetado para viciá-lo”.

O ideal é comer três refeições e dois lanches ao dia, embora o recomendado varie de pessoa a pessoa. Contudo, mantendo as refeições regulares, evita-se ficar com muita fome e, consequentemente, diminui o impulso de comprar opções baratas e rápidas, como os alimentos ultraprocessados.

Troque progressivamente as opções ultraprocessadas por aquelas que passam por menos processamentos. Por exemplo, nozes e frutas são boas possibilidades de lanches. Caso esteja em dúvida, leia os rótulos dos alimentos e opte por aqueles com menos ingredientes, menos sódio e menos açúcar adicionado.

Por fim, se ainda não souber fazer escolhas mais saudáveis, o Guia Alimentar para a População Brasileira lista os alimentos que se encaixam em cada classificação.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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