Como foi criar um violão dentro de The Last of Us 2?

Saiba sobre os desafios e limites auto impostos dos desenvolvedores ao planejar uma das mecânicas mais criativas do jogo.
Reprodução/YouTube

The Last of Us 2, premiado jogo do ano passado, recebeu um misto de críticas (em sua maioria, positivas) por suas polêmicas na narrativa e em mudanças bruscas sobre perspectivas do primeiro jogo. Um ponto indiscutível, adorado de forma quase unânime, foi poder tocar violão em locais/momentos específicos – coisa que gerou memes e vídeos de covers pela internet.

Em uma conferência online do GDC 2021 (Game Developers Conference) realizada há algumas semanas, os game designers Mark Burroughs e Grant Hoechst explicaram como o violão foi criado e qual a importância desta mecânica para a imersão na história. Resumimos trechos desta espetacular explicação a seguir, sem filtros para spoilers de The Last of Us 2.

O que o violão significa

A jornada de The Last of Us 2 começa com Ellie herdando o violão de Joel ainda jovem, momento que ele toca uma música do Pearl Jam para ela. Conforme revelado inúmeras vezes pelo diretor e roteirista Neil Druckmann, a música era tocada e cantada por ele à sua filha. Parte da letra, traduzida como “Se algum dia eu te perdesse, eu certamente me perderia”, é autoexplicativa a respeito da mensagem carregada.

Mark Burroughs explica que o violão simboliza o vínculo entre Joel e Ellie, sendo “um símbolo de tranquilidade na vida e de esperança”. O primeiro teaser de revelação do game mostrava, não por acaso, a Ellie tocando violão em uma casa abandonada. Ao final do jogo temos a mesma personagem com dificuldades para tocar o instrumento, após perder parte dos dedos em uma luta violenta. Este seria o ciclo completo do jogo e do papel do violão para auxiliar a contar este arco.

Na sequência, Grant Hoechst conta que o fato de um jogador de The Last of Us 2 poder tocar o violão seria mais uma forma de imersão, engajando “de maneira profunda do que somente assistindo e ouvindo” personagens tocando. A criação de empatia com a Ellie foi algo que motivou-os a apostar nessa mecânica única.

O jogador no controle

O touchpad, geralmente usado para desenhar ou deslizar em jogos que exploram a criatividade, seria uma saída para tornar a interação mais abrangente do que um simples estilo “Guitar Hero“, onde as notas e acordes (ou seja, o conjunto de notas, por assim dizer) percorrem a tela e você só precisaria apertar um botão no ritmo certo.

“Tempo não importa com Ellie tocando o violão, então evitamos fazer um jogo de ritmo. Ela está aprendendo a tocar, esse é um momento de introspecção (para Ellie e para o jogador) onde é possível tocar no ritmo que quiser”

Grant Hoechst

Ao invés disso, optaram por uma “correspondência um para 1”, como Burroughs apelida. “No máximo pensamos em ter Ellie balançando a cabeça no ritmo da música, mas nada audível ao jogador, para que não haja o sentimento de ‘força’ para seguir”, explica. Então por isso não há metrônomo, nem nenhuma ferramenta musical similar.

No jogo você não “falha” ao tocar uma nota diferente da que é sugerida. Há total liberdade para tocar a nota/acorde que você quiser, mas uma sutil indicação mostra como prosseguir nesta seção do jogo. Você pode tocar o que quiser e para tocar as músicas que aparecem em momentos específicos de TLOU, basta seguir os prompts da tela, sem segredos.

Quando os desenvolvedores viram que era necessário criar diversas listas de acordes para comportar todas as canções que planejaram, viram que era melhor dar total liberdade ao jogador e colocar dezenas de variações. Isso resultou em, virtualmente, ser possível tocar qualquer música, mesmo que adaptando tons – um pouco mais agudo ou mais grave que a gravação original, digamos.

Na prática…

Quando você interage com o violão, uma roda aparece do lado direito da tela. Ela mostra os acordes abreviados. Conjuntos comuns são divididos em “abas”, como acordes de progressões (sequências, em termos musicais) clichês de músicas populares, para facilitar a troca de quem quiser tocar o que bem entender. Os acordes de cada aba, em suma, soam bem quando colocados juntos, utilizando conceitos de teoria musical.

Girando o analógico esquerdo do controle, você seleciona a posição da mão esquerda de Ellie. Com o touchpad você toca as cordas, com a mão direita dela. Apertando os botões L1 e R1 você muda as abas dos conjuntos de acordes. Por serem abas cíclicas, o jogador raramente irá se perder ao procurar acordes desejados.

Em certo momento do jogo, Ellie conta para sua namorada que ela está compondo músicas novas. “Por acidente, foi uma oportunidade de o jogador fingir que é Ellie, a compositora, experimentando com acordes e progressões”, diz Hoechst.

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A dupla do GDC conta que, de fato, é necessário saber um pouco de teoria musical e de termos técnicos para tocar as músicas que você gosta, porém, o jogo teve o efeito contrário: pessoas que tocaram violão em TLOU 2 ficaram com vontade de aprender o instrumento de verdade. Uma música memorável que Ellie toca é Take On Me, cover de um clássico dos anos 1980.

Pouco tempo após o lançamento de TLOU 2 já era possível ver músicos se adaptando aos controles, sendo possível tocar músicas conhecidas. Surgiram então playlist de covers, incluindo canções de bandas como Pink Floyd, The Cranberries, Radiohead e Soundgarden.

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