Copa do Mundo: Suíça e Sérvia se enfrentam em clima de tensão; entenda
Adversários do Brasil na primeira fase da Copa do Mundo, a Sérvia e Suíça devem protagonizar na sexta-feira (2), às 16h, um dos jogos mais tensos da competição até agora. A seleção suíça garante vaga com um empate, enquanto a Sérvia precisa vencer e contar também com a vitória do Brasil contra Camarões. Mas, para além da parte esportiva, a partida chama atenção por trazer questões políticas para os gramados.
Tudo começa porque a Suíça tem jogadores naturalizados, mas que nasceram em Kosovo, um território que fica dentro da Sérvia, tem maioria étnica albanesa e reivindica sua independência.
Em 2008, a região declarou sua separação, mas até hoje não tem o reconhecimento dos sérvios, que ainda consideram Kosovo parte do país. Enquanto isso, a Albânia apoia o movimento separatista kosovar.
Esse é o caso dos craques suíços Xherdan Shaqiri, que nasceu em Kosovo, e Granit Xhaka, que tem pais de Kosovo (pai) e Albânia (mãe). Os dois fizeram os gols que levaram a Suíça à vitória contra a Sérvia na Copa da Rússia (2018), também na fase de grupos. À época, eles comemoraram com a imitação de uma águia negra de duas cabeças – o símbolo da bandeira da Albânia.
PUNIÇÃO! A FIFA pode aplicar uma punição a Xhaka e Shaqiri, pois o regulamento deixa claro que é proibido gesto de conotação política nas partidas. Os atletas da Suíça, tem origem kosovar e comemoraram fazendo a águia de duas cabeças, símbolo da Albânia. #CentralFOXBrasil pic.twitter.com/qsMMVgxLOn
— Futebol no Mundo (@futebolnomundo) June 22, 2018
Pouco antes do jogo de 2018, o meia sérvio Luka Milivojevic provocou o volante Valon Behrami – também nascido em Kosovo e naturalizado suíço. “Mesmo que Behrami corra para a Suíça, ele será sempre albanês”, disse. Em resposta, os jogadores suíços disseram que iriam mostrar que a “derrota estava no DNA sérvio”.
A polêmica já vinha quente desde 2014, quando Sérvia e Albânia se enfrentaram nas eliminatórias da Eurocopa 2016. À época, um drone com a bandeira da Albânia sobrevoou o campo. Detalhe: quem guiava o veículo era o sérvio Stefan Mitrovic.
Os albaneses ficaram revoltados e se iniciou um grande tumulto, o que fez com que o jogo fosse interrompido. No final, os tribunais da Fifa deram a razão para a Albânia, que venceu o jogo por 3 a 0.
Polêmica no Catar e investigação da Fifa
No Catar, a polêmica começou quando uma bandeira apareceu no vestiário da seleção sérvia na partida contra o Brasil, na última quinta-feira (24). A imagem mostra o mapa de Kosovo coberto pela bandeira sérvia e as palavras “sem rendição”, escritas em albanês.
Toxic ethnonationalism is again on full display in Qatar — the Serbian team propped up a flag with Kosovo shown as part of Serbia, while the Croat fans cracked jokes about the 1995 Operation Storm and picked on the Canadian goalie for his Serb ethnic background. pic.twitter.com/kjGZplZhw3
— Aleksandar Brezar (@brezaleksandar) November 28, 2022
A imprensa regional classificou o ato como um escândalo. O ex-ministro kosovar, Petrit Selimi, criticou a atitude e cobrou ação da Fifa. Em resposta, a Fifa informou que abriu uma investigação sobre o caso.
Na comunidade internacional, Kosovo tem o reconhecimento dos EUA e União Europeia. O território passou a integrar a Fifa em 2016 e, em 2018, disputou as primeiras eliminatórias para a Copa do Mundo na Rússia.
Mais tensão política
A treta entre Suíça e Sérvia é só uma na Copa do Catar. Nesta terça-feira (29) entram em campo, às 16h, as seleções dos EUA e Irã, e Gales e Inglaterra – duas combinações explosivas fora dos campos.
A partida mais complexa é entre EUA e Irã, inimigos desde 1979. Antes disso, especialmente na década de 1950, os países se aproximaram bastante por causa do petróleo iraniano. À época, Washington apoiava e sustentava o xá (rei) do Irã em troca de acordos para o combustível e influência no Oriente Médio.
Tudo isso mudou quando uma revolução liderada pelo islamismo derrubou o xá apoiado pelos EUA. Ele foi substituído pelo aiatolá Khomeini, líder xiita que apoia as correntes mais ortodoxas do Islã.
Depois disso, Washington lançou um pacote enorme de sanções contra Teerã e isolou os iranianos de boa parte do mundo. Para o Irã, os EUA são o “Grande Satã”, e violam a soberania do país.
Para os EUA (e, por tabela, boa parte do mundo), o Irã desrespeita direitos humanos, patrocina o terrorismo e constrói armas nucleares secretamente. Por coincidência do destino, os dois caíram na mesma chave da Copa.
Já o País de Gales e a Inglaterra são duas nações dentro do Reino Unido. Pelo menos 20% da população de 3,1 milhões de habitantes de Gales defendem a separação da Grã-Bretanha. É uma disputa menos intensa, mas não menos interessante: para quem será que o rei Charles 3º vai torcer na Copa? Decidir um lado – em todas esses quadros – é a tarefa mais difícil.