Cientistas identificam novo antibiótico que pode matar superbactérias
A descoberta de antibióticos no início do século passado pavimentou um importante caminho na luta da ciência contra as doenças bacterianas. No entanto, o desenvolvimento de bactérias super resistentes é agora um grande problema.
Um novo estudo publicado na revista Frontiers in Microbiology elaborou uma metodologia para identificar como um antibiótico funciona dentro das células bacterianas. A partir disso, os pesquisadores descobriram que a junção de duas substâncias mata de maneira efetiva uma bactéria resistente à meticilina, a Staphylococcus aureus (MRSA).
Essas substâncias foram desenvolvidas na NTNU (Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia) e podem se tornar um antibiótico novo, utilizado contra um amplo grupo de bactérias.
Uma nova metodologia
De modo geral, cada bactéria conta com mais de 10 mil proteínas em sua composição. Algumas delas — cerca de duas mil — são chamadas de proteínas sinalizadoras, porque controlam grande parte do que acontece com as células bacterianas.
“Essas proteínas podem ser comparadas a semáforos, que podem mudar de vermelho para verde e vice-versa. Fazendo com que mudem para vermelho, você interrompe uma via de sinalização importante dentro da célula”, diz Singleton.
Assim, quando uma substância em teste muda o sinal para vermelho em um processo chave dentro de uma célula bacteriana, ela já é considerada como um possível antibiótico. Da mesma forma, se ela gerar um sinal vermelho para vários processos diferentes, é uma candidata ainda melhor.
Então, durante o estudo, os pesquisadores da NTNU observaram se duas substâncias ativaram ou desativaram as proteínas sinalizadoras.
Substâncias promissoras
Para isso, eles testaram substâncias que tinham potencial para se tornar um novo antibiótico. A primeira é um peptídeo específico que tem propriedades bactericidas. Isso porque ele age sobre uma proteína bacteriana que é responsável pela cópia do DNA do microrganismo.
Sem conseguir fazer a cópia do material genético, a bactéria não consegue se reproduzir e morre.
“Nenhum outro antibiótico ataca essa proteína. Isso significa que é um novo alvo, e portanto não há bactérias resistentes a esses peptídeos. Como essa proteína alvo é encontrada em todas as bactérias, esses peptídeos também funcionam contra bactérias multirresistentes”, diz Marit Otterlei, autora do estudo.
A segunda substância estudada consiste em moléculas que impedem a formação dos blocos de construção do DNA bacteriano. Depois de testes, os cientistas descobriram que elas também inibem o metabolismo de energia dentro da célula da bactéria.
Em conjunto, moléculas e peptídeos formaram o que os pesquisadores chamam de efeito sinérgico. Isso significa que as substâncias complementam e potencializam a ação uma da outra, matando bactérias resistentes de forma muito mais eficaz do que quando usadas separadamente.
Avanço na ciência
De acordo com os pesquisadores, esta é a primeira vez que a eficácia dos antibióticos foi estudada dessa forma. “Isso nos dá uma maneira completamente nova de avaliar novos candidatos a antibióticos”, diz Otterlei.
A partir dessa metodologia, eles descobriram um potencial novo medicamento que não só cumpre seu papel de matar as bactérias resistentes como também impede que elas mutem e ganham novamente resistência ao medicamento.
Isso porque cada substância funciona em lugares completamente diferentes dentro da célula bacteriana. Assim, desenvolver resistência a ambos é um fardo muito grande para os microrganismos.
“Em nosso caso, a proteína que nosso novo candidato a antibiótico ataca desempenha um papel tão fundamental na cópia do DNA da bactéria antes que ela possa se dividir, que se ocorrer uma mutação, a perda de aptidão se torna tão grande que a bactéria morre”, diz Amanda Singleton, outra autora do estudo.