Ciência

O que é microRNA e por que ele rendeu um Nobel para os EUA

A organização do Prêmio Nobel anunciou os vencedores, destacando a descoberta do microRNA como uma grande realização científica. Saiba o que é essa descoberta.

Anunciado na segunda-feira (7), o prêmio Nobel de Medicina foi para dois cientistas dos EUA pela descoberta do microRNA e seu papel na regulação genética.

A regulação dos genes é importante porque serve como um manual de instruções para a vida, determinando o funcionamento genético nas células. Além disso, o microRNA abriu as portas para o desenvolvimento de vários tratamentos contra doenças como câncer e diabetes.

Embora nenhum desses tratamentos tenham chegado aos pacientes – ainda –, a organização do Prêmio Nobel anunciou os vencedores, destacando a descoberta como uma grande realização científica.

O Comitê do Prêmio Nobel anunciando os vencedores. Imagem: YouTube/Reprodução

“A incrível descoberta do microRNA revelou um princípio completamente novo da regulação genética que se tornou essencial para organismos multicelulares, incluindo humanos”, disse o júri ao entregar o prêmio Nobel aos cientistas norte-americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun.

Ambros e Ruvkun descobriram o microRNA no início dos anos 1990, por acidente. A descoberta possibilitou a manipulação de quais genes são ativados ou reprimidos em células.

Mas, afinal, o que é microRNA?

O conjunto de instruções de cada célula do corpo humano é chamado DNA. Algumas instruções geram cérebros enquanto outras se tornam músculos.

O manual de instruções é, portanto, chamado de regulação genética, ou regulação da expressão gênica, que informa o que as células devem se tornar.

Esquema mostra o funcionamento do microRNA nas células. Imagem: The Nobel Committee for Physiology or Medicine/Divulgação

O ácido ribonucleico, conhecido pela sigla RNA do seu nome em inglês – enquanto o DNA é o ácido desoxirribonucleico – é o mensageiro. Portanto, ele envia instruções do DNA para proteínas, sendo os elementos que formam a vida ao tornar as células em músculos ou cérebros.

Em um estudo em minhocas com genes mutantes, os ganhadores do Nobel de Medicina descobriram que o microRNA é o que permite as células realizarem seu complexo trabalho.

Ao analisar uma das mutações, os cientistas descobriram que o gene não era uma proteína, mas uma minúscula amostra de RNA, ou microRNA. Assim, os cientistas descobriram que o microRNA ligado ao RNA servia como uma “chave-inglesa” no processo de produção de proteína. No caso do gene mutante da minhoca, o microRNA bloqueava a produção de proteína, gerando o desenvolvimento anormal.

No entanto, a comunidade científica não deu muita bola para essa descoberta por se tratar de uma anomalia em minhocas, conforme a cerimônia do Prêmio Nobel destacou. A situação mudou quando Gary Ruvkun descobriu outro microRNA, em 2000.

Desta vez, esse microRNA também estava presente em ratos e outros animais, como os humanos. Desde então, cerca de mil microRNAs foram identificados em seres humanos.

Além disso, mesmo com o conhecimento sobre o tema ainda nos estágios iniciais, muitos estudos já revelaram a presença do microRNA em processos importantes que vão desde o desenvolvimento ao funcionamento básico de células.

Por isso, devido à forma como atua no organismo, acredita-se que o microRNA seja responsável pelo câncer e outras doenças.

“Sabemos por pesquisas genéticas que células e tecidos não se desenvolvem normalmente sem o microRNA. A regulação anormal feita pelo microRNA pode contribuir para o surgimento de cânceres e já encontramos exemplos em humanos do microRNA gerando condições como calvície e osteoporose. Desse modo, a pesquisa sobre o funcionamento do MicroRNA é fundamental para entender como os organismos se desenvolvem e como funcionam”, afirmou o comitê do Prêmio Nobel.

Pablo Nogueira

Pablo Nogueira

Jornalista e mineiro. Já escreveu sobre tecnologia, games e ciência no site Hardware.com.br e outros sites especializados, mas gosta mesmo de falar sobre os Beatles.

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