Fertilização in vitro robótica gera bebês pela primeira vez
Para fazer um bebê, você precisa de um espermatozoide, um óvulo e um controle de PlayStation 5. É o que mostrou a Overture Life, uma startup com sede em Barcelona que está investindo na automação da fertilização in vitro.
O primeiro experimento com o novo método aconteceu há um ano, no outono de 2022. Na ocasião, um engenheiro sem experiência em medicina reprodutiva usou um joystick para controlar uma agulha robótica com espermatozoides – e inseri-los, um por vez, em uma dúzia de óvulos microscópicos.
O procedimento não só gerou embriões saudáveis, como também levou ao nascimento de duas meninas recentemente. O feito da Overture Life, em parceria com a clínica americana New Hope Fertility Center, é amplamente considerado a primeira tentativa bem-sucedida de automatizar a fertilização in vitro.
A Overture não está sozinha: hoje, existem pelo menos outras seis startups com objetivos semelhantes, desenvolvendo dispositivos que prometem tornar a fertilização mais eficiente. Mas o desempenho da companhia espanhola se destaca: ela já levantou US$ 37 milhões de investidores.
Fertilização in vitro em série
O propósito de automatizar a fertilização in vitro é simples: fazer mais bebês. Todo ano, nascem cerca de 500 mil crianças por meio de fertilização in vitro no mundo. Mas este é um procedimento delicado e demorado, cujos preços variam entre R$ 10 mil e R$ 25 mil nas clínicas brasileiras.
Motivos para o valor não faltam. A fertilização in vitro pressupõe acompanhamento e tratamento para os pacientes, equipamentos e infraestrutura específicos, além de mão de obra especializada.
Veja só: para injetar um espermatozoide no centro de um óvulo – técnica conhecida como injeção intracitoplasmática de espermatozoides, ou ICSI –, embriologistas treinados manuseiam delicadamente as células sexuais com agulhas sob um microscópio. Automatizar essa etapa, como fez a Overture Life, poderia baratear o procedimento.
Gianpiero Palermo, médico do Weill Cornell Medical Center (Estados Unidos) que desenvolveu a ICSI na década de 1990, disse à MIT Technology Review que “o conceito é extraordinário, mas este é um pequeno passo”. Ele observa que os pesquisadores não automatizaram de fato o processo, porque contavam com assistência manual para algumas etapas, como colocar o espermatozoide na agulha robótica.
Outra startup, chamada Fertilis, está desenvolvendo “micro-berços”, cápsulas transparentes e microscópicas feitas com impressoras 3D. Eles poderiam abrigar óvulos individuais e permitir que estes sejam manipulados com mais facilidade para gerar embriões em laboratório.
Apesar das inovações na área, outros médicos reprodutivos estão céticos de que os robôs possam, ou devam, substituir os embriologistas em breve.