O Facebook é uma empresa primariamente focada em software, mas algumas vezes já se aventurou no hardware — a Oculus e os dispositivos da linha Portal estão entre os exemplos. Só que a companhia pode estar interessada em outro segmento: o de smartwatches, já que a rede social estaria desenvolvendo um relógio inteligente para competir com o Apple Watch.
De acordo com o The Verge, o smartwatch, que não foi confirmado oficialmente pelo Facebook, teria uma câmera com foco automático 1080p na parte traseira e outro sensor na frente para videochamadas. Isso é um tanto estranho, quando você pensa sobre como a maioria dos smartwatches são projetados.
Contudo, parece que o Facebook está adotando o mesmo tipo de abordagem da Fitbit Blaze, em que o próprio relógio pode ser retirado de uma moldura de aço inoxidável. Fotos e vídeos registrados a partir do pulso poderão ser compartilhados em outros apps do Facebook, incluindo o Instagram. O acessório viria nas cores branco, preto e dourado, além de ser compatível com 4G e não precisar de um smartphone para funcionar.
Um outro rumor recente reforça essas informações, e acrescenta que, num primeiro momento, o relógio deve vir equipado com uma versão de código aberto do Android. Posteriormente, a ideia seria lançar um sistema operacional próprio para o aparelho. Outra possíveis adições incluiriam compatibilidade com outros serviços de saúde e fitness (Peloton, Strava), monitor de frequência cardíaca e mensagens de interações rápidas.
Estima-se que o smartwatch chegue ao mercado em algum momento de 2022 custando entre US$ 300 (R$ 1.525) e US$ 400 (R$ 2.033).
Briga de gigantes
Embora o Facebook já tenha investido em outros dispositivos físicos, um smartwach é algo diferente. De uns tempos para cá, a empresa tem mostrado interesse em aparelhos vestíveis, incluindo óculos de realidade aumentada (RA) desenvolvidos em parceria com a fabricante Ray-Ban, pulseiras, luvas e outros acessórios que estão em fase de testes em um laboratório interno da rede social.
O que tornaria o relógio inteligente especial é que o projeto estaria em estágio avançado. E mais: ele certamente deve vir com algum tipo de ecossistema de RA. O produto também seria capaz de detectar sinais elétricos do seu cérebro para sua mão para ajudar no controle de gestos — uma tecnologia conhecida como eletromiografia que, embora não seja inédita, está começando a aparecer em mais sistemas e dispositivos. O futuro watchOS 8, inclusive, é um deles.
Em contrapartida, não está claro como o Facebook posicionaria seu suposto smartwatch. Esse é um mercado enxuto e dominado principalmente pelo watchOS, da Apple, e do Wear OS, do Google, que, por sinal, ganhará uma repaginada nos próximos meses. Nos EUA, o Apple Watch domina com folga o segmento de vestíveis e que tem dado trabalho para a concorrência, que há anos não consegue acompanhar a popularidade do produto.
Outra questão são os ecossistemas de aplicativos de terceiros. Foi essa falta de suporte de desenvolvedores para o Tizen OS que fez a Samsung firmar uma parceria com o Google para lançar um novo Wear OS. Isso é algo fundamental para tornar o relógio do Facebook em um projeto viável, uma vez que eu duvide que os usuários queiram investir em um dispositivo de até US$ 400 que só tenha compatibilidade com os apps do Facebook.
Quem compraria um smartwatch do Facebook?
Não vamos esquecer do fato de que o Facebook teria a difícil tarefa de convencer os consumidores que, ao usar o relógio, eles podem confiar seus dados pessoais de saúde à rede social. Pesquisas da Insider U.S. Digital Trust de 2020 e da NBC/Wall Street Journal verificaram que o Facebook ficou em último lugar na lista de empresas que os usuários dos EUA mais confiam. Cerca de 60% dos residentes não confiam na rede social quando se trata de proteção de dados pessoais.
Estou ciente de que, se você deseja que seus dados de saúde permaneçam privados, os smartwatches são certamente aparelhos muito arriscados. Mas a verdade é que a maioria dos consumidores já superou isso, principalmente quando se leva em consideração que muitos desses dispositivos ajudaram a salvar vidas. Logo, eles não vão a lugar algum.
A pergunta que fica é a seguinte: por que os usuários escolheriam um smartwatch feito por uma empresa que anda na corda bamba da privacidade e segurança de dados pessoais? Ao que tudo indica, o Facebook parece não se incomodar com isso, nem com sua reputação, já que o The Verge afirma que não um, mas duas outras versões do relógio inteligente estariam em desenvolvimento. Claro, o Facebook pode nos provar que estamos errados. Mas, enquanto isso não acontece, o jeito é aguardar para ver o que será diferente.