Crise do clima piora 58% das doenças infecciosas, alerta estudo americano
As mudanças climáticas podem agravar 218 doenças causadas por vírus, bactérias e fungos. É o que mostra uma pesquisa da Universidade do Havaí, publicada na revista científica Nature Climate Change na segunda-feira (8).
Segundo o estudo, a maior parte das doenças tem relação com aumento das temperaturas (160), mudanças no regime de chuvas (122) e inundações (121). Seca, tempestades e deterioração do solo são outros eventos que agravaram uma média de 70 doenças cada, mostrou a pesquisa. As 218 doenças que o estudo considera representam 58% das 375 principais infecções por vírus, bactérias e fungos conhecidas, que afetam humanos no mundo todo.
O resultado tem base na revisão de mais de 70 mil artigos científicos. Os pesquisadores identificaram 3.213 exemplos de casos em que os riscos do clima foram a porta de entrada para a piora de doenças. Nesses, há pelo menos 1.006 maneiras diferentes de acelerar o avanço de infecções por vírus, bactérias e fungos.
“Dadas as consequências da pandemia de Covid, foi realmente assustador descobrir a enorme vulnerabilidade que temos por causa das emissões de gases de efeito estufa”, disse Camilo Mora, autor do estudo.
“Existem muitas doenças e vias de transmissão para pensarmos que podemos realmente nos adaptar às mudanças climáticas. Por isso é tão urgente reduzir as emissões globalmente”, completou.
Para ilustrar a gravidade do problema, Mora criou um site que permite visualizar como doenças infecciosas podem ser afetadas pelos riscos climáticos. Acesse aqui.
Como o clima potencializa as doenças?
Há várias maneiras possíveis. Incêndios florestais, por exemplo, fizeram morcegos e primatas fugirem de seus habitats na África. A partir daí, surgiram novos surtos de Ebola no continente. Outro caso é o degelo do permafrost – camada do subsolo da crosta terrestre que fica permanentemente congelada. O aquecimento ajudou a liberar uma antiga cepa de antraz, o que causou infecções no Ártico.
Veja o que motivou e quantas doenças infecciosas foram potencializadas pelas mudanças climáticas:
- Aquecimento: agravou 160 doenças
- Mudanças de precipitação: agravaram 122 doenças
- Inundações: agravaram 121 doenças
- Seca: agravou 81 doenças
- Tempestades: agravaram 71 doenças
- Mudanças na cobertura da Terra: agravaram 61 doenças
- Mudanças climáticas nos oceanos: agravaram 43 doenças
- Incêndios: agravaram 21 doenças
- Ondas de calor: agravaram 20 doenças
- Aumento do nível do mar: agravou 10 doenças
Outro exemplo é que desastres climáticos, como tempestades e inundações, forçaram o deslocamento de humanos, levando-os para mais perto de doenças. São exemplo a febre de Lassa, pneumonia, febre tifóide, hepatite cólera, doença dos legionários (espécie de pneumonia severa) e doenças respiratórias.
A crise do clima também restringe a capacidade de lidarmos com a piora dessas doenças. Quando há seca, por exemplo, cai o acesso à água potável e há prejuízos ao saneamento básico. Isso abre espaço para doenças vindas da água contaminada, como disenteria e hepatite.
E enquanto estamos mais frágeis, os organismos que causam essas doenças ficam mais “fortes”. O estudo alerta que vírus, bactérias e fungos estendem sua área habitável, o que permite períodos de reprodução mais longos, como é o caso dos mosquitos que causam febre amarela, malária, dengue e leishmaniose.