A “megaestrutura alienígena” acaba de ficar ainda mais misteriosa

Cientistas fizeram uma nova análise fotométrica da estrela KIC 8462852, que tem intrigado especialistas pela sua variação de emissão de luz.

A estrela KIC 8462852 se tornou nossa obsessão quando alguns astrônomos disseram que ela poderia ser algum tipo de megaestrutura alienígena. Observações posteriores da “estrela de Tabby” não revelaram sinais de vida alienígena, mas alguns fenômenos de picos luminosos continuaram a intrigar os especialistas. Agora, as coisas ficaram ainda mais estranhas.

• Astrônomos talvez enfim consigam solucionar o mistério da “megaestrutura alienígena”
• “Megaestrutura alienígena” pode ser só fragmentos de uma família de cometas

Um estudo ainda não publicado oficialmente foi divulgado no arXiv. Nele, o astrônomo Ben Montet da Caltech e Joshua Simon, do Carnegie Institute, descrevem os resultados de uma nova análise fotométrica da estrela, que foi vista pela primeira vez pela base de dados do telescópio da sonda Kepler.

Examinando cuidadosamente todas as imagens coletadas durante a campanha de observação da Kepler, Montet e Simon descobriram algo surpreendente: não são apenas as luzes da estrela que ocasionalmente diminuem em até 20%, mas todo o fluxo estelar tem sido reduzido ao longo de quatro anos.

Durante os primeiros mil dias da campanha do Kepler, a Estrela de Tabby diminuiu sua luminosidade em aproximadamente 0,34% por ano. E nos 200 dias seguintes a estrela ofuscou mais rapidamente, e seu fluxo estelar caiu 2% antes de estabilizar. No geral, a estrela ficou 3% mais opaca durante os quatro anos que a Kepler a observou – uma quantia enorme e inexplicável. Os astrônomos observaram outras 500 estrelas vizinhas e não viram nada parecido.

“A parte que realmente me surpreendeu foi o quão rápido e não linear tudo aconteceu,” disse Montet ao Gizmodo. “Nós passamos um bom tempo tentando nos convencer de que isso não era real. Mas não conseguíamos.”

estrela-de-tabby-fotometriaFotometria da KIC8462852 mensurada a partir dos dados do Kepler. As análises revelaram uma diminuição lenta e estável na luminosidade da estrela por cerca de 1000 dias, seguida de um período de declínio mais agressivo. Imagem: Montet & Simon 2016.

Essa não é a primeira vez que os especialistas apontam que a Estrela de Tabby está ficando mais opaca. No começo desse ano, Bradley Schaefer, da Universidade do Estado da Luisiana, decidiu examinar a estrela a partir de chapas fotográficas do céu do século 19. Ele descobriu que durante os últimos 100 anos, a emissão total de luz da estrela diminuiu em 19%. Porém, logo depois que ele publicou seu estudo, outros especialistas começaram a encontrar defeitos, afirmando que o ofuscamento observado era resultado de dados deficientes. Schaefer retrucou e as coisas ficaram um pouco feias.

A controvérsia sobre o trabalho de Schaefer foi justamente o que fez com que Montet observasse algumas tendências por outra pespectiva. “Nós percebemos que para resolver isso, você precisava ou de um parâmetro longo ou de dados de alta precisão,” disse Montet. “Kepler tem dados de alta precisão.” Ele disse ainda que a taxa de escurecimento que encontrou é duas vezes maior do que a de Schaefer, o que “é diferente, mas não necessariamente inconsistente.”

Jason Wright, astrônomo da Penn State que sugeriu que a Estrela de Tabby poderia ser uma megaestrutura alienígena, concordou que as novas análises vão de encontro com as afirmações de Schaefer. “O novo estudo afirma, e eu concordo, que não temos nenhum outro modelo realmente bom para esse tipo de comportamento,” disse. “Isso é animador!”

Keivan Stassun, um astrônomo da Vanderbilt que não havia concordado com a ideia de ofuscamento a longo prazo, disse que a Estrela de Tabby ainda carrega muitas dúvidas. “As novas descobertas [de Montet] sugerem que nenhum dos fenômenos considerados podem, sozinhos, explicar as observações” disse ao Gizmodo. “No final das contas, resolver esse quebra-cabeça talvez exija levar em consideração uma combinação de efeitos.”

Alguns das explicações mais críveis até agora incluem: uma família de cometas, o efeito de uma estrela distorcida ou os restos de um planeta estilhaçado. Algumas delas conseguem explicar o efeito de ofuscamento a longo prazo, enquanto outras explicam a cintilação a curto prazo, mas como Montet afirma “nada explica tudo muito bem.”

O que está claro é que não iremos resolver esse mistério enquanto não conseguirmos uma observação melhor da estrela, que é exatamente o que Tabby Boyajian – o astrônomo que a descobriu – está fazendo.

Depois de uma campanha de financiamento coletivo bem sucedida para se manter na Las Cumbres Observatory Global Telescope Network, Boyajian irá observar a estrela por um ano inteiro e espera vê-la cintilando. Se isso acontecer, outros telescópios pelo mundo serão alertados e mobilizados. E poderemos ver a estrela piscando pra gente através de todo o espectro eletromagnético, e aí quem sabe, conseguiremos decifrar a mensagem.

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