As invenções humanas modificaram o mundo ao ponto de até mesmo ser possível fazer viagens espaciais. Contudo, a humanidade tem descoberto as consequências de certos avanços, como por exemplo as mudanças climáticas.
Agora, um novo estudo patrocinado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês) encontrou mais um efeito negativo.
Em uma série de voos em altitudes elevadas sobre a região do Alasca e do Centro-Oeste dos EUA, pesquisadores descobriram que o lixo espacial tem depositado metais vaporizados na estratosfera, uma parte da atmosfera terrestre.
Um artigo relatando as descobertas foi publicado nas Atas da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
O que o experimento revelou
Primeiramente, os pesquisadores coletaram amostras de ar estratosférico durante os voos. Nelas, eles descobriram quantidades surpreendentes de 20 metais comumente usados em foguetes e satélites.
No total, os elementos de espaçonaves encontrados incluíam prata, ferro, chumbo, magnésio, titânio, berílio, cromo, níquel e zinco. Depois, uma investigação revelou que estes metais estão se acumulando em partículas de ácido sulfúrico, que constituem a maior parte da estratosfera.
Assim, influenciam a camada de ozônio, que fica localizada nesta parte da atmosfera terrestre.
Até agora, os metais se acumularam em cerca de 10% das partículas de ácido sulfúrico amostradas. No entanto, os pesquisadores previram que esse valor poderia aumentar para 50% ou mais nas próximas décadas, uma vez que há um aumento constante no número de lançamentos e satélites.
“Quando você tem potencialmente 50.000 satélites em órbita e eles têm uma vida útil de cinco anos, são 10.000 reentradas por ano – algo como 30 por dia. Isso é muito diferente da situação do passado, e isso é uma das coisas que está realmente mudando”, explicou Daniel Murphy, autor do estudo.
Antes disso, cientistas já sabiam que a atmosfera terrestre recebe entre 50 e 100 toneladas de poeira espacial a cada dia. Contudo, apenas recentemente eles descobriram que os detritos de missões no espaço podem até mesmo superar esses outros, que são de fonte natural.
Por exemplo, a maior parte do alumínio, cobre e lítio agora encontrados na estratosfera provém de detritos espaciais, segundo a NOAA.
O perigo à vida humana
De modo geral, os metais vaporizados estão ligados ao lixo espacial, que é aquele material de espaçonaves inativas que ficam no espaço. Dessa forma, pesquisadores acreditam que os resíduos metálicos se acumulam na estratosfera quando os detritos fazem o caminho de reentrada na atmosfera terrestre.
“O que estamos vendo é devido à reentrada de material – uma mistura de meteoros queimados e espaçonaves, que lentamente coagulam para formar partículas que se instalam na atmosfera”, diz ele.
De acordo com o estudo, os resultados não podem ser considerados parte da poluição de lançamentos de foguetes ou aeronaves.
Isso porque, ainda que deixem rastros ao passar pela estratosfera, neste momento eles produzem partículas com tamanhos e assinaturas químicas muito diferentes das encontradas.
Até o momento, a maioria dos cientistas que desenvolvem modelos de lixo espacial se concentrou em determinar se alguma peça é resistente o suficiente para ameaçar pessoas na superfície da Terra ao cair.
Portanto, os impactos finais dos metais vaporizados no clima da Terra ainda não estão claros. Para compreender melhor esse cenário, seria necessário o acesso às informações sobre materiais da estrutura de aeronaves e o acompanhamento do retorno do lixo espacial.