Ciência

Como a invasão russa na Ucrânia atrapalha a ciência na Antártida

Cientistas de outros países alegam que os desafios do programa de pesquisa antártica da Ucrânia representam uma perda para a ciência global
Imagem: Henrique Setim/ Unsplash/ Reprodução

A já longa guerra entre Rússia e Ucrânia está prejudicando setores muito além dos dois próprios países. Segundo artigo da revista Nature, os impactos chegam até a pesquisa científica realizada na Antártida, fundamental para o entendimento das mudanças climáticas.

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O conflito começou em fevereiro de 2022 e se estende por mais de um ano e meio, sem previsão de um cessar fogo. Além da falta de pesquisadores ucranianos, outro problema é o alto custo econômico da guerra, que ameaça o futuro do programa de pesquisa. 

Entenda o cenário

Anteriormente, o Tratado Antártico de 1959 designa a Antártida como uma zona desmilitarizada. 56 países fazem parte do tratado, incluindo Rússia e Ucrânia. Na reunião anual, que aconteceu em maio, na cidade de Helsinque, alguns países condenaram o comportamento russo.

Contudo, a Rússia não reconheceu o impacto da guerra no programa antártico ucraniano. Olena Marushevska diz que antes havia uma cooperação entre cientistas ucranianos e russos na Antártida, que incluía a comparação de dados coletados entre as estações. 

“Paramos qualquer cooperação com cientistas russos em 2014, mesmo antes desta guerra, mas agora temos relações muito piores do que antes”, contou a porta-voz do Centro Científico Antártico Nacional da Ucrânia em Kiev.

A base ucraniana na Antártida

“Há décadas, os cientistas da Antártida têm conseguido identificar a área de aquecimento anormalmente rápido devido ao conjunto de dados de temperatura que foi coletado na Estação Vernadsky”, diz Luis Huckstadt, um ecologista antártico do Reino Unido.

A Estação Vernadsky é um posto da Ucrânia na Antártida. A base é há muito tempo um local-chave para a coleta de dados sobre mudanças de temperatura a longo prazo. 

Por isso, é crucial para o estudo das mudanças climáticas. Agora, a falta de pesquisadores como consequência da guerra está ameaçando conjuntos de dados de importância global.

Segundo Marushevska, parte dos cientistas da Ucrânia que pesquisam a região estão lutando ou fugindo do conflito. Um exemplo é Andrii Zotov. Integrante do Instituto de Biologia Marinha de Odessa, ele estava na Estação Vernadsky quando a Rússia invadiu a Ucrânia. 

Sua pesquisa investigava os efeitos das mudanças climáticas nas comunidades de fitoplâncton do Oceano Austral, que formam a base da cadeia alimentar antártica. Assim, ele é um dos relativamente poucos especialistas ucranianos nesse campo. 

Mas seu estudo foi interrompido: o pesquisador esteve na guerra por um ano e meio e foi gravemente ferido. “Só agora, após alguma reabilitação, ele será capaz de voltar às algas”, disse Marushevska.

A pesquisa antártica da Ucrânia agora

Apesar da guerra, a Ucrânia continuou suas expedições anuais à Antártida. Agora, a 28ª expedição de pesquisa antártica da Ucrânia está em andamento. 

Desde abril, uma equipe de 14 cientistas e técnicos está na Estação Vernadsky. Eles buscam monitorar padrões climáticos e condições atmosféricas, medir a salinidade do oceano e estudar o comportamento de mamíferos marinhos.

“Não estamos coletando dados para nós mesmos, estamos coletando dados para o mundo”, disse Marushevska.

Por fim, segundo a Nature, o Instituto de Pesquisa do Ártico e Antártico da Rússia em São Petersburgo e o Ministério da Ciência da Rússia não responderam às tentativas de contato.

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Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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