Fábrica de semicondutores em São Paulo vai produzir “chipão” que traz boa parte da eletrônica de smartphones
No início de 2018, falamos da parceria da Qualcomm com a taiwanesa USI para estabelecer uma fábrica de semicondutores em São Paulo. Na noite desta quarta-feira (13), junto com o lançamento de novos Zenfones, foi anunciada a confirmação do local e uma previsão para a estreia da linha de produção.
Para começar, a fábrica vai ser em Jaguariúna (a 125 km da capital), e a ideia é que ela já comece a produzir alguns módulos de teste em 2020.
Entendendo o produto que será fabricado
A parceria com a USI tem como objetivo fabricar o que eles chamam de SiP (System in Package), que consiste em um módulo que reúne centenas de elementos eletrônicos — como memória, GPS, entre outros itens. Os smartphones Zenfone Max Shot e Max Plus M2 são os únicos com essa tecnologia no mundo.
Segundo a Qualcomm, a ideia de criar tal tecnologia foi tentar simplificar a construção do smartphone. Uma placa-mãe de um celular tem quase 400 componentes inseridos nas duas faces dela. Então, o SiP é um módulo semicondutor multicomponente que contém os principais elementos. A vantagem é que o tempo de design e fabricação é mais rápido. Juntar tudo num módulo resulta em redução de espaço (o que permite colocar, por exemplo, mais bateria num smartphone) ou na exploração de outros tipos de design.
Apesar de estarmos falando de smartphone a quase todo momento, essa tecnologia de módulos compactos pode ser usada em dispositivos de internet das coisas. Então, se uma empresa quiser, por exemplo, conectar um liquidificador na nuvem, basta encomendar um módulo como os que serão produzidos por aqui.
Em termos práticos, a fábrica de módulos QSiP pode ajudar a fornecer itens para as companhias que atuam no mercado brasileiro. A produção local agilizaria a manufatura de aparelhos, além de poder exportar os módulos para outros países.
Detalhe do SiP presente nos novos Zenfone. Crédito: Guilherme Tagiaroli/Gizmodo Brasil
“Com a fábrica, o Brasil deixa de ser apenas um país consumidor, mas um produtor da cadeia de semicondutores”, explica Rafael Steinheuser, presidente da Qualcomm para a América Latina.
A questão toda, conforme diz o executivo da Qualcomm, é que o Brasil nunca conseguiu fazer parte do ciclo de semicondutor com chips de alta densidade e que a maioria das placas avançadas daqui é importada. “Aqui tem semicondutores de 100 nm, mas não de itens para celular. Tudo que é eletrônica avançada tem 24 nm, 10 nm, 7 nm.”
O problema de o Brasil não estar envolvido com essa indústria de alta tecnologia, continua o executivo, é que isso pesa na balança comercial, fazendo com que a indústria local tenha de comprar bilhões de dólares em semicondutores.
A fábrica de Jaguariúna será operada por uma joint-venture chamada Semicondutores Avançados do Brasil S.A., administrada pela chinesa USI e a Qualcomm. A expectativa é que o local empregue entre 800 e mil pessoas, e o investimento é de US$ 200 milhões ao longo de cinco anos.
Isso não significa que o Brasil agora vá concorrer com a China neste ramo, mas esse passo pode ser o primeiro para o desenvolvimento de um ecossistema local de semicondutores. Como já mencionamos, essa não é a primeira iniciativa no país na área de semicondutores, mas os ventos e toda essa conversa de smartphones e internet das coisas parecem estar a favor dessa iniciativa.