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“Estamos muito ocupados”: europeus esnobam estação espacial da China

Europeus voltam atrás e desistem de parceria com a China para uso da nova estação Tiangong. Covid e Ucrânia pesaram na decisão

"Estamos muito ocupados": europeus esnobam estação espacial da China

Imagem: China Manned Space Engineering Office

O diretor-geral da ESA (Agência Espacial Europeia), Josef Aschbacher, anunciou nesta semana que não há planos para enviar astronautas europeus para a recém-concluída Estação Espacial Chinesa Tiangong. Esta é a primeira vez que a agência reconhece publicamente que não pretende manter parcerias com a China na área de voos espaciais tripulados.

Aschbacher afirmou que os 22 estados-membros que fazem parte da ESA estão muito ocupados apoiando e garantindo os compromissos firmados com a ISS (Estação Espacial Internacional). “Não temos luz verde orçamentária nem política ou intenção de nos envolver em uma segunda estação espacial”, disse o diretor-geral.

A declaração foi recebida com surpresa, mas de alguma forma já era esperada. Ela demonstra o racha global que existe hoje na exploração espacial, por conta de questões geopolíticas.

Em 2014, por exemplo, a ESA e a China assinaram um acordo que previa uma parceria para voos espaciais tripulados conjuntos, o que levou ao envio de dois astronautas europeus para um treinamento de nove dias em território chinês, em 2017. Na época, a ideia era que essa cooperação fosse estendida por vários anos, incluindo o envio de astronautas da ESA para trabalhar a bordo da Tiangong, quando ela estivesse concluída.

Entretanto, de lá para cá, a emergência da Covid e a guerra na Ucrânia acabou esfriando a relação entre europeus e chineses. “Fizemos esforços… mas, sabe, as coisas não são tão fáceis como costumavam ser”, disse a astronauta italiana Samantha Cristoforetti, umas das que recebeu o treinamento na China.

A esnobada da ESA ocorre dias depois dos europeus aprovarem um orçamento espacial recorde de quase € 17 bilhões (cerca de R$ 94 bilhões), sendo que 5% desse montante será investido na ISS. Os europeus são membros do consórcio de países que construíram a estação espacial, sendo responsável por 8,3% do seu custo total.

Atualmente, a NASA tem planos de utilizar a ISS até pelo menos o ano de 2030. Porém, com o anúncio da saída da Rússia do projeto, em algum momento a partir de 2024, o futuro da estação espacial ainda é nebuloso.

Além disso, a estação espacial já apresenta sinais de velhice, após permanecer mais de duas décadas em órbita. Os problemas vão desde trajes espaciais que apresentam falhas a um módulo russo que estava vazando ar.

É esperado que o trabalho atualmente feito a bordo da ISS seja transferido futuramente para novas estações espaciais privadas. O problema é que a NASA e as empresas ainda não estão preparadas para fazer essa transição no momento.

Já a China conta com uma estação espacial própria, moderna e nova em folha, aberta para a cooperação internacional. Inclusive, ela foi projetada para receber módulos extras a partir de parceria com outros países.

Conforme apontou o South China Morning Post, os chineses dizem que astronautas estrangeiros são sempre bem-vindos na estação, e que pretende iniciar os preparativos para começar a treinar astronautas de outros países.

Apesar da falta de interesse em missões tripuladas, a ESA ainda tem parcerias com a China em outras áreas espaciais. Um exemplo é o novo rover europeu ExoMars, que terá ajuda de cientistas chineses para desenvolver uma nova plataforma de pouso, após a Rússia sair do projeto.

Por sua vez, os europeus “emprestaram” a sua sonda Mars Express para ajudar na retransmissão de dados coletados pelo rover chines Zhurong, na superfície marciana.

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