Google “desfavelizou” Rio de Janeiro no Google Maps?
Há algum tempo, quando eu acessava o mapa do Rio de Janeiro no Google Maps, acontecia algo curioso: em vez de mostrar os nomes dos bairros mais conhecidos, o Maps dava um enorme destaque a várias favelas.
Agora, devido a mudanças recentes, acontece o oposto: várias favelas agora se chamam apenas “morro”, ou seu nome nem aparece no Maps. O Google “desfavelizou” o Rio de Janeiro?
Como nota o blog Cidades Possíveis, isso acontece em vários níveis de zoom. Como você vê abaixo, a favela Sumaré agora se chama apenas Sumaré; e a favela Morro do Chacrinha sumiu do mapa. A Rocinha, maior favela do Brasil, não se chama mais “favela”. E em algumas regiões, o termo “favela” foi substituído por “morro”.
O Google explicou várias vezes no passado que não edita estes nomes: recebe-os prontos de parceiros – no caso, a MapLink. No entanto, o Google não explica a mudança e diz, por meio de nota, que “não divulga as particularidades das negociações com os parceiros” do Google Maps.
A história desse caso é longa. Segundo o Estadão, a prefeitura do Rio pediu ao Google, em 2009, que diferenciasse melhor entre favelas e bairros no Maps: afinal, eles mostravam com o mesmo destaque tanto favelas com poucos habitantes, como bairros maiores.
No ano seguinte, o então gerente de produto do Google (e carioca) Marcelo Quintella dizia que a empresa estava “trabalhando na questão junto aos parceiros de conteúdo” para resolver o problema. Em 2010, ele escreveu que:
… apesar de parecer, a questão não é trivial pois o Google licencia dados de terceiros e não podemos modificá-los diretamente. Por isso estamos buscando uma lógica que permita ao computador escolher que favelas (importantes) mostrar e quais (desconhecidas ou muito pequenas) não mostrar. Isso é uma prioridade do time de mapas mas, como disse, não é de solução trivial e por isso está levando mais tempo que todos gostaríamos.
Mas a questão permaneceu. Em 2011, o jornal O Globo publicou reportagem – removida de seu site – criticando o Google Maps por dar o mesmo destaque a favelas e a bairros tradicionais. O jornal lembrava que, segundo o Instituto Pereira Passos (IPP) – que faz um dos levantamentos mais precisos das favelas do Rio – apenas 3,8% da cidade é ocupada por favelas. Este mapa mostra onde elas estão.
Alguns dias depois da reportagem, o Google se comprometeu a reduzir a visibilidade das favelas no Rio no prazo de seis meses a um ano. A ideia era destacar os bairros e pontos turísticos da cidade, e só mostrar favelas quando o usuário aumentasse o zoom. Só que o Google Maps foi além disso: parece que está se tentando “desfavelizar” a cidade.
Por um lado, isto é a desvantagem de fazer algo melhor que a concorrência – colocar mais informações e pontos de interesse disponíveis nos mapas. Afinal, outros serviços de mapas nem incluem as favelas pequenas que ainda estão no Google Maps.
O Nokia Here Maps, por exemplo, só inclui as maiores favelas, como Rocinha e Complexo do Alemão; as menores nem aparecem, mesmo no zoom máximo. Compare na imagem acima.
No site da MapLink, por sua vez, o mapa do Rio não tem nenhum nome de favelas, mesmo no zoom mais alto – há apenas bairros. Nem mesmo a Rocinha aparece por lá (ela fica entre a Gávea e São Conrado):
Então por que ninguém reclama com a Nokia ou a MapLink? Bem, porque os mapas do Google são mais utilizados e oferecem informações mais detalhadas. Isto significa que há mais pessoas de olho reparando em mudanças, e alterações como esta são levadas mais a sério.
Independente de quem seja o responsável pela “desfavelização” do Rio – o Google ou seus parceiros – a mudança não soa muito bem, especialmente à medida que nos aproximamos da Copa do Mundo e Olimpíadas, e a cidade ganha cada vez mais relevância. Os mapas precisavam de uma correção, mas será que é certo esconder as favelas? [Cidades Possíveis via Estadão]
Imagens via Cidades Possíveis e Info