Facebook remove categoria de anúncios de pseudociência, que tinha mais de 78 mi de usuários

O Facebook removeu uma categoria de direcionamento de publicidade para usuários que tinham interesse em “pseudociência” após reportagem do site Markup.
Logotipo do Facebook com ilustração do coronavírus em segundo plano
Olivier Douliery/Getty Images

O Facebook removeu uma categoria de direcionamento de publicidade para usuários que tinham interesse em “pseudociência”. A ação veio após uma reportagem do site Markup destacar como ela estava sendo usada para divulgar teorias da conspiração.

A empresa removeu a categoria depois que o Markup encontrou o portal de anúncios listando 78 milhões de usuários na categoria, segundo a Reuters.

A categoria de pseudociência é especialmente ruim para o Facebook, que falha nos seus esforços de impedir que a plataforma se torne um veículo para as teorias da conspiração e alegou estar reprimindo os anunciantes que buscam lucrar com informações erradas durante a pandemia de coronavírus.

Uma reportagem divulgada no início deste mês pela Consumer Reports descobriu que não era difícil fazer com que o Facebook aprovasse anúncios falsos com informações incorretas relacionadas ao coronavírus, incluindo um que aconselhava a beber “pequenas doses diárias” de água sanitária.

De acordo com o Markup, não está claro quantos anúncios foram colocados na categoria “pseudociência”, mas o repórter Aaron Sankin descobriu que ele foi marcado como “interessado em ‘pseudociência’” depois de receber uma promoção de um gorro que protege a pessoa da radiação.

Sankin disse ao Gizmodo via mensagem direta no Twitter que, embora fosse óbvio que o anúncio do gorro tenha aparecido em seu feed após o Facebook tê-lo considerado um fã de pseudociência, o que é menos claro é como a empresa fez essa determinação.

“Pode ser porque, no início deste mês, fiquei interessado em entender como as teorias de conspiração de COVID-19 estavam sendo divulgadas no Facebook e entrei para alguns grupos dedicados explicitamente a divulgar as teorias de conspiração sobre o vírus”, disse Sankin ao Gizmodo. “Ou poderia ser um problema de alguns anos atrás, quando passei alguns meses pesquisando a teoria da conspiração PizzaGate para uma reportagem que fiz no Center for Investigative Reporting. Ou talvez tenha sido porque eu tinha acessado a algum site pseudocientífico em algum momento no passado em que o Facebook tinha um rastreador ativo e que inseriu ‘pseudociência’ no meu perfil.”

“Honestamente, não faço ideia porque o Facebook não divulga publicamente as informações sobre por que um usuário está ligado a um interesse ou em que momento ocorreu a ligação”, acrescentou Sankin.

Uma teoria da conspiração sem mérito, mas generalizada, que circula durante a pandemia de coronavírus é que a doença não é resultado de um vírus, mas a radiação das torres de celulares construídas como parte do lançamento de redes 5G.

A polícia do Reino Unido ligou dezenas de incêndios criminosos nas torres de telefonia celular de todo o país à teoria da conspiração, dizendo que essa era a motivação mais provável para os autores dos crimes. Fotos e vídeos dos ataques que circulavam online costumavam ser acompanhados por um texto alegando que as torres estão deixando as pessoas ao seu redor doentes.

Art Menard de Calenge, CEO da fabricante de gorros Lambs, disse ao Markup que a posição oficial de sua empresa é que o 5G não causa a pandemia, e eles nunca disseram isso. Mas a categoria de pseudociência é vaga o suficiente para envolver qualquer coisa que possa ser de interesse potencial para os teóricos da conspiração — incluindo chapéus que bloqueiam a radiação.

Foi o Facebook quem determinou que o chapéu era pseudocientífico e acrescentou a própria tag, disse o CEO ao Markup: “Este é o Facebook pensando que esse conjunto de anúncios em particular seria interessante para esse grupo demográfico, não para nós.”

O principal parecer científico, apoiado pela Comissão Internacional de Proteção contra Radiação Não-Ionizante (ICNIRP), é que as torres de telefones celulares e os smartphones não emitem níveis de radiação 5G considerados perigosos para a saúde humana. Um grande corpo de pesquisa encontrou poucas evidências em casa, e qualquer teoria que associe 5G e coronavírus é evidentemente falsa.

“Há pessoas preocupadas com o 5G há anos”, disse Sankin ao Gizmodo. “Portanto, faz sentido que as pessoas, que estão assustadas e confusas e apenas tentando entender o mundo devastado pela pandemia que foram forçadas a habitar repentinamente, procurem freneticamente uma explicação.”

“Em alguns casos, essa explicação é o 5G”, acrescentou. “Em outros casos, é que ‘Bill Gates fez isso’… A outra explicação, a principal com apoio científico, é que um vírus fatal evoluiu para fazer um bom trabalho de se espalhar pelo mundo. Para muitas pessoas, essa última explicação é provavelmente muito mais assustadora e difícil de aceitar do que uma cabala secreta operando em algum lugar nas sombras, porque uma cabala secreta pode teoricamente ser interrompida.”

A ProPublica descobriu várias categorias semelhantes no final de 2016, incluindo aquelas para os usuários que o Facebook identificou como interessadas em “Nova Ordem Mundial (teoria da conspiração)”, “Teoria da conspiração Chemtrail” e “Controvérsias sobre vacinas”.

Embora essas tenham sido removidas, a categoria de pseudociência permaneceu o tempo todo. Além disso, a marcação identificou pelo menos 67 grupos de usuários cujos nomes “indicam diretamente que eles são especificamente dedicados à propagação de teorias da conspiração por coronavírus”.

A especialista em teoria da conspiração da Universidade de Washington, Kate Starbird, disse ao Markup que as pessoas que acreditam em uma teoria da conspiração são particularmente propensas a acreditar em outras. (Esse fenômeno às vezes é conhecido pelo termo pejorativo de “magnetismo de manivela”.)

Starbird disse ao site que o marketing do Facebook para os teóricos da conspiração tira “vantagem desse tipo de vulnerabilidade que uma pessoa tem quando desce a ‘toca do coelho’[quando o algoritmo recomenda coisas cada vez mais extremas], fazendo com que elas se aprofundem no assunto enquanto a rede monetiza isso”.

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