Cerejeiras do Japão nunca floresceram tão cedo como em 2021 nos últimos 1.200 anos

O pico de floração em Kyoto deste ano, em 26 de março, é o mais precoce já registrado e está 10 dias à frente da média dos últimos 30 anos.
Crédito: Eugene Hoshiko (AP)

Tão lindo, mas tão triste! As flores de cerejeira em Kyoto, no Japão, atingiram seu pico de floração na semana passada — o período mais cedo já registrado e, alguns dizem, a floração mais precoce das árvores em mais de 1.200 anos. E as mudanças climáticas definitivamente têm um papel nisso.

A Agência Meteorológica do Japão mantém registros oficiais do florescimento de árvores em todo o país, que é feito a partir do rastreamento das flores em uma série de árvores “referência”, desde 1953. O pico de floração em Kyoto deste ano, em 26 de março, é o mais precoce já registrado e está 10 dias à frente da média dos últimos 30 anos.

Mas os dados sobre as árvores na forma de documentos históricos, diários, poemas e outros registros imperiais remontam ao início dos anos 800 (sim, é uma data de três dígitos). Yasuyuki Aono, um cientista ambiental da Universidade da Prefeitura de Osaka, tem vasculhado esses registros e os disponibilizado online como um conjunto de dados. O desabrochar das cerejeiras é uma época do ano culturalmente significativa no Japão — historicamente, há celebrações e festivais para a chegada das flores –, tornando possível o acompanhamento consistente de sua alta temporada em documentos históricos.

Os registros de Aono não estão totalmente completos — ele disse que faltam informações de alguns anos, o que é compreensível dado o extenso período a ser coberto. Mas, de acordo com esses registros históricos, o primeiro recorde anterior foi estabelecido em 1409 — as flores atingiram o pico em 27 de março daquele ano.

Não é por acaso que as cerejeiras de Kyoto floresceram tão cedo este ano, ou que dados históricos sugerem que esses eventos estão gradualmente se tornando cada vez mais precoces. A temperatura média na cidade em março do ano passado atingiu 10,6 graus Celsius, um grande aumento em relação à média de 8,6 Celsius em 1953. As flores de cerejeira são especialmente sensíveis às mudanças de temperatura — as árvores florescem apenas por cerca de duas semanas a cada ano –, o que significa que elas fornecem um barômetro valioso de como até mesmo mudanças mínimas no clima podem afetá-las.

O florescimento extremamente precoce deste ano não se limitou a Kyoto. Em todo o Japão, as cerejeiras desabrocham cada vez mais cedo. Das 58 árvores “referência” que a Agência Meteorológica do Japão registra a cada ano, 40 já atingiram o pico de floração, e 14 delas atingiram o auge em tempo recorde.

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“Podemos dizer que a explicação mais provável é o impacto do aquecimento global”, disse Shunji Anbe, da divisão de observações da Agência Meteorológica do Japão, à agência de notícias AP.

As primas das cerejeiras em Washington, D.C. — plantadas em março de 1912 depois que o Japão enviou mais de 3.000 árvores como um gesto de amizade aos EUA — também estão em plena floração agora. E elas também tendem a florescer mais cedo, à medida que as temperaturas aumentam na cidade. Um estudo de 2011 previu que as árvores sensíveis poderiam florescer cinco dias antes da média histórica em 2050 e 10 dias em 2080 em um cenário de emissões de médio porte. No caso de emissões mais altas, essa antecipação poderia ser de 13 e 28 dias, respectivamente.

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