COP27: mundo tem 10 anos para reverter caminho até “inferno climático”
A humanidade tem apenas dez anos para se desviar de uma “estrada para o inferno climático”, alertou António Guterres, secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em discurso na COP27, na última segunda-feira (7).
“Nosso planeta está se aproximando rapidamente de pontos de inflexão que tornarão o caos climático irreversível”, disse aos líderes mundiais na abertura da principal conferência climática do mundo, que acontece no Egito. “Estamos em uma estrada para o inferno climático com o pé no acelerador”.
As afirmações de Guterres parecem fortes, mas estão longe de serem sensacionalistas. Pouco mudou desde a COP26 no cronograma de ações dos países mais ricos. Um avanço notável, porém, é que a pauta climática entrou oficialmente na agenda dos tomadores de decisão – mas ainda há muito a ser feito.
Segundo Guterres, o mundo enfrentará uma escolha difícil nos próximos dias de negociações: ou os países trabalharão juntos para fazer um “pacto histórico” e reduzir as emissões de gases de efeito estufa, ou logo estaremos diante de um “colapso climático”.
“Podemos assinar um pacto de solidariedade climática ou um pacto de suicídio coletivo”, afirmou o secretário-geral da ONU. O mundo, disse ele, tem as ferramentas necessárias para reduzir as emissões e apostar em energia limpa e tecnologias de baixo carbono.
“Uma janela de oportunidade permanece aberta, mas apenas um estreito raio de luz permanece. A luta climática global será vencida ou perdida nesta década crucial. Uma coisa é certa: quem desistir vai perder”, pontuou Guterres.
Começo lento
A COP27 começou devagar no último domingo (6). Negociadores ficaram mais de 40 horas discutindo os temas para a agenda. Ao final, decidiram incluir a polêmica de perdas e danos.
Trata-se da criação de um mecanismo financeiro pautado pelos países ricos para ajudar as nações mais pobres a lidar com as perdas e danos causados pelas mudanças climáticas. Na prática, são fundos para recuperação após desastres naturais, como furacões, inundações e secas.
O tema é polêmico porque responsabiliza os países desenvolvidos – ou seja, industrializados – pelos danos causados pelas mudanças climáticas em todo o mundo.
Enquanto esses países se beneficiam economicamente das emissões de dióxido de carbono, os países pobres têm dificuldade para se recuperar de desastres que aprofundam a fome e pobreza, por exemplo.
É improvável que as negociações da COP27 cheguem a um acordo final sobre o assunto. Há outras atenuantes: os países se reúnem durante a guerra na Ucrânia, que mudou a perspectiva global sobre o uso de combustíveis russos; uma crise mundial de energia e aumento do custo de vida na era pós-pandemia e em meio a crescentes tensões globais.
Ainda assim, a inclusão do tema na pauta já é um grande progresso. A partir desta quarta-feira (9), líderes mundiais entregarão o restante das negociações às autoridades e ministros da conferência.