Comer dá sono? Entenda porque o corpo pede uma sonequinha depois do almoço
Não é só com você: sentir uma certa moleza e sonolência depois do almoço está nos genes do ser humano. O principal culpado é o ritmo circadiano, também conhecido como “relógio biológico” – ou as mudanças físicas e mentais que acontecem nos nossos corpos ao longo do dia.
O relógio biológico não define apenas os ciclos de sono, mas também está ligado às nossas refeições e atividades. Até mesmo moscas e camundongos têm o seu próprio ritmo circadiano. Assim como em seres humanos, o que mais afeta esse ciclo é a exposição à luz – e, provavelmente, nossa alimentação.
Uma pesquisa publicada em 1988 na NCBI (Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA) mostrou que o estado de alerta dos seres humanos tende a ser mais baixo em dois momentos do dia: de madrugada, por volta das 2h e 7h, e à tarde, entre 14h e 17h.
Depois do almoço, a circulação do nosso corpo muda para acomodar mais fluxo sanguíneo para o sistema digestivo. Isso significa que vai haver menos sangue para o cérebro, o que pode desencadear algum cansaço.
Ao mesmo tempo, um emaranhado de hormônios, moléculas e neurotransmissores entra em ação. Um deles é a orexina, um neurotransmissor no cérebro que afeta a fome e nos ajuda a ficar acordados. Mas os níveis de glicose aumentam depois de uma refeição, o que pode inibir a orexina. Por isso, ficamos mais sonolentos.
Algo parecido acontece com o triptofano, um aminoácido que se transforma em melatonina, o hormônio associado ao sono. Um estudo de 2003 do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), descobriu que comer muitos carboidratos pode levar ao influxo de triptofano no cérebro.
O motivo é bem simples: de modo geral, a insulina diz para o corpo armazenar aminoácidos nas células, mas não faz a mesma coisa com o triptofano.
Comer dá sono? Depende o cardápio
Apesar do nosso relógio biológico ter bastante influência na vontade de tirar uma soneca depois do almoço, o que comemos também afeta esse comportamento.
Um ensaio clínico realizado em 1995 pela Universidade de Sheffield, na Inglaterra, associou o cansaço ao consumo de frituras, gorduras animais saturadas e refeições altamente calóricas. Ao mesmo tempo, um prato à base de plantas e dieta mediterrânea (peixes, alimentos integrais, etc) foi relação a uma maior disposição depois da refeição.
“Com base no que sabemos, é uma boa ideia comer vegetais, que são ricos em fibras e podem ajudar a regular o açúcar no sangue no almoço”, esclareceu a médica Lydia Kang em entrevista ao jornal Washington Post.
A médica sugere evitar grandes porções de proteína e gordura animal. “Tente comer carboidratos complexos, como grãos integrais e legumes. Afaste-se dos carboidratos simples, como bebidas açucaradas e massas brancas”, orientou.
Evitando a soneca (ou não)
As recomendações que conhecemos não se dão ao acaso. Dormir 8h por dia e fazer exercícios físicos – de preferência ao ar livre, para ter acesso à luz natural –, tendem a reduzir o cansaço após o almoço.
“Uma dose de bebida com cafeína no início da tarde pode ajudar, mas lembre-se que o excesso atrapalha o sono e perpetua o ciclo de cansaço”, disse Kang.
Se nada disso funcionar, faça o que seu corpo está pedindo: tire uma soneca de 30 minutos. “Isso pode ajudar o desempenho cognitivo. Mas mantenha por este tempo para que não atrapalhe seu sono noturno”, orientou a profissional.
E lembre-se: é normal sentir um leve cansaço e sonolência. Exaustão, não. Nesse caso, pode ser outra coisa. Procure um médico.