Pesquisa aponta que consumo de carne vermelha faz mais mal que bem à saúde
Carne vermelha faz mal à saúde? É provável que sim. Consumir mais carne aumenta o risco de doenças cardiovasculares – mas não só por causa do colesterol ou do aumento da pressão arterial. A constatação está em estudo liderado por pesquisadores da Universidade Tufts, de Massachussets, nos EUA, publicado no início de agosto.
Uma pesquisa realizada nos EUA traz evidências de que doenças causadas pela alta ingestão de carne, em especial a vermelha e processada, podem se originar nos metabólitos criados pelas nossas bactérias intestinais ao ingerirmos esses alimentos.
O estudo avaliou a saúde de cerca de 4.000 homens e mulheres idosos dos EUA por 12 anos. Os resultados mostraram que o maior consumo de carne está, sim, associado a um maior risco de cardiopatias isquêmicas – ou seja, quando há obstrução dos vasos que levam sangue para o coração por causa do acúmulo de placas de colesterol.
Segundo a pesquisa, o risco é 22% maior a cada porção de carne ingerida por dia. Mas há um condicionante: quase 10% do risco elevado pode ser explicado pelo aumento dos níveis de 3 metabólitos produzidos pelas bactérias intestinais a partir de nutrientes abundantes na carne.
Ou seja, o risco é maior não só pela carne em si, mas pela resposta do nosso corpo quando ingerimos esse tipo de alimento. “Encontramos maior risco e interligações com metabólitos bacterianos intestinais na carne vermelha que em outras proteínas”, diz o artigo. O estudo não encontrou os mesmos efeitos em ovos e carnes de aves ou peixes.
“As interações entre a carne vermelha, nosso microbioma intestinal e os metabólitos bioativos que eles geram parecem ser um caminho importante para o risco”, disse Meng Wang, pesquisadora da Friedman School, escola de nutrição da Universidade Tufts.
Mais que colesterol
O risco de doenças cardíacas associadas à ingestão de carne também apresentou relação com o aumento dos níveis de glicose e insulina no sangue. Nas carnes processadas, a relação foi maior por inflamação sistêmica – e não por pressão arterial ou altos níveis de colesterol no sangue, mostrou o estudo.
Por isso, a pesquisa concluiu que há três “caminhos principais” antes do colesterol ou pressão arterial para explicar a ligação entre a carne vermelha e processada e doenças cardiovasculares. São elas:
- Metabólitos relacionados ao microbioma. Um exemplo é o metabólito TMAO (ou óxido de trimetilamina), que é armazenado nas células ou eliminado pelos rins.
- Níveis de glicose no sangue
- Inflamação generalizada
“Isso sugere que, ao escolher alimentos de origem animal, é menos importante focar nas diferenças de gordura total, saturada ou colesterol”, disse o coautor do estudo, Dariush Mozaffarian. “O mais importante, nesses casos, é entender melhor os efeitos sobre a saúde de outros componentes nesses alimentos, como o ferro heme e L-carnitina”.
Ainda assim, é cedo para animação. A pesquisa deixa claro que são necessários mais estudos para determinar se os resultados são generalizáveis entre idades e países. Além disso, os entrevistados relataram seus próprios hábitos alimentares – e, por isso, podem não provar causa e efeito.
Enquanto isso não acontece, o estudo orienta: equilíbrio é essencial. Dormir bem, não fumar, fazer exercícios e combinar uma dieta balanceada, com frutas e vegerais, ainda são atores importantes para evitar doenças no coração.