Ciência

Estímulo mental no trabalho pode ajudar a prevenir demência, diz estudo

Estudo observou que pessoas em trabalhos que não exigem esforço mental têm maior risco de desenvolver problemas cognitivos na velhice
Imagem: Firmbee.com/ Unsplash/ Reprodução

Há muito se ouve falar sobre a importância dos estímulos mentais durante a vida para evitar problemas de memória comuns com a idade avançada. Agora, um novo estudo publicado na revista Neurology aponta o papel do trabalho nessa equação.

De acordo com a pesquisa, cargos que exigem esforço mental e criatividade contribuem para que o cérebro seja estimulado. E, com isso, protegem um indivíduo de certos problemas de pensamento e memória da velhice.

No total, pessoas com trabalhos menos exigentes mentalmente tinham um risco 66% maior de comprometimento cognitivo leve. Além disso, apresentaram também um risco 31% maior de demência após os 70 anos.

Entenda a pesquisa

Para o estudo, pesquisadores contaram com a participação de sete mil voluntários noruegueses. No total, eles ocupavam 305 cargos diferentes. Segundo a pesquisa, a todos tinham empregos que estimulavam o cérebro de maneira semelhante durante toda a vida.

Ou seja, mantinham trabalhos com um certo grau de demanda cognitiva ao longo dos 30, 40, 50 e 60 anos. Com isso, aqueles que começaram a trabalhar em empregos menos estimulantes tendiam a permanecer neles e vice-versa.

Para analisar a complexidade do trabalho dos voluntários, os pesquisadores consideraram a quantidade de trabalho manual e mental rotineiro. Além disso, observaram o grau de tarefas analíticas e interpessoais presentes no cotidiano.

Por exemplo, o cargo de professor entrou na classificação de empregos mais estimulantes, enquanto aqueles que envolvem tarefas manuais repetitivas entraram na lista de empregos menos exigentes cognitivamente – como limpeza e entregas.

Então, após os 70 anos, os voluntários passaram por uma análise das habilidades cognitivas, especialmente de memória. Frente ao resultado, eles foram classificados em três grupos: aqueles sem comprometimento cognitivo, aqueles com comprometimento leve e, por fim, os indivíduos com algum tipo de demência.

Por fim, o estudo descobriu que, entre os voluntários que trabalhavam nos empregos com menos estímulos mentais, 42% foram diagnosticados com comprometimento cognitivo leve. Em comparação, apenas 27% dos que trabalhavam nos cargos mais estimulantes cognitivamente tiveram o mesmo diagnóstico.

Outros estímulos mentais

De acordo com o estudo, níveis mais altos de educação representaram cerca de 60% do efeito protetor observado entre pessoas que tinham trabalhos mentalmente estimulantes. Em geral, isso confirma resultados de pesquisas anteriores, que demonstraram que a educação tem um efeito protetor significativo contra o declínio cognitivo na velhice.

Embora seja preciso considerar que esse padrão se deve, em parte, pelo fato de que pessoas com maior nível de escolaridade são mais capazes de levar uma vida mais saudável, também é preciso considerar que a educação constrói uma “reserva cognitiva”.

O conhecimento absorvido, a capacidade de improviso e o raciocínio lógico podem ajudar a retardar o declínio mental, assim como o exercício físico retarda a fragilidade dos músculos.

Dessa forma, os pesquisadores do novo estudo ressaltam a importância de combinar estímulos mentais em diferentes áreas da vida – não apenas na educação ou no trabalho. 

“Não é que você está condenado ou não está – podemos capacitar as pessoas para sua saúde cognitiva posterior com educação e tarefas que sejam cognitivamente estimulantes”, explica Trine Edwin, autora do estudo.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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