Chamadas automatizadas são os maiores exemplos de como a automação pode ser ruim

Pesquisa mostra como clientes nos EUA estão insatisfeitos com chamadas automatizadas, mas as empresas não param de avançar neste ramo.
Martelo ao lado de smartphone atingido por ele

Como postos de auto-atendimento, menus automatizados de telefones são um ótimo exemplo de má automação. Eles são exemplos do tipo de sistema automatizado que ninguém pediu e que foram feitos para reduzir os custos de mão de obra, dificultando a vida de todos os envolvidos, em última análise.

Tenho estudado de forma aprofundada em como esses sistemas ruins passaram a ter certa onipresença corporativa, mas, por enquanto, só tive que fazer um pouco de pesquisa sobre automação de atendimento ao cliente para entender o fenômeno. De acordo com uma pesquisa encomendada pela Invoca, uma empresa de software de rastreamento de chamada dos EUA, e realizada pela empresa Harris Poll, mais da metade dos usuários ficam instantemente frustrados sempre que encontram um sistema automatizado de atendimento ao cliente:

“A pesquisa descobriu que quando uma companhia tem comunicações automatizadas — sem a opção de interação humana — mais da metade dos consumidores (52%) se sente frustrada e quase um em cada cinco (18%) se irrita, com apenas 16% dizendo que desfrutar desse tipo de experiência com uma marca.”

Considerando que o estudo foi encomendado por uma empresa de análise de chamadas, isso parece bastante notável, até porque nós temos de suportar esses sistemas — os call centers automatizados existem há décadas, apesar de só recentemente chegarmos à mega perversidade que temos atualmente. Apenas 16% das pessoas pesquisadas achavam ok respostas automatizadas, 18% ficaram ativamente irritadas com elas, e mais da metade ficou frustrada com elas — mesmo depois que as empresas que implantaram a tecnologia tiveram décadas para melhorar esse tipo de experiência.

Não tem rosto, está por toda parte e é detestado — uma péssima situação, não? Além disso, como observa a Invoca, “especialistas” em fornecimento de software de tecnologia corporativa, como a IBM, projetam que “até 2020, 85% de todas as interações com clientes serão tratadas sem um agente humano”. No próximo ano, se a IBM e a Invoca estiverem certas, a porcentagem de chamadas tratadas inteiramente por sistemas automatizados de inteligência artificial corresponderá quase perfeitamente à porcentagem de pessoas que não gostam delas.

Agora, sendo sincero, esta é uma estimativa bem otimista da IBM, mas que é fácil de engolir. Quando ligamos para qualquer corporação com a qual temos a infelicidade de ter que interagir — um banco, a Amazon, uma seguradora, etc — esperamos um sistema automatizado. É a norma. Também há uma correlação que indica que quanto maior for a empresa, maior a probabilidade de ser atendido por um sistema automatizado.

Você fica preso à sua empresa de telefonia ou ao seu provedor de internet. Você entra em contato com eles e, com certeza, vai ser atendido por um sistema automatizado. O mesmo acontece com a Amazon, praticamente qualquer grande varejista corporativo, e assim por diante. Essas empresas sabem que você, provavelmente, odeia esses sistemas automatizados de chamadas, mas elas mantêm dessa forma para manter uma estrutura mais enxuta. É por isso que algumas dessas companhias incluem um botão vermelho de escape para usuários enfurecidos, fazendo com que os xingamentos dele acelerem o contato com uma pessoa real.

O resultado dessa tendência — que é inevitavelmente pregada por impulsionadores de inteligência artificial, dos vendedores de software corporativo e escritores do ramo de tecnologia em toda parte — é que, além de piorar as experiências da maioria das pessoas envolvidas, milhões de empregos provavelmente serão perdidos. De acordo com o Site Selection Group, um consultoria de negócios, há 3,3 milhões trabalhadores de call center nos EUA, e quando 85% de todas as interações de atendimento são realizadas por inteligência artificial e sistemas automatizados, isso provavelmente significa milhões de postos de trabalho a menos.

De fato, estudos mostram que funcionários de call center ficam no topo da lista de “empregos mais vulneráveis à automação”. Não é de se admirar o motivo: sistemas automatizados de resposta de voz são sete vezes mais baratos do que agentes ativos, em pelo menos uma estimativa. Essa é uma razão convincente para qualquer gerente ou executivo fazer lobby por automação, e é por isso que as pessoas temem pegar o telefone para fazer praticamente qualquer negócio com uma corporação.

Dessa forma, multinacionais, empresas de serviços públicos e quase monopólios estão implementando sistemas que a maioria de nós despreza ou, na melhor das hipóteses, tolera. A tecnologia está melhorando, mas quase todo mundo ainda prefere falar com uma pessoa do que com uma inteligência artificial desajeitada. O assistente de voz do Google e outros sistemas podem derrubar o regime atual — o Google até mesmo oferece uma tecnologia de chamadas automatizadas com um certo poder de inteligência artificial, mas até então o atendimento ao cliente continuará sendo dominado por uma automação ruim.

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