Ciência

Pela 1ª vez, cientistas descobrem neurônios responsáveis pela gula

Ativação de neurônios VGAT gerou busca por comida entre ratos; estudo foi liderado por pesquisador brasileiro
Imagem: cottonbro studio/ Pexels/ Reprodução

A gula, essa vontade de comer algo mesmo quando o estômago não clama de fome, não é algo aleatório. Na verdade, a culpa é de um grupo de células que ficam nas profundezas do cérebro e são responsáveis pelo comportamento de busca compulsiva por comida. 

Essa é a primeira vez que um estudo identifica qual a parte exata do organismo que é responsável pela gula. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Nature Communications.

Além de pesquisadores da UCLA (Universidade da California em Los Angeles), nos Estados Unidos, o estudo contou com um grupo de cientistas brasileiros, da UFABC (Universidade Federal do ABC). O líder dos experimentos foi o brasileiro Fernando Reis, da UCLA, e a pesquisa também contou com apoio financeiro da FAPESP.

Controle da gula

De acordo com o estudo, o controle da gula está em neurônios que ficam na região da base do cérebro. Ela é chamada de substância cinzenta periaquedutal. 

As células nervosas são conhecidas como células VGAT e transportam um neurotransmissor chamado GABA (ácido gama-aminobutírico). Este, por sua vez, exerce um papel crucial na regulação da atividade dos neurônios.

Entenda a pesquisa

Estudos anteriores demonstraram que a área área periaquedutal de ratos e humanos é parecida. Dessa forma, os cientistas utilizaram camundongos para uma série de experimentos com tecnologia optogenética.

Esse método consiste em tornar os neurônios sensíveis à luz para, dessa forma, poder ativá-los ou inibi-los. Contudo, para que isso fosse possível, os pesquisadores injetaram nas células nervosas um vírus com a proteína de sensibilidade à luz que obtiveram de uma alga.

Além disso, os ratos de laboratório também implante de fibra óptica. A ideia era que o material pudesse conduzir a luz aos neurônios infectados pelo vírus e, consequentemente, sensíveis à luminosidade.

“Desse modo, conseguimos que as células fiquem mais ou menos ativas de acordo com o comprimento de onda da luz emitida”, explicou Juliane Ikebara, coautora do estudo, à CNN.

Quando as células VGAT foram estimuladas, os animais passaram a buscar freneticamente por alimentos. Também comeram mais do que o normal, mesmo completamente saciados – algo parecido com a gula ou a compulsão alimentar. 

Em geral, eles estavam dispostos a superar obstáculos para alcançar alguma comida.Além disso, quando os neurônios específicos foram inibidos, os ratos comeram menos, mesmo com fome. 

Também durante a pesquisa, os cientistas observaram que os animais gostavam da estimulação das células VGAT, porque se aproximavam da caixa por onde isso acontecia. Os pesquisadores acreditam que isso possa ter relação com a sensação positiva da busca por comida.

Avanço na ciência

Agora, os cientistas querem compreender se o mesmo acontece nos cérebros humanos. Além disso, pretendem estudar se essa gula “estimulada” incita a busca por alimentos específicos, como aqueles ricos em proteínas e açúcares.

Por fim, os autores da pesquisa acreditam que as descobertas podem auxiliar a comunidade científica em futuros estudos e desenvolvimento de tratamentos para transtornos alimentares, como a anorexia ou a compulsão.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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