Ciência

Mudanças climáticas: cientistas acusam reuniões da COP de beneficiar países ricos

Estudo analisou 15 eventos da COPs e apontou que estrutura dificulta que países menores e sociedade civil expressem seus interesses
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Enquanto a COP 28 (28ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas) se aproxima e países se preparam para debates sobre ações de combate ao aquecimento global, pesquisadores divulgaram um novo estudo que analisa a estrutura do evento.

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Publicada na revista Critical Policy Studies, a pesquisa conclui que as COPs são organizadas de maneira que beneficia países mais ricos e maiores. E isso acontece de diferentes maneiras — desde a maneira como se posicionam estrategicamente até o número de representantes no evento.

Falta de representação

Para analisar a estrutura das COPs, os pesquisadores olharam para as últimas quinze edições do evento. Assim, observaram que países ricos conseguem enviar mais representantes, de forma que podem estar presentes em todas as sessões paralelas. 

Por exemplo, a China enviou 233 delegados à COP 15, que aconteceu na Dinamarca em 2009. Já o Haiti conseguiu levar apenas sete representantes neste mesmo ano. Dessa forma, países mais desenvolvidos conseguem ter mais influência nas decisões.

Além disso, a indústria de combustíveis fósseis está sendo mais participativa a cada ano. Na COP 27, as empresas dessa área enviaram 636 delegados. Ao mesmo tempo, a sociedade civil e grupos indígenas têm poucos representantes.

Apesar da indústria, dos indígenas e da sociedade civil não terem poder de voto, esse desequilíbrio dificulta que algumas partes construam alianças e apresentem opiniões. 

Dessa forma, as empresas produtoras de combustíveis fósseis ganham espaço para negociar com países que exportam petróleo, bloqueando decisões importantes para a contenção das mudanças climáticas.

Para Lina Lefstand, autora do estudo, isso evidencia que alguns grupos não são ouvidos ou representados. “A estrutura das COPs torna quase impossível para os países menores expressarem seus interesses, já que não conseguem estar presentes em todas as negociações paralelas”, disse.

Por isso, os pesquisadores propõem que a ONU (Organização das Nações Unidas), que coordena o evento, imponha um limite para o número de delegados que um país ou organização pode enviar. 

Apenas alterando a estrutura para permitir que a maioria das vozes seja ouvida, as negociações podem se tornar verdadeiramente justas”, completou Lefstad.

Radicais, Oportunistas, Hipócritas e Evasores

O estudo também classificou os países que participam da COP em quatro grupos diferentes, de acordo com suas alianças, estratégias e interesses individuais. Para os pesquisadores, pequenos estados insulares e a sociedade civil são Radicais. 

Isso porque lutam por mudanças realmente inovadoras para lidar com os efeitos das mudanças climáticas. Já os Oportunistas, como foram classificadas a Arábia Saudita e a Índia, reivindicam seu direito ao desenvolvimento econômico, se isentando da culpa das emissões de gases do efeito estufa.

Enquanto isso, países da União Europeia, Canadá e Noruega, classificados como Hipócritas, reconhecem seu papel mas fazem pouco para cumprir as promessas na prática. Por fim, o estudo classificou os Estados Unidos como Evasor, ou seja, um país que busca bloquear reivindicações de justiça climática.

Enquanto os Radicais, como pequenos estados insulares e a sociedade civil, lutam por mecanismos inovadores para lidar com os efeitos das mudanças climáticas, os Oportunistas, como Arábia Saudita e Índia, enquadram a justiça climática em torno da responsabilidade histórica e reivindicam seu direito ao desenvolvimento econômico.

Os Hipócritas, que incluem a União Europeia, Canadá e Noruega, reconhecem sua contribuição para as mudanças climáticas, mas até agora fizeram pouco para cumprir suas promessas. Finalmente, os Evasores buscam bloquear reivindicações de justiça feitas por outros, veem a ideia de equidade como muito prescritiva e incluem países como os EUA.

“Esses agrupamentos mostram como o conceito de justiça climática está sendo usado de maneira muito estratégica para os próprios fins dos países”, conclui Lefstad.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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